Os 30 anos do movimento conhecido como Diretas Já
(1983-1984), que levou a população brasileira às ruas de todo o país par a
reivindicar a volta das eleições diretas para presidente, recebeu homenagem com
sessão solene na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (7). A última eleição
antes desse período aconteceu em 1961, quando Jânio Quadros foi eleito.
A Emenda das Diretas Já, apresentada em 1983 pelo deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT), recebeu apoio popular, no começo de forma tímida e, depois, ampla. |
O movimento reuniu estudantes, artistas, sindicalistas,
artistas, atletas e políticos da oposição. A manifestação ocorrida em São
Paulo, no dia 25 de janeiro de 1984, levou mais de 1,5 milhão de pessoas ao
centro da capital paulista, em apoio ao movimento. Foi a maior manifestação
popular pela democracia já vista no país.
Idealizador da homenagem na Casa, o líder do PSB, deputado
Beto Albuquerque (RS), explica que o objetivo é prestar as devidas homenagens
ao maior movimento de participação popular do Brasil. "A Câmara rejeitou a
Emenda Constitucional das diretas. Assim mobilizou o povo que fez a democracia
ressurgir. É de baixo para cima que o Brasil avança e o Congresso pode rever
seus erros", argumentou Beto.
O deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que discursou na
sessão solene, destacou que a Câmara não podia deixar de rememorar o movimento
que teve a maior participação popular da história do nosso país e que marca a
trajetória da vida política institucional dos últimos 30 anos.
Sentimento patriótico
“Ver, ouvir e compartilhar a emoção transmitida por Milton
Gonçalves relembra o sentimento patriótico, cívico e cultural que reuniu todos
nós, impregnados de esperança, com o objetivo de vencer aquele período
ditatorial, autoritário, e apostar num país democrático, de homens e mulheres
livres”, disse o parlamentar, após a exibição do vídeo com imagens da época.
“E nós fomos vitoriosos; o Brasil, o povo brasileiro foi
vitorioso nesse processo político que está em construção permanente”, avalia
Daniel Almeida, para quem “o resultado desse movimento de rua foi o fim daquele
ciclo ditatorial. Nós não podemos imaginar as conquistas da Constituição de
1988, sem essa trajetória, sem esse acúmulo, sem a pressão das ruas e sem a
presença desses movimentos sociais no processo de construção, de elaboração da
nossa Constituição Cidadã”.
Daniel Almeida lembrou que a ditadura militar tentou impedir
que o movimento crescesse. E recordou também que o PCdoB, naquele momento ainda
na clandestinidade, constituiu uma Comissão Nacional em Defesa da Legalidade,
imaginando que não era possível defender a liberdade e a democracia sem
permitir que uma corrente política de opinião, de pensamento, pudesse estar na
rua livremente se expressando.
“Essa comissão em defesa da legalidade começou a visualizar
que era possível levantar a bandeira naqueles movimentos de rua que surgiam em
torno das Diretas. Começamos com uma bandeirinha, num primeiro evento. No final
desse processo, nos grandes comícios, a bandeira vermelha em defesa da
legalidade dos comunistas tinha uma força, uma presença muito expressiva”,
recordou Daniel, dizendo que ele foi um dos que carregou essas bandeiras.
História
A Emenda das Diretas Já, citada por Beto Almeida, foi
apresentada em 1983 pelo deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT). Assim que foi
apresentada, a Emenda Dante começou a receber apoio popular, no começo de forma
tímida e, depois, ampla.
Os protestos representavam a vontade popular pela redemocratização.
O país completava 20 anos de ditadura militar, regime que já dava sinais de
enfraquecimento. A inflação era alta e a recessão também. O surgimento de novos
partidos e o fortalecimento dos sindicatos contribuíram para reforçar a
oposição ao regime.
Após a derrota da emenda no Congresso, as eleições indiretas
pelo Colégio Eleitoral consagraram o candidato da oposição, o civil Tancredo
Neves, em 1985. Mas Tancredo morreu sem tomar posse. Na gestão de seu vice,
José Sarney, as eleições voltaram a ser diretas. Seu governo marcou o período
de transição democrática.
Em 1989, cinco anos após a rejeição da Emenda Dante de
Oliveira e um ano depois da Constituinte, Fernando Collor de Mello foi o
primeiro presidente eleito por voto direto em 30 anos.
De Brasília
Márcia Xavier
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