Uma reportagem do Estadão em que supostos integrantes do Black Bloc aparecem prometendo ataques contra a Copa numa aliança com o PCC está chacoalhando a internet neste final de semana.
Minha opinião sobre isso remete a Wellington: quem acredita nisso acredita em tudo.
Posso, é claro, estar errado. Mas que sentido haveria em integrantes do movimento Black Bloc abrir para o Estadão uma intenção que só vai lhes criar problemas?
Um ladrão avisa a hora em que pretende entrar numa casa?
Mais: alguém teria dúvida sobre as consequências calamitosas para a imagem dos black blocs ao se aliar ao PCC?
Ora, estupidez tem limites.
O que me chama a atenção, fora o absurdo do fato em si, é a maneira como a informação do Estadão foi tomada como verdade absoluta na internet.
Vários outros sites reproduziram a reportagem do Estadão. Dos que vi, nenhum se deu ao trabalho de escrever, ao menos, que a parceria entre o Black Bloc e o PCC era um fato segundo o Estadão.
Internautas emitiram comentários exaltados e furiosos tomando a reportagem como um muçulmano encara um trecho do Corão. Parece que somos uma nação de crédulos, prontos a engolir qualquer coisa que nos seja atirada sem questionamentos.
A história do jornalismo está repleta de fabricações de personagens e histórias incríveis. Como o jornalista pode alegar proteção da fonte, a invenção de coisas é algo relativamente simples.
Um episódio célebre, descoberto há dez anos, foi protagonizado por um jovem repórter do NY Times, Jayson Blair. Durante anos, soube-se, Blair inventou fontes e fingiu estar em lugares em que nunca estivera.
Curiosamente, o autor da reportagem sobre os black blocs, Lourival Sant’Anna, já esteve envolvido numa polêmica sobre a veracidade de textos seus. O empresário Nelson Tanure o acusou de forjar informações numa série de reportagens sobre negociações em torno da Varig.
(O caso terminou na Justiça: Tanure foi condenado a pagar 50 mil reais a Sant’Anna por difamação.)
Repito: pode até ser verdade, mas para que acreditemos nisso precisamos de evidências que vão além da palavra do autor.
Pessoalmente, não consigo levar a reportagem a sério, sobretudo pela burrice desumana que um black bloc teria que carregar para abrir planos secretos para um jornalista de um veículo como o Estadão.
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