O plenário do Senado decidiu, na noite desta quarta (8), derrubar o caráter de urgência da tramitação do projeto de Lei 131, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), que propõe retirar da lei a obrigatoriedade de que a estatal Petrobras seja a operadora única do pré-sal.
Uma vitória dos movimentos sociais e senadores progressistas
que, articulados, realizaram, nos últimos dois dias, uma verdadeira batalha
para impedir que, no afogadilho, os senadores acabassem permitindo que o
petróleo brasileiro viesse a gerar riquezas não para o povo do país, mas para
as grandes multinacionais.
Embora a intenção do presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), fosse colocar o projeto em votação na noite desta quarta-feira
(8),um requerimento assinado por 49 dos 81 senadores, articulado sob a pressão
dos movimentos sociais, reivindicou a criação de uma Comissão Especial
destinada a debater melhor a proposta polêmica.
Com a maioria dos votos já configurada em favor da proposta,
até mesmo José Serra aceitou a criação da comissão, que terá 27 membros e prazo
de 45 dias para apresentar parecer sobre o tema. Os membros serão indicados
pelos partidos políticos e deverão ouvir especialistas, governo e diretores da
Petrobras.
Um dos articuladores do requerimento, o senador Roberto
Requião (PMDB-PR) disse que, durante a tarde, a bancada do seu partido se
posicionou favorável à retirada do caráter de urgência, mas o presidente do
Senado continuou insistindo em colocá-lo em pauta a qualquer custo. “O Renan
fechou um acordo com o relator da matéria, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES),
para aprovar esse absurdo”, denunciou.
Requião criticou duramente o colega de partido, Ricardo
Ferraço, que, na avaliação dele, não só defende a aprovação do projeto tucano
no seu parecer, como ainda propõe que a decisão sobre quais poços devem ser
operados ou não pelas multinacionais estrangeiras fique a cargo do Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE), um mero órgão de assessoramento do
presidente da República.
“O CNPE não é órgão deliberativo. Não representa ninguém. O
Congresso não pode abrir mão de legislar sobre este tema importante. O
substitutivo do Ferraço piora ainda mais o projeto do Serra”, defendeu o
senador.
Coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP),
José Maria Rangel, comemorou a vitória. “Nós viramos o placar”, afirmou. Na
avaliação dele, com mais tempo para o debate, os senadores irão rechaçar o
projeto. “O principal argumento do Serra
e dos defensores do projeto dele é que a Petrobras não tem recursos em caixa
para arcar com o pré-sal. Para quem não conhece a geopolítica do petróleo, é um
discurso que soa bem, principalmente porque a empresa está envolvida em várias
denúncias de corrupção. Mas esse discurso não está correto”, esclarece.
Conforme o sindicalista, a legislação atual não impõe que a
Petrobras seja obrigada a fazer grandes investimentos no caso de abertura de um
novo leilão. “As pessoas têm em mente o valor que a empresa investiu no último
leilão, o do campo de Libras, que foi de R$ 15 bilhões. Mas pode ter um leilão
que vise maior retorno de óleo, por exemplo. Outro aspecto é que o Brasil não
precisa de outro leilão agora. Nós já temos o do campo de Libras, temos
reservas suficientes para isso. E, além disso, entre a fase da contratação, que
é o leilão, até a de produção, que é a que exige maior investimentos, nós temos
seis, sete anos”, justifica.
A articulação das forças progressistas contou com um forte
aliado do governo Dilma: o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro que,
durante audiência pública no Senado, pela manhã, criticou a proposta de Serra.
Segundo ele, se aprovado, o projeto reduzirá os recursos para a saúde e para a
educação, conforme previsto na legislação atual.
“Tudo o que pudermos ter de orçamento, que não provenha de
tributação, é bem-vindo. É importante que aquilo que demorou bilhões de anos
para ser constituído [petróleo] não seja queimado à toa e construa estruturas
permanentes”, afirmou o ministro.
Fonte: Carta Maior
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