Juremir Machado da Silva
De um documento oficial: “O DOI/CODI de São Paulo deixou a herança de mais de 6.000 vítimas de prisão, todas talvez torturadas, e de mais de 60 mortes. Para esta ação, são considerados 64 casos descritos no relatório oficial da Presidência da República Direito à Verdade e à Memória. Esse relatório foi elaborado a partir da apreciação dos pedidos de reparação de danos formulados por familiares na forma da Lei n° 9.140/95. Consta ali o reconhecimento da prática de HOMICÍDIOS, DESAPARECIMENTOS e TORTURAS pelos agentes do DOI/CODI·SP, nos períodos de comando dos réus USTRA e MACIEL. Para dar a dimensão da gravidade dos fatos, apresenta-se, a seguir, a transcrição de alguns dos casos”.
Basta um caso para dizer tudo.
“SÔNIA MARIA DE MORAES ANGEL JONES
– Há duas versões para a morte de Sônia. A primeira, do primo do pai dela, coronel Canrobert Lopes da Costa, ex-comandante do DOI-CODI de Brasília e amigo pessoal do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-CODI de São Paulo: ‘Depois de presa, do DOICODI/SP foi mandada para o DOI-CODI/RJ, onde foi torturada, estuprada com um cassetete e mandada de volta a São Paulo, já exangue, onde recebeu dois tiros.
A segunda, do ex-sargento Marival Dias Chaves do canto, do DOI-CODI/SP, em entrevista concedida à revista Veja, em 18/11/1992. Segundo ele: ‘Antônio Carlos e Sônia foram presos no canal 1 em Santos, onde não houve qualquer tiroteio, e nem ao menos um tiro, apenas a violência dos agentes de segurança que conseguiram imobilizar o casal aos socos, pontapés e coronhadas. Eles foram torturados e assassinados com tiros no tórax, cabeça e ouvido (…) Foram levados para uma casa de tortura, na zona sul de São Paulo, onde ficaram de cinco a 10 dias até a morte, em 30 de novembro. Depois disso, seus corpos foram colocados à porta do DOI-CODI, para servir de exemplos, antes da montagem do teatrinho. Foram sepultados como indigentes no Cemitério de Perus, Sonia com nome falso. Ao final do Auto de Exibição e Apreensão do DOI-CODI, datado de 30/11/1973, porém, encontra-se a ressalva: ‘Em Tempo: Material encontrado em poder de Esmeralda Siqueira Aguiar, cujo nome verdadeiro é Sônia Maria Lopes de Moraes’”.
Ustra é um animal que vive solto.
Protegido pela Lei da Anistia.
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