quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Em Paranavaí, presos em regime semiaberto mantinham relações com garotas de 12 anos

'A gente não desconfiou', diz mãe de adolescente estuprada por preso Famílias dizem que se sentiram humilhadas após a descoberta.


Luciane Cordeiro
Do G1 PR, em Paranavaí


As famílias das meninas de 12 anos que foram assediadas por presos em regime semiaberto em Paranavaí, na região noroeste do Paraná, afirmam que estão desesperadas e se sentindo humilhadas. A mãe da menina que confessou ter tido relações sexuais com um dos 16 presos que trabalhavam no Instituto das Águas do Paraná diz que até essa terça-feira (5) não tinha desconfiado que a filha se encontrava com um deles.

“Ela não é muito de conversar", só contou o que aconteceu mesmo na hora que o delegado perguntou. Há um mês ela estava se encontrando com o preso e há duas semanas teve a relação sexual com ele. A gente não desconfiou de nada. Estou em estado de choque”, diz.

O Ministério Público Federal (MPF)  investiga a denúncia sobre possíveis estupros de duas alunas de uma escola estadual que teria sido cometido por presos que estavam em regime semi-aberto. Em depoimento à polícia, uma delas confessou que teve relação sexual com um dos detentos e a outra afirmou que apenas tinha beijado um preso. Uma terceira menina também foi ouvida, mas, no depoimento, ela negou ter tido contato com os presidiários. De acordo com a lei, mesmo que a adolescente tenha conscentido a relação sexual, os suspeitos serão responsabilizados por estupro à vulnerável porque a menina é menor de 14 anos.

As duas meninas que tiveram contato com os presos realizaram o exame de corpo de delito na manhã desta quarta-feira (6). A mãe da menina que mantinha um relacionamento com um dos presos há um mês questiona a segurança do local e da região ao redor do colégio.“Ela não tem cabeça, não sabe o que é certo ou errado. Eu não entendo porque esses presos estavam soltos ao lado de uma escola, sem nenhuma segurança e nenhuma pessoa para vigiar”, questiona.

A mãe lembra que o mesmo grupo de presos estavam se relacionando com outras mulheres do bairro, no entanto não imaginava que os detentos assediavam as alunas da escola. “A minha filha disse que ele (preso) a buscava de moto na frente da escola e iam para um terreno baldio. Depois que eu soube disso peguei o celular dela e havia dezenas de mensagens trocadas. Eu nem sei mais o que pensar”, desabafa.

Ele (preso) ligou e pedia para ela faltar aula, que ela podia pular o muro para encontrar com ele do outro lado da rua" detalhou a mãe que denunciou os presos

O assédio dos presos a crianças e adolescentes de uma escola estadual foi descoberto após a mãe de outra menina  ter atendido a uma ligação de um dos detentos na segunda-feira (4). De acordo com essa mãe, ela e a filha estavam compartilhando o mesmo celular depois que o aparelho da menina foi roubado. 

Por isso, a filha passou o número para as amigas e uma delas repassou o número para um detento.  “Eu atendi a ligação e essa pessoa pediu por ela, então eu fiz que era a minha filha e ele (preso) começou a perguntar se ela era boazinha, se tinha irmão mais velho que a levava para a escola, como era a relação com os pais e que se concordasse em se encontrar com ele, o encontro seria muito carinhoso”, detalha a mãe que procurou a escola para denunciar o abuso.

Ainda segundo ela, na terça-feira pela manhã, a mesma pessoa voltou a ligar por duas vezes, em uma delas a patrulha escolar presenciou a ligação. “Ele (preso) ligou e pedia para ela faltar aula, que ela podia pular o muro da escola para encontrá-lo do outro lado da rua", acrescenta. "Estou destruída e com medo de deixar as minhas filhas irem para o colégio. Graças a Deus que não aconteceu nada com a minha filha, ela não chegou a se encontrar com ele como as outras duas. Mas não sei como estaria agora se não tivesse atendido aquela ligação”, declara.

As duas mães afirmaram ao G1 que a presença de homens estranhos estavam incomodando as crianças da escola há algum tempo. A filha mais velha de uma delas disse que alguns desses presos já tinham pulado o muro da escola durante os intervalos de aula e se misturado aos alunos. “Na segunda eu reuni a minha família e contei o que um homem tinha ligado e quis saber o que estava acontecendo. Foi então que a minha filha de 14 anos deu o alerta e pediu que eu procurasse a escola”, afirma a mãe que denunciou o abuso.

Os pais agora esperam por justiça e que a segurança seja reforçada no local. “A partir de agora as meninas só vão para escola acompanhadas pelo meu marido, não podemos mais achar que elas estarão seguras”, aponta a mãe da menina que se encontrava com o detento há um mês. “Não acredito que tirando os presos dali o problema será resolvido. Nós queremos que esses que cometeram o crime sejam julgados aqui em Paranavaí e que recebam as penas que merecem”, cobra a mãe denunciante.
Suspensão

A Secretaria da Justiça do Paraná (SEJU) informou que suspendeu o convênio que mantinha com o Instituto da Águas do Paraná em Paranavaí pelo período de 15 dias até que todas as irregularidades sejam apuradas.
Conforme a SEJU este foi um caso isolado e as parcerias com empresas cumprem a Lei de Execução Penal (LEP) e é uma oportunidade de promover a ressocialização dos presos

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