quarta-feira, 4 de março de 2015

Morre José Rico, o Garganta de Ouro que deixou Terra Rica para conquistar o Brasil

Antes do estrelato, quando vivia em Terra Rica, José Rico cantava em troca de doces e desempenhava trabalhos braçais

José Rico não passava mais de seis meses sem visitar Terra Rica

Na infância, o pequeno José Alves dos Santos começou a se destacar em Terra Rica, a 43,6 km de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, ao cantar em troca de doces. Quando cresceu, a necessidade o obrigou a exercer serviços braçais para sobreviver. Porém, como profetizara um padre, José ainda seria rico.

Após mais de 40 anos de sucesso, infelizmente, de acordo com a assessoria de imprensa do cantor, José Rico, que tocaria na 44ª ExpoParanavaí no próximo dia 13 de março, faleceu ontem em Americana, interior de São Paulo, em decorrência de complicações envolvendo coração e rins.

O músico José Alves dos Santos, conhecido como José Rico, o Garganta de Ouro do Brasil, nasceu em São José do Belmonte, Pernambuco, em 1946, mas em 1948 se mudou com a família para Terra Rica, onde viveu até os 19 anos.

De acordo com Wilson Alonso, amigo de infância do cantor, José Rico sempre foi um grande personagem da cidade. “Ele nunca foi como aqueles artistas que esquecem da própria origem. Não ficava mais de seis meses sem aparecer aqui”, explicou em tom de orgulho em entrevista que me foi concedida em 2006.
Ao se mudar para o Extremo-Noroeste do Paraná, no início, o pai de José Rico conseguiu manter a família com o ofício de barbeiro. No entanto, logo surgiram dificuldades e ainda criança José Alves dos Santos teve de trocar a chupeta por uma enxada.

“Ele trabalhou muito na lavoura. Também atuou como pintor, sorveteiro, engraxate e servente de pedreiro. Lembro como se fosse hoje”, contou Alonso, se calando por alguns segundos, disperso em pensamentos.
Quando não estava trabalhando, o pequeno José gostava de cantar. A boa voz foi determinante para ser convidado a participar de eventos locais em que o cachê se resumia a paçoquinha e sorvete.

“Era uma figurinha carimbada nas quermesses e festas juninas. Quem tinha muito dinheiro na época, sempre o chamava para se apresentar”, relatou Alonso, sem velar o sorriso nostálgico.

O interesse pela música sertaneja foi precoce, mas naquele tempo o desconhecido José dos Santos embalava o público com canções românticas e boêmias. “Eram composições de Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. O pessoal gostava mais desses cantores que estavam no auge”, revelou Alonso.

No fim da adolescência, José Alves dos Santos começou a participar de programas de rádio. Alonso citou um episódio em que o cantor veio a Paranavaí para participar de um programa de auditório. “Ele conseguiu chegar a tempo de se apresentar na Rádio Paranavaí, graças ao sargento Vieira”, reitera.
Quando ainda sequer cogitava a possibilidade de gravar um disco, o jovem José conheceu o pároco Eduardo Bassil que o incentivou. “O padre falou que ele seria um José Rico, ficaria realmente rico, e isso aconteceu. Foi merecido porque ele lutou muito por isso, não caiu do céu”, avaliou Wilson Alonso.

José Rico gostava de comer arroz, feijão e ovo

Na adolescência, as mãos do cantor sertanejo José Rico não se sentiam atraídas apenas pelas cordas do violão. “Briga era com ele. Lembro que antigamente tinha luta em circo, então normalmente no segundo dia ele já estava lá na arena lutando. O Zé gostava muito disso”, informou o amigo Wilson Alonso.
Emocionado, Alonso destacou a simplicidade como a principal característica do cantor. “O Zé chegava aqui em casa e dizia que queria comer arroz, feijão, ovo frito e quiabo. Além disso, adorava sair na rua de bermuda, camiseta e tênis”, enfatizou o amigo.
Apesar de não tocar nenhum instrumento, Wilson Alonso guardava com esmero um violão cuidadosamente envernizado e sempre brilhante. O instrumento sempre ficava à espera do amigo José Rico. Por muito tempo, ao toque do primeiro acorde sempre levava à tona a nostalgia e graça da época em que usava o talento para ganhar um pedaço de doce.

Saiba Mais
O texto acima é resultado de uma entrevista que fiz com Wilson Alonso em 2006. Infelizmente, Wilson Alonso faleceu em 10 de setembro de 2011, pouco mais de trêsanos antes da partida de José Rico, a quem ele considerava um de seus melhores amigos.

Curiosidades
Além da música sertaneja, José Rico apreciava música gaúcha, mexicana, paraguaia e cigana. Tais influências são perceptíveis nas composições do artista.
A música “Estrada da Vida”, de autoria de José Rico, garantiu a venda de mais de dois milhões de discos.
A dupla Milionário e José Rico surgiu em 1973. Desde então, lançaram 29 discos e dois filmes: “Na Estrada da Vida” e “Sonhei com Você”.
O filme “Na Estrada da Vida” foi dirigido por Nelson Pereira dos Santos, expoente do cinema novo brasileiro.


Fonte: David Arioch - Especial para o Diário do Noroeste

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