A reportagem é de Pâmela Oliveira e publicada pelo portal da revista Veja, 05-02-2014.
O adolescente cuja imagem ganhou as redes sociais no último
domingo prestou depoimento à delegada Monique Vidal, na 9ª DP (Catete) na noite
desta quarta-feira, e revelou os detalhes da madrugada vivida na calçada da
Avenida Rui Barbosa, um endereço nobre do Rio.
A delegada ficou sabendo a verdadeira idade da vítima: 15
anos, não 17, como acreditava a Polícia Civil até então.
Ele tem mãe e dois irmãos, de 12 e 9 anos, mas atualmente
pouco sabe da família. O pai morreu assassinado por ter envolvimento com o
tráfico de drogas.
Morador de uma favela do bairro de Campo Grande, na Zona
oeste, até dois anos atrás, o menor passou a perambular pelas ruas depois que
ficou marcado em sua região, por furtar uma furadeira elétrica de um vizinho.
Sem poder voltar para casa, ele perambula pelas ruas da Zona
Sul, tendo passado cinco vezes por abrigos da prefeitura desde novembro. O
rapaz negou ser usuário de drogas e admitiu ter participado “uma vez” de um
furto de uma motocicleta.
Assistentes sociais da Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social conseguiram localizar a avó paterna do garoto, em um
morro da cidade. Ela, no entanto, recusou-se a receber ou abrigar o neto.
O adolescente detalhou, em depoimento, seus passos na noite
de sexta-feira. Contou que seguia para Copacabana com três amigos, também
moradores de rua, para tomar “banho de mar”. Depois de passar pelo local onde
funciona uma academia ao ar livre, no Aterro do Flamengo, o grupo foi
perseguido pelos cerca de 30 jovens que estavam no local, alguns deles
motociclistas, segundo conta.
Um dos homens estava armado com uma pistola, disse. Dois dos
amigos moradores de rua escaparam. Com o rapaz que não conseguiu fugir, ele
passou a ser agredido e ameaçado. Em dado momento, o outro jovem também
escapou, e passou a ser ele o único em poder do grupo. Os homens o acusavam de
roubar bicicletas e praticar assaltos naquela região.
Os agressores aplicaram uma “banda” e ele foi ao chão.
Começaram, então, agressões com capacetes, pontapés e várias humilhações.
Acusado de roubos, ele acreditava que seria morto pelos jovens que descreveu
como “brancos e fortes” e “playboys”.
Depois do fim da sessão de agressões, ele foi atado ao
poste. O rapaz foi localizado e socorrido por alguns moradores do Flamengo –
entre eles a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, fundadora da ONG Projeto
Uerê, de educação infantil.
Depois de medicado, ele se desvencilhou e procurou ajuda em
um abrigo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social no Centro, onde
estava desde então, sem ser identificado.
Funcionários da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Social descreveram o jovem com um menino calado, pacato e muito querido pelas
assistentes sociais. Ao ser identificado pela diretora do abrigo, ele chorou
compulsivamente.
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