segunda-feira, 20 de junho de 2011

Eu o Supremo - de Augusto Roa Bastos.


José Gaspar Rodríguez de Francia governou o Paraguai com mão-de-ferro, durante 27 anos, até a sua morte, em 20 de setembro de 1840. Em seu governo o país, a primeira República da América do Sul, experimentou um crescimento econômico invejável. Tributário da Revolução Francesa, El Supremo, Ditador Perpétuo, como se intitulava, Rodríguez de Francia, o Dr. Francia, acabou com os privilégios da aristocracia, distribuiu terras para os camponeses, incentivou a agricultura e a industrialização, tornou obrigatório o ensino médio, conseguindo acabar com o analfabetismo em seus país, – isso no começo do Século 19 – perseguiu os jesuítas e proibiu a Inquisição. 
Avançadas no tempo, suas reformas econômicas e administrativas transformaram o Paraguai na grande potência latino-americana de sua época, resguardada por um poderoso exército. Ao contrário do Brasil, da Argentina e do Uruguai, subservientes aos interesses da Inglaterra (a maior potência mundial do período), desafiou as nações poderosas, chegando ao ponto de proibir as imigrações. Por tal ousadia, pagou deliberadamente o preço do isolacionismo. 
Quase três décadas após a morte do ditador, o país seria literalmente arrasado pela Tríplice Aliança, na guerra genocida que uniu brasileiros, argentinos e uruguaios contra os paraguaios. José Gaspar Rodríguez de Francia é o personagem principal de um dos maiores romances da América Latina, Eu o Supremo, do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005). Emerge das páginas do romance um homem que, como um Moisés na Terra Prometida do Novo Mundo,chamou para si próprio, num impulso quase místico e megalômano, a responsabilidade de conduzir seu povo para um futuro de glória, redenção, independência e orgulho pátrio, mesmo ao custo de passar as armas os opositores do regime. 
Filho de um brasileiro, Dr. Francia formou-se em filosofia e teologia e ganhou respeito como intelectual. Foi também um político ilustrado, leitor de Cícero, Dante, Voltaire, Rousseau, Montesquieu e, claro, Maquiavel. É irretocável, seu perfil, escrito em primeiro pessoa por Roa Bastos, como se extraído das próprias memórias do Ditador Perpétuo, cargo que induziu o Congresso a outorgá-lo em 1814 e do qual, plenipotenciário, desfrutou até a morte. 
O romance foi definido pelo escritor Antonio Callado como “uma autobiografia escrita por outra pessoa” e “provavelmente o melhor livro da literatura paraguaia”. O talhe de estadista dos trópicos de Rodríguez de Francia impressionou o inglês Thomas Carlyle que, em 1844, quatro anos após a morte do ditador, escreveu o ensaio “Dr. Francia” em que não esconde a admiração por um personagem que enfrentou, com coragem e altivez, o seu império colonialista da Inglaterra. A mesma admiração que, muitos anos depois, inspirou o brasileiro Callado a escrever (na orelha da edição brasileira de Eu o Supremo – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. Trad. Galeno de Freitas): “Francia, fundador do Paraguai, é realmente uma figura de estadista de molde tão incomum que, se imaginássemos outros Francias em mais três ou quatro de ‘nuestros países’, poderíamos imaginar uma América Latina bem diferente do que é, bem mais forte a seu modo, bem mais inventiva e original. Francia não queria que o Paraguai se parecesse com a Espanha, ou com a França, ou com a Inglaterra. Ele queria criar uma outra espécie de civilização nestas plagas. O Paraguai dos seus sonhos – e das suas realizações – era auto-suficiente, desconfiado em relação às grandes potências, altivo, acreditando firmemente na sua capacidade de criar algo novo”. 

Fonte http://eliesercesar.wordpress.com/2011/01/27/supremo-ditador-em-eu-o-supremo-augusto-roa-bastos-faz-uma-autobiografia-alheia-ao-escrever-as-memorias-de-jose-gaspar-rodriguez-de-francia-emblematico-ditador-paraguaio/

Um comentário:

  1. gostei de encontrar um blog que fale de roa bastos! não sei qual é sua relação com o paraguai, mas eu já estive lá várias vezes, e sou um leitor de roa bastos há muito tempo. dá uma olhadinha: http://caldosdecana.blogspot.com/2011/01/jesus-tavarangue-y-santa-cruz-de-la.html um abraço!

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