sábado, 25 de outubro de 2014

Debate final da Globo


Final

Na Globo, Aécio busca última cartada contra Dilma: tom moral e agressividade
Tucano tenta se valer de denúncia da revista Veja, petista reage: ‘O povo não é bobo, candidato’. Diferenças sobre economia e reforma política também marcam último debate

por Redação RBA 
publicado 25/10/2014 00:16, última modificação 25/10/2014 00:54

Aécio e Dilma, antes do debate que encerrou a campanha presidencial 2014 e que reforçou diferenças de projetos

São Paulo – Esperado como o ápice de uma eleição marcada por alto grau de tensão, o debate presidencial realizado pela Globo encerrou três meses de campanha com diferença marcante entre os dois candidatos. Atrás nas pesquisas de intenção de voto, Aécio Neves (PSDB) retomou a agressividade que marcou o encontro realizado na semana anterior pelo SBT, buscando as últimas cartadas para modificar o quadro favorável a Dilma Rousseff (PT).

“Essa campanha vai passar para a história como a mais sórdida da história do nosso sistema democrático”, abriu o tucano, seguindo o roteiro para um dia marcado pela denúncia feita pela revista Veja de que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham ciência de um esquema de propinas feito com verbas da Petrobras.

A petista seguiu a linha que havia guiado no vídeo exibido em programa eleitoral exibido no horário da tarde, acusando a publicação do grupo Abril de buscar um “golpe”. “É fato que o senhor tem feito uma campanha extremamente agressiva a mim e isso é reconhecido por todos os eleitores. Agora, essa revista, que fez e faz sistemática oposição a mim, faz uma calúnia e uma difamação do porte que ela fez a mim e o senhor endossa a pergunta”, afirmou. “O povo não é bobo, candidato. O povo sabe que está sendo manipulada essa informação porque não foi apresentada nenhuma prova.”

Com a falha na primeira carta na manga, Aécio sacou a segunda, afirmando ter novos documentos sobre o financiamento brasileiro ao porto de Mariel, em Cuba. Ele disse que os dados, guardados sob sigilo, revelam que o empréstimo será pago excepcionalmente em 25 anos, contra um prazo de 12 usado corriqueiramente. Dilma reiterou o que havia dito em outras ocasiões: o empréstimo é para uma empresa brasileira, a Odebrecht, e não para Cuba, e garante a criação de empregos para brasileiros.

Voltando à questão moral, tema que balizou a campanha tucana, Aécio perguntou a Dilma a opinião dela sobre o mensalão. “Se o senhor me responder por que o chamado mensalão tucano mineiro até hoje não foi julgado, por que o senhor Eduardo Azeredo (ex-governador de Minas Gerais pelo PSDB) pediu renúncia do seu cargo para o processo voltar para a primeira instância, o senhor estaria de fato sendo uma pessoa correta”, respondeu a petista. “O senhor é o primeiro a falar de corrupção, mas posso enumerar os casos de vocês que não foram investigados.”

Ainda na seara partidária, a principal diferenciação entre os dois candidatos se deu na temática da reforma política, levantada por Aécio, que voltou a advogar o fim da reeleição, proposta aprovada no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Dilma respondeu que esta não é uma questão central, e apresentou uma lista de propostas: fim do financiamento empresarial privado de campanha, paridade de candidaturas entre homens e mulheres, fim da coligação nas eleições proporcionais.

“Se de fato o senhor está interessado em combater a corrupção a proposta é o fim do financiamento empresarial das campanhas. porque com o fim do financiamento empresarial, acabaremos com a influência do poder econômico nas eleições”, ressaltou. “Acho que o senhor não tem interesse na reforma política porque a única coisa que o senhor fala é sobre reeleição.”

“A senhora é contra o financiamento privado?”, questionou o tucano. “Contra o financiamento empresarial”, respondeu a petista. “O seu partido, o PT, recebeu R$ 80 milhões em doações empresariais, candidata”, rebateu Aécio. “Seu partido não tem autoridade para falar sobre isso. Sua campanha é uma campanha milionária.”

Economia e gestão

Se prometia ser interessante para fugir da mesmice, a ideia da Globo de escolher eleitores indecisos para que fizessem perguntas acabou deixando mornos dois dos quatro blocos do debate. As questões selecionadas por vezes eram genéricas, por vezes traziam lugares comuns que pouco contribuíam para trazer questões novas, ainda mais depois de cinco encontros no primeiro turno e quatro no segundo. 

No geral, Dilma e Aécio marcaram diferenças na economia e na gestão pública. Ela, ao comparar seu governo com o de FHC e com as marcas do adversário como governador de Minas. Ele, ao voltar a prometer eficiência e meritocracia na administração.

Dilma buscou expor o passado do PSDB na economia, especialmente na questão do alto desemprego, e recordar que o presidente do Banco Central de Fernando Henrique, Armínio Fraga, é o ministro da Fazenda de um eventual governo Aécio. “O seu governo afugentou os investimentos e a inflação, infelizmente, está de volta. A situação do Brasil é extremamente grave, e é preciso que a senhora reconheça isso”, respondeu o tucano.

“No caso da inflação, você pode ter certeza de que é meu compromisso o controle da inflação”, rebateu a petista. "Vocês chegaram à obra prima de aumentar imposto e deixar uma dívida pública muito maior do que a que vocês receberam. Não há termos de comparação entre o que vocês fizeram e o que nós fizemos."

A comparação entre os governos FHC e Lula e Dilma despertou respostas repetidas das duas partes. “A grande verdade é que quem olha muito para o passado, ou quer fugir do presente, ou não tem nada a apresentar para o futuro”, disse Aécio, ao responder a pergunta sobre o setor agrário.

“Vocês deixaram a agricultura a pão e água. Uma pessoa fala para o futuro, mas tem de mostrar suas credenciais. Quando falo para o futuro, mostro as minhas credenciais”, respondeu Dilma. “Me desculpa, mas o senhor falou, falou, e não apresentou nada de concreto. Nem para o presente, nem para o futuro.”

Ela buscou novamente marcar diferenças de modelos de gestão ao perguntar a Aécio sobre a falta d’água em São Paulo, assunto que já havia sido tratado no encontro da Record, no domingo.

“O que estamos tendo não é apenas em São Paulo. Estamos tendo em toda a região Sudeste falta de água”, afirmou Aécio, para novamente acusar a Agência Nacional de Águas (ANA) de não atuar da forma correta na crise paulista, tema que foi central na última semana do segundo turno. “Esse aparelhamento da máquina pública é a face mais perversa do seu governo e do governo anterior. Os técnicos são nomeados por critérios políticos.”

A presidenta recordou que a responsabilidade constitucional pela gestão dos recursos hídricos é dos estados e que o único projeto apresentado neste setor ao governo federal por Geraldo Alckmin, do PSDB, recebeu financiamento da União. “Não planejar no estado mais rico do país é uma vergonha. Uma vergonha. Os estados do Nordeste estão enfrentando a mesma seca e em nenhum deles há um caso dessa gravidade.”

Dilma e Aécio fazem neste sábado os últimos atos de campanha. A petista vai a Porto Alegre (RS), onde vota no domingo, para uma caminhada com correligionários. Aécio viaja a São João del Rei, em Minas, onde visitará o túmulo do avô, Tancredo Neves.


Pataxó

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