sábado, 9 de abril de 2011

Cerimônia do adeus?



Por Maurício Dias

Há muito tempo um discurso não criava tamanha expectativa no Congresso como criou a fala inaugural de Aécio Neves na tribuna do Senado. O ex-governador mineiro, 51 anos, tornou-se a esperança de criação de um ponto aglutinador para a oposição. Aécio foi brindado com elogios protocolarmente inexpressivos dos aliados oposicionistas e dos adversários governistas.

Mas esse coro de congratulações traduziu mais rejeição ao tucano paulista José Serra do que propriamente uma adesão ao comando de Aécio. Mesmo assim, a longa sessão transmitida na íntegra pela TV Senado e replicada nos telejornais da noite de quarta-feira 6 ganhou o sabor de cerimônia de adeus às pretensões do ex-governador paulista em relação às ambições que ele guarda pelas eleições presidenciais de 2014. Se puder, fará uma terceira tentativa apoiado no argumento, discutível, de que puxou 45 milhões de votos no segundo turno.

Serra, por sinal, estava presente à sessão. Fingiu-se de morto e pôde conferir de perto quem se apresentou naquele pretendido enterro político dele. Ficou o tempo todo cochichando com o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, de São Paulo. Foi citado duas vezes por Aécio, que ganhou um elogio do petista Lindberg Farias, envolvido em aparte de sutil ironia: “Vossa Excelência é o futuro. Vai liderar essa oposição… Por muitos anos”.

A insinuação, embora inteligente, é precipitada. Serra, como qualquer político, não se aposenta voluntariamente. Getúlio foi tirado do poder em 1945 pelos militares. Voltou cinco anos depois como presidente eleito pelo voto popular. Jânio Quadros renunciou à Presidência e, posteriormente, se elegeu prefeito de São Paulo derrotando Fernando Henrique Cardoso. Um resultado que levou muita gente a prenunciar a morte política de FHC. Alckmin parecia carta fora do baralho com a derrota para a Presidência em 2006. E, por fim, Lula perdeu a disputa para a Presidência por três vezes. Após a segunda derrota houve setores do PT que pretenderam lançar Tarso Genro. Lula perdeu na terceira e ganhou na quarta tentativa.

A política, no caso de Serra, é vocação essencialmente. Embora tenha sofrido uma segunda derrota na disputa para a Presidência, ele transita pela política e ambiciona disputar a presidência do PSDB contra Sérgio Guerra, que quer ficar no posto. Continua a travar uma luta interna com Aécio Neves.

Aécio vive, no momento, um apogeu. Ele permaneceu na tribuna por mais de cinco horas em razão das dezenas de apartes que concedeu. O discurso dele teve, exatamente, 3.321 palavras e, como anotou o publicitário carioca Hayle Gadelha, a palavra que mais usou foi “oposição”: 11 vezes. Seguiram-se “ética” (sete vezes) e “Minas” e “mineiro” (cinco vezes). Citou oito políticos e, como lembrou Gadelha, cometeu um erro capital nas homenagens que prestou: não fez menção ao mineiro José Alencar, ex-vice-presidente da República, falecido recentemente.

O discurso de Aécio consolida dois pontos. De um lado fica provado que ele se apresentou como novo líder da oposição e, para isso, exibiu seus dotes de bom articulador político.
Por outro lado, a fala dele mostra que a oratória parece ser mesmo uma arte agonizante. Dificilmente um discurso lido, como fez Aécio, empolga os ouvintes. E, como ensinam os manuais, ele pecou pela falta de emoção.

Nota: Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital.

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