terça-feira, 14 de maio de 2013

Preso o fundador da Igreja Niubingui Etíope Copta de Sião do Brasil - igreja rastafari, religião que pratica o uso ritual da maconha.


Ras Geraldinho condenado – a lei é ruim, o judiciário pior. 

Ontem saiu a sentença de Ras Geraldinho, que estava sendo acusado de tráfico em Americana, interior de São Paulo. Ontem, o juiz o condenou a 14 anos e 2 meses de prisão, além de confiscar o imóvel em que vivia. Tráfico e formação de quadrilha, com aumento de pena por envolver adolescente com “diminuída capacidade de entendimento”.

Um absurdo completo.

Geraldinho ficou famoso por fundar a Primeira Niubingui Etíope Copta de Sião do Brasil, uma igreja rastafari, religião que pratica o uso ritual da maconha. Era um caso inédito no Brasil de uso religioso da erva, algo previsto e permitido pela lei – o uso ritual da ayauhasca em rituais do Santo Daime, por exemplo, é considerado legítimo. Ele plantava Cannabis no terreno e diversas pessoas apareciam em sua casa para fumar com ele. Para a promotoria, ele não passava de um traficante.

Nossa lei de drogas é ruim, com certeza. Mas nossos juízes são piores ainda, ao interpretá-la sem o menor bom senso.

Suponhamos que Ras Geraldinho realmente não tinha uma igreja. E que sua “religião” fosse apenas uma desculpa para fumar maconha mesmo. Suponhamos que algumas das pessoas que iam a seu “templo” de fato ganhassem alguma “presença” – uma pequana quantidade da maconha que ele plantava no jardim. E suponhamos que algum adolescente usuário de maconha tenha entrado lá para fumar com ele.

Neste caso, quando se leva a lei ao pé da letra, ele estava traficando, porque lá diz que plantar droga proscrita sem autorização é tráfico. E formava quadrilha porque, em vez de fumar sozinho, reunia outras pessoas em torno da sua religião.

Agora, que sentido faz condenar uma pessoa a 14 anos em regime fechado uma pessoa que não cometeu nenhum tipo de crime violento? Que sentido faz chamar de quadrilha uma pessoa que, fora reunir amigos para fumar maconha, não tinha nenhum outro tipo de associação criminosa?

Não foi comprovada, nem levantada qualquer suspeita, nenhuma relação de Geraldinho com organizações criminosas de fato, com nenhuma facção ou coisa do tipo. É claro: Geraldinho plantava, justamente para não sustentar o tráfico.

Geraldinho era réu primário e não tinha armas. Na lei, isso é justificativa para reduzir a pena de um condenado por tráfico. Essa parte da lei o juiz preferiu não levar ao pé da letra.

E lá vamos nós pagar 14 de anos de cadeia para um cidadão pacato que não feriu nem roubou ninguém. É uma pena maior que a de homicídio, por exemplo. Lá vamos nós gastar mais de mil reais por mês, que é quanto custa, por baixo, um preso no Brasil, para nos protegermos dele. Vale a pena? Serve para alguma coisa? Alguma pessoa vai deixar de fumar maconha porque ele está preso? Duvido.

A história não acabou aqui, certamente. A igreja de Geraldinho teve bastante repercussão na imprensa, e provalvemente isso vai virar uma grande novela até chegar à segunda instância. Até lá, Geraldinho vai ser uma espécie de mártir para quem luta por uma lei de drogas mais justa e racional, que produza resultados positivos para a sociedade, em vez de factoides midiáticos e causas eleitoreiras.

Vamos torcer que o juiz de segunda instância tenha mais bom senso.

E enquanto isso, vamos assimilando o prejuízo de pagar prisão, polícia, promotoria pública e sistema judiciário para resolver “problemas” como esse. Certamente, em Americana há problemas mais importantes para a polícia e as autoridades cuidarem.

Vi no face do Pós-quim Uébi Zine - Via Almanaque das drogas http://almanaquedasdrogas.com/2013/05/14/ras-geraldinho-condenado-a-lei-e-ruim-o-judiciario-pior-o-que-voce-acha/

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