segunda-feira, 23 de março de 2015

“Vítimas”, “macacos”, “coitadistas…”: o pessoal contra as cotas precisa mudar os argumentos


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A rapper Azealia Banks deu a resposta perfeita a quem condena a implantação de cotas para negros. Em entrevista à Playboy americana de abril, disparou: “Meus fãs brancos dizem ‘por que você exige reparações por um trabalho que você nem fez?’. Bem, vocês herdaram as propriedades de seus avôs e tiveram o direito de ficar com os diamantes e pérolas das suas avós”.
Ela sintetizou um dos principais motivos  do abismo social entre brancos e negros, seja na América do Norte ou do Sul. Lacrou, como diriam os seus fãs.
Por coincidência, o depoimento da primeira rapper a ser capa da Playboy veio a público na mesma semana em que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, assinou a resolução que reserva 20 % das vagas para negros nos concursos do Conselho Nacional de Justiça e do próprio STF.
O anúncio provocou uma onda de comentários contrários, como sempre ocorre quando o assunto de cotas entra em evidência.
“Supremo terá 20% de vagas a negros. Absurdo do desgoverno socialista: regime de cotas no STF! Cor ao invés de mérito!”, disse alguém no Twitter.
“Raciocinem! Precisamos de juízes competentes e vocacionados. Isso não tem relação a tom de pele. Não às cotas raciais, AMB!”, postaram na mesma rede social.
O post da página do CNJ no Facebook com o anúncio da nova medida tornou-se o muro de lamentações dos que acreditam na falácia da igualdade racial e da meritocracia:
“A segregação começa disso, deveria dar privilégios aos pobres e não a determinadas raças…”
“Sou negra e não gosto dessa “cota para negros” acho o maior preconceito que possa existir, sempre que presto concurso não faço uso da cota faço uso da ampla concorrência. Cadê a isonomia?”
“Cotas deveriam ser direcionadas à condição econômico-financeira e não racial. Esse sistema é uma vergonha.”
Quem escreveu isso não sabe ou finge não saber que a escravidão negra vigorou por 358 anos no Brasil. Neste período cerca de 7 milhões de negros foram arrancados da África e após a abolição da escravatura foram abandonados.
É disso  que Azealia fala, de forma sucinta e direta, na entrevista.
Nesta mesma semana viralizou um vídeo em que militantes do movimento negro da USP entram em uma aula do curso de Administração para dar um informe sobre a discussão das cotas raciais na universidade.
Um dos alunos filma a situação e começa o típico discurso anticotas:
“Qual a dificuldade de entrar, estuda aí (…).Tem horário, eu quero ter aula velho, estuda e entra, velho. Estuda e entra na Universidade. Ninguém está impedindo, é só estudar e entrar na Universidade. Não precisa se vitimizar, eu só quero ter aula. (…)A USP já tem cotas e isso vai acabar abaixando a qualidade de ensino”.
Os militantes negros rechaçaram as provocações e o que era uma ação para passar uma informe se tornou um debate exaltado sobre a questão racial nas universidades.
Antes de desligar a câmera um estudante ele se despediu com o lema do perfeito idiota brasileiro: “Falou galera, eu e meu brother Lucas aqui fortalecendo o movimento: fora Dilma”.
Azealia recebeu uma avalanche de críticas após as declarações polêmicas na Playboy – entre outras, ela disse que odeia os EUA e não deveria cultuar Jesus Cristo por ser descendente de africanos escravizados.
Irônica,  pediu para que mudassem um pouco os insultos, porque já estava entediada de tanto ouvir “volte para a África”, “gueto” e “macaca”.
Fica a dica para o estudante de Administração da USP. Mandar negro estudar, dizer que estão se vitimizando ou que todos são iguais independente da cor já cansou. É um direito dele ser contra as cotas, mas ao menos poderia ser mais criativo ao defender seu ponto de vista.

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Marcos Sacramento
Sobre o Autor
Marcos Sacramento, capixaba de Vitória, é jornalista. Goleiro mediano no tempo da faculdade, só piorou desde então. Orgulha-se de não saber bater pandeiro nem palmas para programas de TV ruins.

Via DCM


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