sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

As mulheres-homem da Albânia



Elas trocaram os cabelos longos, vestidos e a possibilidade da maternidade por calças longas, cabelos curtos e um rifle. As virgens juramentadas da Albânia tornaram-se patriarcas de suas famílias para conseguirem sobreviver em uma região extremamente pobre, flagelada pela guerra e regida por valores machistas.


A necessidade da troca de identidade veio com o papel severamente restrito das mulheres na sociedade. Elas apenas tinham o direito de tomar conta das crianças e do lar e caso o chefe de família morresse sem deixar herdeiros masculinos, as mulheres casadas da família, automaticamente, estavam desprotegidas, sozinhas e sem nenhuma autonomia.


Ao fazerem o voto de virgindade, estas mulheres poderiam assumir o papel masculino como chefes de família, ser proprietárias, portar armas e locomoverem-se livremente.


Esta tradição de necessidade remonta ao Kanum, um código de conduta que foi passado verbalmente entre os clãs do norte da Albânia durante mais de 5 séculos, que regulamenta os crimes de sangue.


Atualmente, ainda existem cerca de 20 mulheres que vivem como homens. É o caso de Qamile Stema, que passou a chamar-se Qamil. A filha menor entre oito irmãs jurou, há quase 8 décadas, que nunca se casaria e que permaneceria virgem até o fim de sua vida. A decisão, por livre e espontânea vontade, veio depois que seu pai foi assassinado. Para não perder o direito de ter a chance de zelar por sua família, Qamil transformou-se em homem e fez com que seu sobrinho matasse a pessoa que tirou a vida de seu pai. Um tempo depois, seu sobrinho foi morto. 


Qamil diz que não se arrepende de um dia ter tomado o partido de tomar conta de sua família, e lembra das longas conversas entre fumaça de fumo picado em companhia dos homens, de quando levava as cabras para pastar, da temporada de produção de raki (aguardente), nas orações com os homens nas sextas-feiras na mesquita. Momentos que nunca poderia ter vivenciado sendo uma mulher.


Hoje em dia as mulheres da Albânia conquistaram uma igualdade social e vivem normalmente sem a necessidade de se transformarem em virgens juramentadas.

*Todas as fotos por Jill Peters

Fonte: http://www.ideafixa.com/virgens-juramentadas

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