domingo, 29 de julho de 2012

Brasí Caboco

Zé da Luz
O qui é Brasí Caboco? 
É um Brasi diferente 
do Brasí das capitá. 
É um Brasi brasilêro, 
sem mistura de instrangero, 
um Brasi nacioná! 

É o Brasi qui não veste 
liforme de gazimira, 
camisa de peito duro, 
com butuadura de ouro... 
Brasi caboco só veste, 
camisa grossa de lista, 
carça de brim da “polista” 
gibão e chapéu de coro! 


Brasi caboco num come 
assentado nos banquete, 
misturado cum os home 
de casaca e anelão... 
Brasi caboco só come 
o bode seco, o feijão, 
e as veiz uma panelada, 
um pirão de carne verde, 
nos dias da inleição 
quando vai servi de iscada 
prus home de posição. 


Brasi caboco num sabe 
falá ingrês nem francês, 
munto meno o português 
qui os outros fala imprestado... 
Brasi caboco num inscreve; 
munto má assina o nome 
pra votar pru mode os home 
Sê gunverno e diputado 


Mas porém. Brasi caboco, 
é um Brasi brasileiro, 
sem mistura de instrangero 
Um Brasi nacioná! 


É o Brasi sertanejo 
dos coco, das imbolada, 
dos samba, dos vialejo, 
zabumba e caracaxá! 


É o Brasi das vaquejada, 
do aboio dos vaquero, 
do arranco das boiada 
nos fechado ou tabulero! 


É o Brasi das caboca 
qui tem os óio feiticero, 
qui tem a boca incarnada, 
como fruta de cardoro 
quando ela nasce alejada! 


É o Brasi das promessa 
nas noite de São João! 
dos carro de boi cantano 
pela boca dos cocão. 


É o Brasi das caboca 
qui cum sabença gunverna, 
vinte e cinco pá-de-birro 
cum a munfada entre as perna! 


Brasi das briga de galo! 
do jogo de “sôco-tôco”! 
É o Brasi dos caboco 
amansadô de cavalo! 
É o Brasi dos cantadô, 
desses caboco afamado, 
qui nos verso improvisado, 
sirrindo, cantáro o amô; 
cantando choraro as mágua: 
Brasi de Pelino Guedes, 
de Inácio da Catingueira, 
de Umbelino do Texera 
e Romano de Mãe-d’água! 


É o Brasi das caboca, 
qui de noite se dibruça, 
machucando o peito virge 
no batente das jinela... 
Vendo, os caboco pachola 
qui geme, chora e soluça 
nas cordas de uma viola, 
ruendo paxão pru ela! 


É esse o Brasi caboco. 
Um Brasi bem brasilero, 
sem mistura de instrangêro 
Um Brasía nacioná! 


Brasi, qui foi, eu tô certo 
argum dia discuberto, 
pru Pêdo Arves Cabrá.



"Severino de Andrade Silva (Itabaiana, 1904 — Rio de Janeiro, 12 de fevereiro de 1965), mais conhecido como Zé da Luz, foi um alfaiate de profissão e poeta popular brasileiro.
Publicava suas obras em forma de literatura de cordel". (Wikipédia)

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