Por Geraldo Galindo
O eleitor de Aécio diz ser um defensor da democracia, das
liberdades democráticas e acusa a esquerda de defender ditaduras. Esse é o
mesmo eleitor que deposita nas urnas 700 mil votos para Bolsonaro, um
parlamentar defensor de exílios, torturas e assassinatos cometidos pelos
militares no longo período de autoritarismo no Brasil.
O eleitor de Aécio diz que o PT quer cercear a imprensa e
implantar a censura no país, mas ele não se importa que em Minas, durante os 12
anos do PSDB, os grandes meios de comunicação foram rigorosamente amordaçados,
com política planejada de perseguição a qualquer um que ousasse fazer o menor
questionamento ao imperador. A propósito, sugiro ao leitor pesquisar os jornais
de Minas na cobertura da eleição para ver como funciona a “liberdade de
expressão” do PSDB. Até pressão e chantagem para que jornalistas participem da
campanha aecista não falta.
O eleitor de Aécio diz que na disputa presidencial tem de
haver alternância de poder, tem de renovar, mas ele não aceita que isso
aconteça em São Paulo, Goiás, Paraná etc.
O eleitor de Aécio Neves diz que o eleitorado de Dilma é
analfabeto, não sabe votar, é ignorante. E lá em São Paulo, onde estariam os
“esclarecidos”, se elege Russomano e Tiririca com quase 2,5 milhões de votos
somados. E elegem bancadas do que existe de mais reacionário entre policiais,
evangélicos, apresentadores de TV etc. Estes estarão de prontidão no congresso
para impedir avanços para o povo e aprovar medidas regressivas.
O eleitor de Aécio diz que o Bolsa Família é inaceitável,
que ele paga impostos para sustentar preguiçosos. Mas ele próprio ou seu
pai/mãe estuda/estudaram numa universidade pública estadual ou federal. Para
ele, bolsa é só quando beneficia pobre, se beneficia a ele, é obrigação o
estado investir nos “mais qualificados.”
O eleitor de Aécio é contra a cota de estudantes pobres e
negros nas universidades. Ele acha que todos devem disputar em condições de
igualdade no funil do vestibular que define os mais aptos. Mas não liga pra o
fato de ele próprio e seus pares terem estudado nas melhores escolas privadas
enquanto os demais estavam nas escolas públicas de qualidade bastante inferior.
O eleitor de Aécio diz que é contra o PT por conta do
mensalão, mas ele não se incomoda nem um pouco que o esquema fora organizado
inicialmente pelo grupo de seu candidato a presidente em Minas e que viria
depois a se repetir. Eles ignoram completamente o mensalão do DEM em Brasília
quando o governador José Roberto Arruada foi filmado com pacotes de dinheiro e
depois preso num caso que é tido como dos maiores casos de suborno na história
do país.
O eleitor de Aécio diz que não vota em corrupto, mas estava
pronto pra eleger em primeiro turno para o Governo de Brasília o candidato
protagonista do escândalo acima citado. A Lei da Ficha Limpa impediu que o
eleitor de Aécio elegesse um corrupto aliado, mas ele caminha pra eleger o
indicado por Arruda, do mesmo esquema.
O eleitor de Aécio diz que o “mensalão” pagava mesadas a
deputados para aprovar votações do governo no congresso, mas ignora solenemente
os áudios onde deputados dizem ter recebido R$200 mil cada para aprovar a
emenda da reeleição de FHC.
O eleitor de Aécio diz que José Dirceu é um chefe de
quadrilha, mas tinha com ídolo o ex-senador Demóstenes Torres (DEM), colocado
pela Revista Veja como o guardião da moralidade. Demóstenes foi desmoralizado
completamente por associação com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira e acabou
perdendo o mandato.
O eleitor de Aécio Neves diz que o assessor do PT preso com
dinheiro na cueca deve ser permanentemente achincalhado, mas não se importa que
um outro, assessor do deputado federal Bruno Covas (PSDB), filho do
ex-governador de São Paulo, tenha sido preso no aeroporto com R$100 mil uma
semana antes desta eleição. Fosse um assessor do PT seria capa de Veja e depois
desmoralizado em todos os canais de TV.
O eleitor de Aécio Neves diz que é contra o PT pela prática
do loteamento de cargos entre aliados. Mas ele não se incomoda quando o PSDB
distribui esses mesmos cargos entre os partidos que sustentam seus governos.
Aqui em Salvador o prefeito ACM Neto ganhou a eleição denunciando que o PT
faria isso e depois de eleito nomeou para as secretarias os indicados pelos
partidos que o apoiaram.
O eleitor de Aécio Neves diz que o PT aparelha o estado, mas
não se importa que Aécio Neves tenha contratado dezenas de milhares de
funcionários públicos sem concurso público em Minas.
O eleitor de Aécio diz que todas as pesquisas que indicavam
Dilma na dianteira no primeiro turno eram compradas pelo PT porque onde ele
anda todos votam no senador mineiro, mas ele não nega a veracidade das mesmas
pesquisas – dos mesmos institutos (IBOPE E DATA-FOLHA) –, que davam vantagem ao
candidato tucano em São Paulo.
O eleitor de Aécio diz querer erradicar a corrupção, mas
vota tranquilamente num candidato que quando governador torrou R$14 milhões dos
cofres públicos para construir um aeroporto nas proximidades da fazenda de seus
familiares, entregando a chave a um tio.
O eleitor de Aécio diz ser Hugo Chaves um ditador - no país
que mais fez eleições no mundo nas últimas décadas –, mas os ditadores da
Arábia Saudita, Bahrein, Catar e Jordânia são chamados por ele de “reis”, da
mesma forma como são tratados pelo New York Times e Rede Globo. Nestes países
sequer há eleições, não há parlamentos e as mulheres são submetidas a todo tipo
de privação e os homossexuais à mais cruel opressão, mas não são ditaduras, são
monarquias.
Concluindo, o eleitor de Aécio não diz a verdade nos seus
argumentos. O que o incomoda não é a corrupção, não é aparelhamento, não são
ameaças às liberdades. O que o incomoda de fato é a ascensão social dos
despossuídos desse país. Isso, sim, para os herdeiros da casa-grande é
inaceitável, daí o ódio que se traveste na defesa do falso moralismo.
* Geraldo Galindo é da direção estadual do PCdoB – Bahia.
Via Blog do Miro
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