quarta-feira, 16 de julho de 2014

O retrato da classe média — O coxinha sem revolução

Palavra Livre - Davis Sena Filho


O negócio é o seguinte, caros coxinhas de classe média e escribas da imprensa familiar e alienígena: a presidenta Dilma Rousseff, a respeito de ser acusada de usar a Copa como trampolim político, na verdade nunca procedeu dessa forma. Quem politizou o evento internacional e aproveitou para usá-lo de forma infame e desajuizada como arma eleitoreira foi o principal partido da direita brasileira, o PSDB, além dos magnatas bilionários do sistema midiático privado, a ter como replicadores de suas sandices e insanidades político-ideológicas a classe média coxinha, caucasiana, usuária há mais de século das universidades públicas.

A classe coxinha, a mesma que nunca viveu tão bem, no decorrer de 50 anos, e jamais consumiu tanto como observado nos últimos 12 anos. A classe que não é classe, mas que odeia o Brasil, ao tempo que adora os Estados Unidos e alguns países da Europa ocidental. A casta arrogante, portadora de rancor e de uma vocação destrutiva que deixaria um sadomasoquista com a impressão que seus problemas psíquicos e mentais são de uma desimportância real quando comparados com o complexo de vira-lata e a baixa estima dessa gente. Este é o retrato da classe média e dos coxinhas sem revolução.

Os coxinhas que acreditaram na imprensa de negócios privados quando seus trombeteiros da má-fé e da negatividade afirmavam que o Brasil é incompetente para realizar a Copa, pois os aeroportos são um “caos”, igualmente os transportes coletivos e as vias públicas. A pequena burguesia boca suja, mal educada e provinciana tal qual aos ricos da Casa Grande, que ela tanto admira e espera um dia participar de suas comezainas. Os herdeiros da golpista Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que também acreditaram que os modernos e belíssimos estádios brasileiros ficariam prontos para o mais importante torneio de futebol do planeta somente em 2038.

Quanta falta de discernimento e tanta obtusidade, meu Deus! Inacreditável que milhões de pessoas de classe média, de origem universitária e que nunca passaram fome na vida tenham capacidades cognitivas tão simplórias e superficiais, que as levam a perceber e interpretar os fatos, os acontecimentos e as realidades que se apresentam de forma tão distorcida e deturpada. Por serem assim, transformam-se em feras intolerantes e passam a vaiar, a xingar, a demonstrar todo tipo de preconceito, a exemplo do racial, do sexual, de gênero e o de classe, nas redes sociais, nos estádios e em outros logradouros públicos.

A classe média disseminadora contumaz dos princípios e valores da grande burguesia. Aliada ideológica da Casa Grande, não se faz de rogada e “apedreja” àqueles que ela considera inimigos de seu bem-estar material e social; e que, de acordo com ela, estão a infringir as crenças e “normas” de seu senso comum. Via de regra, considera como intrusos os que estão abaixo de seu status, além de possíveis violadores de sua zona de conforto, exemplificada e concretizada em suas pequenas conquistas, ao tempo que concedidas pelo establishment e retratadas como “seus” quinhões, a exemplo das universidades, dos shoppings, dos restaurantes e lanchonetes, dos aeroportos, dos clubes, das casas de shows, dos cinemas e até mesmo dos bairros e lugares públicos, como as praias, que, para quem não sabe, no Rio de Janeiro são divididas em trechos, de acordo com os grupos sociais, de maneira quase espontânea.

Essa classe média conservadora é possuidora de valores e pensamentos patrimonialistas. Confunde o público com o privado e considera normal, por exemplo, que policiais militares ou civis vigiem e guardem o patrimônio privado. Quando tal policial é baleado, ferido ou simplesmente morre, os coxinhas não sentem nada, pois sua ideologia o faz considerar “normal” o policial morrer, porque historicamente, no Brasil, os policiais são vistos como feitores, bate-paus, jagunços ou leões-de-chácara. Não estou a falar da oficialidade, mas, sim, de praças, geralmente negros ou brancos pobres, que pegam no pesado, inclusive a subir morros e rodar pelas periferias mais perigosas do País.

Na cabeça das classes médias tradicional, média alta e rica tais guardas do Estado estão aí para isso mesmo: cuidar do patrimônio privado e morrer, se não tiver jeito, sem comiseração ou sentimento de culpa. Sempre foi assim no Brasil: as guardas públicas cuidar do privado e do bem-estar e conforto dos que sempre se consideraram os supra-sumos da sociedade. É assim desde os tempos do Brasil colônia. Ponto! Por isto e por causa disto, vemos a classe média a ocupar estádios construídos para a Copa, sem ao menos questionar que ela foi contra tais edificações, bem como se aliou a uma das piores imprensas do mundo no que tange a escamotear a verdade, a manipular os fatos e a distorcer os acontecimentos. A resumir: a imprensa-empresa que elabora o verdadeiro jornalismo de esgoto e por isto não tem o menor compromisso com o Brasil.

A dar os trâmites por findos, a classe média branca e colonizada resolveu ver os jogos da Copa, apesar de se dizer contra o megaevento, que injetou R$ 30 bilhões no País e vai elevar o PIB para cima. A Copa que empregou um milhão de pessoas e considerada o melhor campeonato mundial de seleções de todos os tempos. Contudo, não há reconhecimento pelos políticos de direita, à frente os tucanos, pela imprensa venal e de histórico golpista e também pelos coxinhas de classe média de perfis conservadores e mais reacionários que o próprio empresariado que os emprega.

Resolveram vaiar e ofender com palavras de baixo calão a presidenta da República, a responsável maior pela realização da Copa, afinal aeroportos, vias públicas, mobilidade social e alguns dos estádios precisaram para serem construídos do apoio do Governo Federal, no caso o Governo Trabalhista, o que trouxe não somente a Copa para o País, bem como teremos, em 2016, as Olimpíadas, o que vai fazer com que o Brasil, definitivamente, entre no clube dos países grandes em termos mundiais, porque não é para qualquer um realizar eventos de tais portes e tamanhos. Ponto!

E aí, deu no que deu: estádios magníficos construídos pelos competentes e talentosos operários e engenheiros brasileiros e freqüentados pelos coxinhas raivosos e com inenarráveis e incomensuráveis complexos de vira-latas. Por terem dinheiro, ocuparam os espaços dos estádios — das moderníssimas arenas. Como observamos, os coxinhas tiveram muita disposição para vaiar e xingar a principal mandatária brasileira, sem se importar com a total falta de educação e o respeito com aquela que foi constituída e institucionalizada pela maioria do povo brasileiro, por intermédio das urnas soberanas, ferramenta e instrumento da independência popular.

Contudo, nada que surpreenda, mas os governos estaduais e municipais têm de viabilizar, urgentemente, a presença do povo nos estádios, porque é o povo o freqüentador histórico dos estádios de futebol. Portanto, necessita-se de um número bem maior de ingressos baratos a serem oferecidos para a maioria da população, que não é rica e nem remediada como o são os coxinhas de classe média. A resumir: os ingressos têm que chegar às mãos do povo, bem como a nefasta, entreguista e neoliberal Lei Pelé promulgada no Governo de FHC — o Neoliberal I — precisa ser extinta para que os clubes brasileiros se salvem, mas este é outro assunto do qual, posteriormente, ocuparei-me.

A maioria dos coxinhas, não vou generalizar para não ser injusto, não freqüenta os estádios. Esta é a verdade irrefutável. A Casa Grande (burguesia) e os coxinhas (pequena burguesia) não aprendem e não querem aprender, pois, para eles, nada importa. Não interessa se os empresários nunca ganharam tanto dinheiro com a ascensão dos trabalhistas ao poder. Ou se os coxinhas tiveram acesso ao mercado de consumo, pois, que eu me lembre, a classe média deste País, antes de 2003, enfrentava grandes dificuldades financeiras até mesmo para pagar uma passagem de avião, o condomínio, o aluguel, comprar uma televisão de bom tamanho, computadores, celulares e geladeiras ou máquinas de lavar roupas.

Esta é a verdade, porque eu sei. Sou de classe média e tenho amigos, colegas e conhecidos que já me disseram que as vidas deles e de suas famílias melhoraram nos últimos 12 anos. Vale ressaltar que a maioria não vota no PT, na Dilma ou no Lula por ideologia e também preconceitos. Vota no PSDB, mesmo sabendo que os tucanos em seus governos deixaram o País com inflação alta (12,5%) e praticamente sem reservas internacionais, irem ao FMI três vezes, porque quebraram o Brasil três vezes, afundaram a maior plataforma de petróleo do mundo, a P-36, além de serem responsáveis por um apagão que durou dezoito meses.

Não satisfeitos com tanta insensatez, entreguismo, pusilanimidade e ganância, venderam o patrimônio público construído por inúmeras gerações de brasileiros, a começar pelos contemporâneos do estadista gaúcho Getúlio Vargas, sendo que o mais simbólico foi a venda da Telebras e da Vale do Rio Doce. O PSDB, com a cumplicidade do DEM e do PPS, governou como caixeiro viajante e realizou a maior venda de bens pertencentes ao Estado de um país em todos os tempos, dentre muitos e muitos outros absurdos de autoria do PSDB, o partido que defende, sem sombra de dúvida, os interesses das oligarquias nacionais e internacionais. Ponto!

Antes dos Governos Trabalhistas, era tudo muito difícil para a classe média coxinha ter acesso a bens móveis (carro zero) e imóveis (casa própria), comprar eletro-eletrônicos, ter direito ao crédito bancário, viajar, estudar, e, o mais importante, ter seus filhos empregados. As faculdades privadas que deitavam e rolavam, hoje tem de atender aos requisitos e às determinações do Ministério da Educação. Muitas faculdades e universidades, que faziam do estudo apenas comércio, tiveram de fechar suas portas e o nível da qualidade do ensino das que ficaram abertas melhorou.

O Enem, o Sisu, o ProUni e o Fies acabaram com a exploração no ensino ou diminuíram muito a mercantilização efetivadas pelos cursinhos, muitos deles pertencentes a empresários milionários, que combateram ferrenhamente o Enem, por exemplo, com o apoio, inclusive, do Ministério Público, principalmente o do Ceará, que nos primeiros anos do Enem infernizou o processo democrático de seleção de alunos e candidatos, bem como o sabotou e o boicotou, a atender demandas escusas, pois não tão bem explicadas, com o apoio de uma imprensa de mercado, que, volto a dizer, odeia o Brasil e luta contra o desenvolvimento social e econômico de seu povo.

Os coxinhas, a meu ver, ainda não compreenderam a revolução silenciosa, sem violência, pois democrática, efetivada pelos governantes trabalhistas do PT. Seus preconceitos ideológicos, políticos e de classe social não os permitem avaliar com acuidade os fatos e as realidades acontecidos a partir de 2003 quando o operário e líder de massas, Luiz Inácio Lula da Silva, ascendeu ao poder republicano. Até hoje, passados 12 anos, a burguesia e a pequena burguesia não se conformam com os ditames da história e por isso tentam desconstruir e desmoralizar o PT, os presidentes trabalhistas e “tudo o que está aí", como eles gostam de afirmar. Contudo, as urnas também estão aí. Basta o povo brasileiro não dar a maioria dos votos aos petistas. Agora, apostar em golpes e trapaças políticos e eleitorais é inaceitável, até porque vivemos em um estado democrático de direito e o povo é o guardião soberano da Constituição. É isso aí.

A Justiceira de Esquerda

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