Aqui jaz um partido que nasceu democrata e morreu de joelhos, golpista, corpo gangrenado e sem alma nenhuma
Por Daniel Quoist
Que o PSDB sempre foi um partido de elite já o sabíamos há
mais de 20 anos.
O tempo não fez bem ao PSDB: o partido ficou esclerosado
rápido demais. E sua decadência começou quando investiu pesado na aprovação da
oportunista emenda da reeleição em 1997, feita sob medida para se manter no
poder, para garantir mais quatro anos de mandato ao então progressista Fernando
Henrique Cardoso. O balcão de negócios para a compra de votos no Congresso
Nacional que garantissem a aprovação daquela emenda que esse foi um dos
capítulos mais torpe já escrito no Brasil visando a que um partido permanecesse
no comando do Executivo.
Apesar de depoimentos, testemunhos e várias
outras robustas evidências de que havia se "feito o diabo" para
garantir mais quatro anos de FHC na presidência da República, fato é que até
hoje aquele passado não foi escrutinado, os crimes permaneceram impunes e a
nódoa de descaramento se fixou em alto relevo na fronte mesma do PSDB.
Que o PSDB nunca digeriu com satisfação as profundas
transformações porque vem passando o Brasil desde que tomou posse em 2003 o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva é também fato inconteste. Porque o PSDB é
a cara do conservadorismo mais retrógrado que infelicita o país: aquele que
luta por manter tudo como sempre foi, que não ousa avançar na garantia das
liberdades democráticas, nos direitos civis e trabalhistas, que não se atreve a
lutar contra as profundas desigualdades sociais que há séculos enferma 2/3 da
população nacional.
Para saber quem é o PSDB de hoje basta ver o nível de
política que leva a cabo: política de arrasa-país, política revanchista,
política de apoio às pautas mais atrasadas e anticidadania que se tem notícias
– pautas como a terceirização de atividades-fim; o financiamento empresarial
das campanhas eleitorais; redução da maioridade penal; legislação repressora
para a comunidade LGBT; restrições aos direitos dos homossexuais; fragilização
da Petrobras em um momento difícil que atravessa nossa mais nacionalista das
empresas estatais.
O que não se sabia de forma clara e transparente era esta
vocação golpista e tantas vezes dissimulada que sempre teve o PSDB.
É por isso que o partido arregimenta em seu entorno
políticos como Jair Bolsonaro, Roberto Freire, Carlos Sampaio, Agripino Maia e
mais todos os Telhadas e seus brucutus.
E só os arregimenta porque existe comunhão de ideais entre
eles: ferir a democracia de morte para retirar seu desafeto político do comando
do Poder Executivo, mesmo que seu desafeto tenha amealhado estrondosos 54
milhões de votos nas urnas abertas na noite de 26 de outubro último e abrir
espaço para nova incursão militar em anos imediatamente à frente.
O PSDB é um partido sem respeito à sua própria história e
sem a menor consideração com a manutenção da democracia e do estado de direito
vigente a duríssimas penas no Brasil. Planeja ganhar no golpe o que não
conquistou nas urnas, deseja transformar o Brasil numa república paraguaia,
cartorial e coronelista, entendendo que ministros do Tribunal de Contas da
União detêm o direito divino de "tratorar" a vontade política
expressa inequivocamente por mais de 54 milhões cidadãos e cidadãs brasileiros.
O PSDB esquece não apenas de seu imenso telhado de vidro –
abram-se investigações sérias sobre os metrôs paulistas, a falta d´água e os
crimes cometidos por sua Sabesp, o mensalão tucano desafiando qualquer
sentimento de justiça, as delações premiadas de só Deus sabe como conseguidas
pelo juiz Sérgio Moro – como esquece também as pesadas suspeições que pairam
sobre as cabeças e os ditames de ao menos 2 senhores juízes do próprio TCU,
assim como esquece que a justiça deve ser administrada com equidade e valer
para todos e todas. O PSDB é hoje um arremedo do que um dia foi.
Em sua luta por convocar um terceiro turno eleitoral capaz
de retirar de Dilma Rousseff o mandato legítimo que o povo lhe outorgou, o PSDB
deixou de lado todos os escrúpulos, esqueceu todas as lições políticas que
deveria ter aprendido ao longo do tempo e passou a ser não mais que ridículo
instrumento da vontade pessoal e soberana de seu presidente – o senador Aécio
Neves, aquele mesmo que foi batido duas vezes na urnas das Minas Gerais em 2014
e que foi batido também nas urnas pela atual ocupante do Planalto.
E Aécio Neves sabe que o tempo conspira em seu desfavor,
sabe bem demais que só será presidente por um golpe do azar, seja à moda
antiga, seja à moda paraguaia, porque se tiver de esperar para outubro de 2018
terá sido tarde demais para ele – é que a fila no PSDB começou a andar já no
dia 27 de outubro de 2014. E por ordem de preferência, por ser o PSDB um
partido eminentemente conservador paulista, os candidatos naturais têm nome,
sobrenome e biografias: o o governador Geraldo Alckmin e o senador José Serra.
De elitista, dono de políticas neoliberais que tanto
infelicitaram o povo brasileiro e povos de várias nações desenvolvidas, o PSDB
tornou-se o partido dos golpistas que sequer tem a bravura, a coragem de chamar
pelo nome o que tramam, conspiram, intentam – rasgar a ordem democrática, abrir
regime de exceção, tomar pela força de pseudo-tribunais o que não conseguiu
pela vontade soberana do povo brasileiro.
O PSDB esquece apenas que antes há de combinar com o povo:
não se derruba presidentes legítimos do dia para a noite sem que se tenha como
pagar o alto preço da traição à pátria.
E de povo o PSDB entende muito pouco ou quase nada: alguém
já fez um corte racial e social na plateia das convenções do PSDB? Alguém já
localizou em meio àquelas "massas cheirosas", na expressão de Eliane
Cantanhede, alguém com cara de povo, ou seja, morena, negra, pobre e que fala
um português ao arrepio da norma culta? Não. Porque, então, não seria uma
convenção do PSDB. Porque para ser convenção tucana tem que ter aquele clima de
convenção norte-americana, com balões coloridíssimos no teto e nas laterais do
palco, com o candidato feito de literalmente papelão, vestidos à moda
"casual chic", com blazer azul marinho e calça jeans de grife,
sorriso armado o tempo todo, quentinhas à la carte, ar condicionado por volta
dos 18 graus.
Pelo que observo nas redes sociais, pelo que vejo nas
movimentação de mais que uma dezena de partidos que apoiam a presidente no
Congresso Nacional, arrisco-me apenas a expressar o seguinte:
- Que o PSDB se prepare para a guerra se quer levar a ferro
e a fogo sua tentação golpista.
- Não será uma guerra nem rápida e nem fácil.
- Mas, ao fim, vencerão as forças democráticas e os
trabalhadores e restará ao PSDB escrever seu ultrajante epitáfio no rodapé da
história brasileira:
Aqui jaz um partido que nasceu democrata e morreu de
joelhos, golpista, corpo gangrenado e sem alma nenhuma.
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