Com legado de transmissões memoráveis, entusiasmo a toda
prova e criações bem sucedidas no esporte brasileiro, morte de Luciano do Valle
tira da Copa do Mundo no Brasil voz querida de todo público; do futebol à
fórmula indy, passando por basquete, vôlei, boxe e todos os esportes olímpicos,
nos últimos 50 anos ele popularizou modalidades, definiu ídolos e consagrou
nomes como Rainha Hortência, Magic Paula ou Adílson 'Maguila' Rodrigues; no
futebol, entristeceu-se como todos na tragédia do Sarriá, quando o time de Telê
Santana perdeu para a Itália de Paolo Rossi; Luciano era um narrador humano, um
empresário de visão e um desportista eclético; um brasileiro nato
247 – A caminho do trabalho, uma voz autêntica deixou o
Brasil, de repente, na tarde deste sábado 19. A 54 dias da abertura da Copa do
Mundo, perdeu-se, com a morte do narrador, empresário e desportista Luciano do
Valle, aos 70 anos de idade, um narradar capaz de amarrar as emoções de milhões
pessoas sendo verdadeiro e emotivo, técnico e rigoroso, e não apenas envergando
o molde da empolgação de merchandising.
Com 50 anos de conhecido de perto do público brasileiro, o
profissional que sofreu embolia pulmonar e um enfarte fulminante a caminho de
Uberlândia, para narrar o clássico Atlético-MG X Corinthians, era mais do que
um narrador. Nesta função, liderou e inovou, mas também atravessou o campo para
tornar-se empresário de corridas de kart a campeonatos de futebol de masters.
Nas duas iniciativas, em meados dos anos 1980, resgatou para
o esporte a motor de alta competição ninguém menos que o bi-campeão de
Fórmula-1 Emerson Fittipaldi. Em 1989, já chamado de Emo, Fittipaldi venceria,
sob os gritos de Luciano, as míticas 500 milhas de Indianápolis. No plano do
esporte com a bola entre craques consagrados, retirou do ostracismo heróis do
naipe de Roberto Rivellino e Paulo Cesar Lima, o Caju. Era, como convém a um
embaixador do esporte, amigo próximo do rei Pelé.
Patrono da chamada Geração de Prata, do vôlei masculino, nas
Olimpíadas de 1984, Luciano levou a Rede Globo a acreditar no esporte olímpico
– e auferir muitos pontos de audiência em razão da opção. Nas transmissões do
basquete feminino, nos Jogos Panamericanos de Havana, em 1987, ele pregou para
sempre na insuperável Hortência o epíteto de Rainha e na charmosa cestinha
Paula o codinome de Magic. No Boxe, quem não se lembra de sua maior criação, o
pugilista Adílson 'Maguila' Rodrigues, que chegou a ser campeão das Américas.
Antes, em 1982, Luciano transmitiu, com a emoção à flor da
pele de sempre, a talvez a primeira tragédia do esporte brasileiro na era
moderna, com transmissão ao vivo e a cores para todo o País - a tragédia do
estádio Sarriá, na Espanha, onde o Brasil encantador de Telê Santana, Zico e
Sócrates perdeu por 3 X 2, sempre atrás no placar, para a Itália de Paolo
Rossi.
Sem o narrador na Copa do Mundo no Brasil, fica ausente uma
referência de autenticidade e independência na transmissão e interpretação dos
jogos de futebol. Luciano do Valle, que também, é claro, fazia muitos merchadisings,
era talvez o único na televisão brasileira a não seguir o figurino aos moldes
das camisas de força até hoje em voga da Rede Globo.
Diante do que muitos consideram uma certa empáfia de Galvão
Bueno, o sucessor de Luciano na própria Globo que ainda não abriu passagem para
quem vem de trás, o narrador da Rede Bandeirantes era humilde e reverente. Não
tinha problemas em assumir seus erros ou, no ar, dar prioridade ao público em
relação as mancadas técnicas da emissora. Ele tinha aquele humor interiorano
que superava a etiqueta estabelecida. Já faz falta.
Fonte A justiceira de esquerda
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