sábado, 26 de abril de 2014

Comissão da Verdade suspeita de queima de arquivo em assassinato de ex-torturador da ditadura militar

Foto/Agência das letras
O coronel da reserva do Exército Paulo Malhães foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira (25) dentro de sua casa, em um sítio no bairro Marapicu, na zona rural de Nova Iguaçu (RJ), na Baixada Fluminense, informou reportagem do jornal O Globo. A suspeita da Comissão Nacional da Verdade (CNV) é de que houve uma queima de arquivo.
Militar da reserva, Malhães é o mesmo que, no mês passado, admitiu à Comissão Nacional da Verdade (CNV) o seu envolvimento em torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos durante a ditadura militar, incluindo o ex-deputado Rubens Paiva. Por conta do teor do conteúdo revelado pelo coronel é que repousa a dúvida sobre as causas do assassinato do militar.
“Pelo teor do que ele disse em seu depoimento à Comissão da Verdade, no mês passado, suspeito de queima de arquivo. Ele incomodou os seus companheiros, que devem estar com medo de que ele fale mais”, disse ao Brasil Post o advogado José Carlos Dias, membro da Comissão Nacional da Verdade e ex-ministro da Justiça.
Dias conversou também com o coordenador da CNV, Pedro Dallari, para decidir de que forma a comissão se posicionará, mas adiantou que pedirá que a Polícia Federal acompanhe o inquérito. "Além de queima de arquivo, isso pode ter sido um alerta para que outros que venham a depor na Comissão da Verdade não falem", completou Dias.
Ao Brasil Post, Dallari afirmou que já conversou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e solicitou que a Polícia Federal acompanhe as investigações sobre a morte do coronel. "É preciso saber se houve relação entre a morte e o depoimento dele à Comissão da Verdade", afirmou Dallari. Em comunicado, a CNV ponderou que "o crime e sua eventual relação com as revelações feitas por Malhães" precisam ser investigadas "com rigor e celeridade".
A posição que espera investigações rigorosas é a mesma do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, externada no Twitter.
O crime
Ao G1, a Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) – responsável pelo caso – informou que a casa do coronel de 76 anos foi invadida por volta das 13h desta quinta-feira (24) e, segundo a mulher do militar, Cristina Batista Malhães, ela e o caseiro teriam sido feitos reféns até as 22h do mesmo dia. Eles ficaram amarrados. Em depoimento à polícia, ela contou ainda que três homens teriam participado da ação e levaram ainda todas as armas do coronel.
Ao Brasil Post, a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que as investigações estão em andamento e que a perícia no sítio já foi realizada. Além da mulher de Malhães, o caseiro também foi ouvido e encaminhado para ajudar em um retrato-falado dos criminosos. A DHBF confirmou ainda o roubo de armas da coleção da vítima e computadores. Outros detalhes não podem ser revelado, segundo a assessoria, por se tratar de um homicídio em investigação. O delegado Fábio Salvadoretti afirmou ao G1 que o sítio não possui câmeras de segurança, que a mulher e o caseiro não reconheceram os criminosos, e que o corpo de Malhães foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Nova Iguaçu. Já a Polícia Civil diz estar buscando sim imagens de câmeras que possam auxiliar nos trabalhos.
Ao jornal Extra, Salvadoretti disse que o corpo apresentava apenas sinais de asfixia, sem marcas de tiros. “A princípio, ele foi morto por asfixia. O corpo estava deitado no chão do quarto, de bruços, com o rosto prensado a um travesseiro. Ao que tudo indica ele foi morto com a obstrução das vias aéreas”, comentou o delegado.
Depoimento polêmico à CNV
Paulo Malhães deu dois depoimentos no mês passado, um à Comissão Estadual da Verdade do Rio, e outro à Comissão Nacional da Verdade. Ele disse que atuou na Casa de Petrópolis, também chamada de Casa da Morte, que foi cedida por um empresário simpatizante dos militares e que funcionou na cidade serrana do Rio de Janeiro para torturas, mortes e desaparecimentos de presos políticos durante a ditadura.
O coronel da reserva ainda comentou, em um dos depoimentos, que participou do desaparecimento do corpo do ex-deputado Rubens Paiva, em 1971. Depois, reformulou o que havia dito, dizendo que não se lembrava da ação e de sua execução.

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