terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Rosa Luxemburgo defendeu a paz, contra a guerra imperialista


O ano de 2014 é um marco para a reflexão sobre a ameaça à existência humana que as guerras imperialistas representam. Há um século, teve início a 1ª Guerra Mundial, uma carnificina que colocou em trincheiras opostas jovens e trabalhadores a serviço dos lucros dos grandes monopólios de seus países. Na Alemanha, dois grandes revolucionários ousaram denunciar essa guerra e se recusaram a apoiá-la. Eram eles Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.

Por Socorro Gomes* e Thomaz de Toledo*

Rosa Luxemburgo (1907)
Rosa Luxemburgo teve grande destaque na luta pela paz, contra a guerra imperialista e o colonialismo. Por isto seu pensamento e seu exemplo de vida continuam atuais.

Em sua obra de 1900, intituladaReforma ou Revolução, Rosa destacou que a guerra foi um elemento determinante no desenvolvimento capitalista. No seu entendimento, o militarismo tornou-se indispensável para a burguesia por defender os interesses dessa classe contra seus concorrentes de outros países, constituir um campo privilegiado de investimento para o capital e ainda ser útil para assegurar o domínio de classe sobre o povo.

Isto continua a ocorrer nos tempos atuais. A gigantesca máquina de guerra estadunidense é mobilizada para defender os interesses do grande capital, a exemplo da indústria petrolífera que mais lucrou com a guerra no Iraque e na Líbia. Da mesma forma, o complexo militar-industrial é hoje um dos setores mais importantes da economia daquele país.

O entendimento de Rosa Luxemburgo acerca da conjuntura econômica e política mundial a fez prever, com 14 anos de antecedência, o caráter fatal de uma explosão iminente, que viria a ser a 1ª Guerra Mundial. Reconhecia que o militarismo, que se tornara o motor do desenvolvimento do capitalismo, transformara-se numa doença capitalista.

Como militante do Partido Social-Democrata Alemão, Rosa Luxemburgo passou a debater os rumos do movimento socialista internacional. Em 1907, aliou-se aos russos Lênin e Martov na 2ª Internacional para aprovar uma resolução de que as classes trabalhadoras e seus representantes parlamentares deveriam comprometer-se a impedir a eclosão da guerra e, caso o conflito irrompesse, deveriam aproveitar-se da situação de crise gerada para acelerar a eliminação do capitalismo.

Em 1913, Rosa publicou uma das suas mais importantes obras: A acumulação de capital. Neste livro, explicava que o imperialismo surgia para resolver o problema da reprodução ampliada do capital para os países capitalistas desenvolvidos. Considerava decisiva para o capital a incorporação de espaços naturais e sociais pré-capitalistas através da colonização. No seu modo de ver, os mercados externos eram indispensáveis para a realização da mais-valia nos países centrais. Via dessa forma o colonialismo como um tipo de saque e agressão aos povos subjugados. O militarismo era o resultado da concorrência interimperialista, que estreitava o vínculo entre o Estado e os interesses capitalistas, levando consequentemente à guerra entre os impérios.

Mais uma vez, seu pensamento parece claramente dialogar com o presente. A ofensiva francesa e estadunidense na África através da ocupação militar em áreas abundantes em recursos estratégicos, sob o batido pretexto de combater o terrorismo, visa de fato garantir o controle de tais riquezas. Nos dias atuais, apesar de alguns choques entre as potências imperialistas, a Otan procura conciliar tais interesses e age como máquina de guerra a serviço de seus intentos.

Para Rosa, a 1ª Guerra Mundial era, portanto, fruto da disputa interimperialista, que poderia levar a dois desfechos distintos: ao fim do capitalismo ou à regressão civilizatória da humanidade, o que ficou célebre em sua frase: “socialismo ou barbárie”.

Quando eclodiu a guerra, Rosa manteve suas posturas em favor da paz, o que a levou à prisão em 1914, sob a acusação de incitamento à desobediência civil. Defendia que os soldados abandonassem a guerra e retornassem aos seus países para iniciarem uma revolução socialista.

Rosa denunciava que por trás dos discursos nacionalistas a favor da guerra, o que realmente motivava o conflito eram os interesses das burguesias nacionais. Ressaltava que os combates, além de provocarem a destruição de países e povos, fragilizavam a organização dos trabalhadores e fomentavam o ódio entre eles. A guerra, portanto, desestruturava o fundamento da luta de classes, levando os trabalhadores do mundo a se autodestruírem em nome dos interesses de seus inimigos de classe.

Da mesma forma que naquele contexto, hoje os pretextos mais absurdos são evocados para se fazer a guerra. Seja a defesa dos Direitos Humanos, a imposição da democracia ou a remoção de um suposto ditador, apenas ocultam o que está por trás de fato: os interesses dos grandes grupos capitalistas de lucrarem com os conflitos armados e as potências envolvidas em redesenharem o mapa político dos países de modo a atender seus objetivos. 

Ao encerrar a 1ª Guerra Mundial, Rosa acusava as burguesias dos países de serem responsáveis pelo genocídio. Os meios de produção haviam sido destruídos, milhões de trabalhadores foram mortos, mutilados e retornavam aos seus países desesperançosos. Seus países se encontravam devastados e a crise econômica gerava desemprego e instabilidade social. As dívidas acumuladas com a guerra levavam as economias nacionais à inflação e à bancarrota financeira.

Em 1918, Rosa Luxemburgo foi libertada da prisão e junto com Karl Liebknecht liderou um movimento revolucionário que foi brutalmente reprimido. Ambos foram assassinados no ano seguinte.

O legado de Rosa Luxemburgo jamais poderá ser esquecido e sua militância em favor da unidade da classe trabalhadora e contra as guerras imperialistas servem de inspiração aos pacifistas e amantes da paz nos dias atuais. Hoje, o capitalismo encontra-se em uma crise de enormes proporções e por isto as potências imperialistas intensificam suas politicas militaristas e belicosas, bem como o saque aos recursos naturais dos povos e nações. Resgatar o pensamento e a biografia de Rosa Luxemburgo é, portanto, recuperar à memória uma luta que ainda não se encerrou, mas que deixou uma flor vermelha de esperança, uma rosa viva no jardim das grandes transformações sociais.

*Socorro Gomes é presidenta do Conselho Mundial da Paz e do Cebrapaz; Thomaz de Toledo é diretor do Cebrapaz

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