segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Negros, estrangeiros: : os escravos libertos e sua volta à África

No Uma outra Opinião


Livro: Negros, estrangeiros: os escravos libertos e sua volta à África
Autora: Manuela Carneiro da Cunha

A nova edição, revista e ampliada, de Negros, estrangeirosretoma um clássico sobre a história dos libertos no Brasil e das relações Brasil-África no século XIX, bem como uma atualíssima discussão antropológica sobre o conceito de identidade étnica. A primeira edição, de 1985, foi pioneira na análise das histórias de liberdade durante o período da escravidão e fundamental nos estudos da presença brasileira na costa ocidental africana, constituída por comunidades de libertos que haviam retornado. Tratou-se igualmente de um marco nos estudos sobre a alforria e a situação daqueles que, uma vez superada a escravidão, enfrentavam os limites que a sociedade impunha ao exercício da liberdade alcançada.

O grande tema buscado pela autora, e encontrado nas histórias de libertos que voltaram para a África, é o da construção das identidades étnicas e o papel da cultura nesse processo. Ao debruçar-se sobre as trajetórias de africanos que, uma vez libertos e de volta ao seu continente de origem no século XIX, passaram a identificar-se como brasileiros, procurando manter o português como sua língua e o catolicismo como sua religião, além do calendário litúrgico-festivo brasileiro, Manuela deslinda um rico e complexo sistema de formação de identidade étnica. Demonstra que essa criação não pode ser entendida fora de seu contexto histórico e das relações dos grupos que criam essa identidade com outros sujeitos sociais. E o faz com base em cuidadosa pesquisa com utilização de fontes de época, além de entrevistas com descendentes da comunidade de brasileiros na Nigéria.

O livro foi em muito enriquecido pela inclusão de belas imagens de época feitas no Brasil e na África, além de fotografias de Pierre Verger e da coleção pessoal da autora, referentes à comunidade de brasileiros na Nigéria no século XX. Como ela própria reconhece, não atualizou a bibliografia, que teve nas últimas décadas obras como as de João José Reis e Milton Guran, além de Alberto da Costa e Silva. Ainda assim, as ausências não comprometem a atualidade da abordagem e as questões que desperta, e toda sua densidade se traduz numa linguagem acessível agradável.

Mônica Lima e Souza
Professora do Instituto de História da UFRJ e coordenadora do Laboratório de Estudos Africanos

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