domingo, 20 de abril de 2014

COPA PERDE VOZ AUTÊNTICA DE GLÓRIAS E TRAGÉDIAS - Morre aos 66 anos o narrador Luciano do Valle


Com legado de transmissões memoráveis, entusiasmo a toda prova e criações bem sucedidas no esporte brasileiro, morte de Luciano do Valle tira da Copa do Mundo no Brasil voz querida de todo público; do futebol à fórmula indy, passando por basquete, vôlei, boxe e todos os esportes olímpicos, nos últimos 50 anos ele popularizou modalidades, definiu ídolos e consagrou nomes como Rainha Hortência, Magic Paula ou Adílson 'Maguila' Rodrigues; no futebol, entristeceu-se como todos na tragédia do Sarriá, quando o time de Telê Santana perdeu para a Itália de Paolo Rossi; Luciano era um narrador humano, um empresário de visão e um desportista eclético; um brasileiro nato

247 – A caminho do trabalho, uma voz autêntica deixou o Brasil, de repente, na tarde deste sábado 19. A 54 dias da abertura da Copa do Mundo, perdeu-se, com a morte do narrador, empresário e desportista Luciano do Valle, aos 70 anos de idade, um narradar capaz de amarrar as emoções de milhões pessoas sendo verdadeiro e emotivo, técnico e rigoroso, e não apenas envergando o molde da empolgação de merchandising.

Com 50 anos de conhecido de perto do público brasileiro, o profissional que sofreu embolia pulmonar e um enfarte fulminante a caminho de Uberlândia, para narrar o clássico Atlético-MG X Corinthians, era mais do que um narrador. Nesta função, liderou e inovou, mas também atravessou o campo para tornar-se empresário de corridas de kart a campeonatos de futebol de masters.

Nas duas iniciativas, em meados dos anos 1980, resgatou para o esporte a motor de alta competição ninguém menos que o bi-campeão de Fórmula-1 Emerson Fittipaldi. Em 1989, já chamado de Emo, Fittipaldi venceria, sob os gritos de Luciano, as míticas 500 milhas de Indianápolis. No plano do esporte com a bola entre craques consagrados, retirou do ostracismo heróis do naipe de Roberto Rivellino e Paulo Cesar Lima, o Caju. Era, como convém a um embaixador do esporte, amigo próximo do rei Pelé.

Patrono da chamada Geração de Prata, do vôlei masculino, nas Olimpíadas de 1984, Luciano levou a Rede Globo a acreditar no esporte olímpico – e auferir muitos pontos de audiência em razão da opção. Nas transmissões do basquete feminino, nos Jogos Panamericanos de Havana, em 1987, ele pregou para sempre na insuperável Hortência o epíteto de Rainha e na charmosa cestinha Paula o codinome de Magic. No Boxe, quem não se lembra de sua maior criação, o pugilista Adílson 'Maguila' Rodrigues, que chegou a ser campeão das Américas.

Antes, em 1982, Luciano transmitiu, com a emoção à flor da pele de sempre, a talvez a primeira tragédia do esporte brasileiro na era moderna, com transmissão ao vivo e a cores para todo o País - a tragédia do estádio Sarriá, na Espanha, onde o Brasil encantador de Telê Santana, Zico e Sócrates perdeu por 3 X 2, sempre atrás no placar, para a Itália de Paolo Rossi.

Sem o narrador na Copa do Mundo no Brasil, fica ausente uma referência de autenticidade e independência na transmissão e interpretação dos jogos de futebol. Luciano do Valle, que também, é claro, fazia muitos merchadisings, era talvez o único na televisão brasileira a não seguir o figurino aos moldes das camisas de força até hoje em voga da Rede Globo.

Diante do que muitos consideram uma certa empáfia de Galvão Bueno, o sucessor de Luciano na própria Globo que ainda não abriu passagem para quem vem de trás, o narrador da Rede Bandeirantes era humilde e reverente. Não tinha problemas em assumir seus erros ou, no ar, dar prioridade ao público em relação as mancadas técnicas da emissora. Ele tinha aquele humor interiorano que superava a etiqueta estabelecida. Já faz falta.

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