domingo, 26 de julho de 2015

As Urnas eletrônicas são bem menos fraudáveis do que a consciência de muitos


Eu estou pensado em escrever um artigo que esclareceria de uma vez por todas essa celeuma que envolve as urnas eletrônicas e as acusações de fraude que as cercam. Mas ao mesmo tempo eu fico imaginando se valerá a pena eu me debruçar sobre esse teclado e digitar durante 20 minutos ou mais, onde, terei que, em respeito aos meus princípios e aos meus leitores, focar exclusivamente em fatos reais, porém ter a certeza de que depois irei perceber que muitos já estarão cuspindo maribondos mesmo sem ter lido o texto, ou na íntegra, ou com a atenção que mereceria, ou ainda, caso leiam com a devida atenção, suas interpretações estarão contaminadas por seus vieses de confirmação.

Ao pensar nessas hipóteses me veio à memória duas situações que, apesar de distintas, sintetizam bem essa ideia.

A primeira lembrança que tive foi relacionada aos livros de cânticos que são entregues nas entradas das igrejas. Explico.

Quando vou à missa percebo que na entrada da igreja ficam aquelas senhorinhas entregando aqueles livretos onde, com todo o carinho elas os organizaram, chegaram a fazer reunião num dos dias da semana para certificarem-se de que tudo sairá nos conformes para os momentos exatos em que os cânticos serão entoados durante a missa. Pois bem, quando finalmente chega o momento para os livretos serem usados, que é quando o celebrante avisa, “abram todos o livro de cânticos na página x” ocorre algo inusitado, ao menos para mim, pois, a maioria das pessoas já conhecem os louvores, portanto, abrem o livreto na página determinada mas se quer lançam os olhos sobre sua letra, afinal não há necessidade para isso e, aqueles que não sabem a letra do louvor, que na maioria das vezes é o meu caso,  acabam por ler a letra mas esquecerem-se de entoá-lo em alto e bom som. Resumindo, todo aquele trabalhão feito com tanto carinho por aquelas senhoras acabam sendo em vão.

Outra lembrança que tenho sempre que me disponho a escrever um texto para postar, seja no meu blog ou no grupo que administro no Facebook, é a de uma passagem que vivi logo no inicio de minha carreira profissional.

Naquela ocasião eu tinha meus tenros 19 anos e fui admitido para trabalhar no extinto banco Nacional, banco esse que pertencia ao saudoso Jose de Magalhães Pinto. Muito bem, estando eu com apenas alguns meses de trabalho naquela instituição financeira na função de escriturário, comecei a observar algumas deficiências que, como é normal em quase toda empresa, passava despercebida por aqueles que ali trabalhavam há muito tempo, esse é um “fenômeno” normal, pois é inerente ao ser humano se adequar ao meio em que vive. Porém, como eu estava quase me formando em administração na época, resolvi tentar implantar na pratica do meu trabalho tudo o que eu havia aprendido na teoria das salas de aula.

Peguei minha velha olivetti e passei para o papel todas as minhas ideias de melhorias que eu considerava pertinentes a serem implantadas naquela agencia. Depois de muito tempo e umas seis páginas digitadas, consegui transferir para o papel todas as ideias pré-concebidas.

Naquela manhã, quando o Sr. Lourival Lourenço, que era nosso gerente de serviços chegou, eu fui até sua sala e perguntei se ele teria alguns minutinhos para ouvir umas ideias que eu havia tido para a melhoria da nossa agência. Prontamente ele disse que sim, pediu para que a dona Cristina trouxesse dois cafezinhos e mostrando-se muito interessado pediu para que eu falasse sobre elas. Aí eu falei que faria um breve resumo de todas as ideias que eu tinha e ele falou que estava ótimo para ele. Pois bem, falei superficialmente sobre as propostas e ele mostrou-se muito interessado, extasiado diria eu. Ao final ele levantou-se, bateu nas minhas costas e disse: Dagmar, você é um jovem de futuro nessa instituição. Por favor, passe essas ideias para o papel que eu as levarei para o nosso gerente geral, mas de antemão posso garantir-lhe que, se não em sua totalidade, pelo menos 90% do que você sugeriu será implantado, não somente nessa, mas em todas as demais agencias Brasil afora, pois essas são deficiências generalizadas dessa instituição.

No outro dia logo cedo eu fui até a sala do gerente de serviço, e deixei sobre a mesa o envelope com as seis páginas endereçadas ao Sr. Lourival Lourenço. Ele chegou no horário costumeiro, cumprimentou todos e foi para sua sala. Eu já havia terminado de fazer a soma dos cheques da compensação do dia anterior, que era minha primeira atividade do dia, depois que a agencia abria meu trabalho era o de atualizar em tempo real todas as movimentações feitas nas contas dos nossos clientes. Isso mesmo era tudo feito manualmente, não existiam computadores, e as contas correntes eram controladas em papel cartolina onde constavam cinco colunas. A primeira era a da data, a segunda do histórico, a terceira dos créditos, a quarta dos débitos e finalmente a quinta, era onde ficavam os saldos. Isso tudo era feito manualmente.

Pois bem, passaram-se algumas horas, o gerente de serviço já havia entrado e saído umas 50 vezes de sua sala, mas nada de me procurar. E assim foi até o horário de fechamento da agencia. Quando todos já haviam se retirado, ele sempre era o último a sair, eu o esperava logo na saída. Lá veio ele, com um semblante sério, como sempre e, ao me ver perguntou o que havia acontecido. Como ele não mencionou nada sobre o que havíamos tratado no dia anterior eu me antecipei e perguntei-lhe o que ele havia achado das ideias. Ele respondeu que começou a ler, mas como era muita coisa pediu para que eu fizesse um resumo e entregasse para ele no outro dia. Pois bem, sai dali às pressas e fui para a faculdade, cheguei em casa por volta das 23:00 hs. Tomei um banho e de volta à minha velha olivetti consegui reduzir de  6 para 3 as folhas.  No outro dia logo cedo se seguiu o mesmo ritual de sempre, eu chegava até a agência, batia meu cartão tomava um cafezinho rápido e ia até a tesouraria pegar o chumaço de cheques para conferir a compensação. Depois de umas duas horas, quando o banco abria para os clientes lá ia eu de volta para o controle das contas correntes. Lá pelas tantas o Sr. Lourenço me chamou até a sua sala e lá fui eu todo animado, chegando lá ele pediu os tradicionais 2 cafezinhos para a dona Cristina, mandou que eu me sentasse e disse: “Dagmar, suas ideias são muito interessantes, mas eu preciso que você me faça um favor. Faça um novo resumo, mas coloque somente aquilo que conversamos no primeiro dia”.

Resumindo, de que valeriam minhas ideias, ou melhor, do que valeu todo o meu trabalho em chegar da faculdade depois de um dia estressante e detalhar em seis folhas colocando tim tim por tim tim cada um dos passos para a instalação de melhorias se, no fundo, nada do que eu havia dito teve alguma importância para o gerente.

E assim também acontece por aqui. De que adiantará eu tentar provar que quase tudo o que é dito sobre as fraudes nas urnas eletrônicas são fantasias daqueles que ainda não aceitaram a derrota?

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