Certas músicas se tornam marcantes, por acontecer em tempos também marcantes em nossas vidas. A música San Francisco de Scott Mackenzie me remete ao ano 2000, quando, tomado pelo calor que motivava os sonhos de todos os sonhadores do meu lugar nesta época, resolvi jogar tudo o que tinha e buscar novos horizontes nas terras portuguesas.
E assim aconteceu, nos meados de fevereiro de 2000, eu e outro sonhador meu camarada e amigo José Darci, embarcamos num avião da empresa espanhola Ibéria e partimos com destino à distante capital do homem português.
Meu objetivo? Ganhar o dinheiro que nunca ganhei na minha terra mãe, o Brasil.
Porém, o que minha mente e minha emoção aventureira não contavam eram com as reações da ação mais insensata até então de toda minha vida. E somente lá, distante de tudo o que tinha de mais precioso foi que travei conhecimento com a crueza da solidão e da saudade. Na terra de Fernando Pessoa, eu, desvalido, desprotegido e ilegal foi que aprendi o quão valioso é aquilo que de fato me pertence. Em Portugal, em meio a uma multidão de estrangeiros, porém sozinho, foi que tive a certeza que o Brasil é o melhor país do mundo.
Uma saudade imensa varreu a minha alma, saudade de tudo que é meu, de tudo que me identifico, saudades de minha mãe, do meu velho pai e de todos e tudo que aqui deixei.
E durante todo este tempo, neste aprendizado inesquecível, uma música me acompanhava vinda dos carros, dos estabelecimentos e das tantas ruas da velha Lisboa ou das estações do comboio entre Cascais a Cais do Sodré. Não foram os fados melancólicos de Amália Rodrigues que embalavam minha incontida saudade, mas, Scott Mackenzie com San Francisco.
Nos inéditos, imprevisíveis e únicos momentos vividos naquela terra, esta música esteve quase sempre presente.
No dia do meu retorno para o Brasil, viajei sozinho, eu estava eufórico, pois voltava para o meu país e para tudo que me fazia falta. Em determinado momento da viagem, sobrevoando não sei que ponto do imenso oceano atlântico, percebi que havia no encosto da poltrona, um fone de ouvido onde se quisesse, poderia ouvir alguma música. Pois bem, coloquei o fone e para minha surpresa a música que soava era exatamente, San Francisco de Scott Mackenzie.
Portanto, definitivamente, não são os carimbós, nem os fados, nem mesmo o vira de Roberto Leal, que me faz recordar meu tempo em Portugal, mas, a melancolia externada por Mackenzie nesta música, mesclando-se à minha saudade no meu tempo de clandestinidade na terra de Cabral.
Viva o Brasil.
Não é para aceitar este comentário
ResponderExcluirVc é demais.
Quando leio seus textos, meu coração as vezes fica triste, mas ao mesmo tempo, a tristeza faz as lágrimas sairem, o confuso é que são de felicidade. Não sei se dou risada, se penso na vida, simplismente não sei explicar. Seus textos mexem muito comigo.Deve ser por isso que te adoro.
DEPOIS DO COMENTÁRIO ACIMA DIZER O QUE?
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