Carta de indicação para o Prêmio Nobel da Paz enviada em 19
de janeiro de 2015, por John W. Kirk, ao Comitê Norueguês do Nobel em favor do
Programa de Internacionalismo Médicos Cubanos.
Meu nome é John Kirk. Sou professor de Estudos
Latino-americanos na Universidade de Dalhousie em Halifax, província de Nova
Escócia, Canadá, e escrevo para indicar o Programa Internacionalista Médicos
Cubanos para o Prêmio Nobel da Paz.
No outono de 2014, o Oeste da África estava devastado pelo
ebola, e a Organização Mundial de Saúde apelou por assistência médica de
urgência numa luta (literalmente) de vida ou morte. O primeiro país a responder
foi Cuba. Cerca de 15 mil trabalhadores da saúde se apresentaram como
voluntários. No momento em que escrevo, há 256 especialistas cubanos em três
países participando desta luta e mais 100 outros cubanos deverão somar-se
àqueles primeiros voluntários. Trata-se do maior contingente de médicos, apesar
do fato de Cuba ser apenas uma ilha relativamente pequena. Em janeiro de 2014,
Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, resumiu essa contribuição em
poucas palavras: "Eles são sempre os primeiros a chegar e os últimos a
partir - e eles sempre permanecem depois das crises. Cuba tem muito a ensinar
ao mundo inteiro".
Cuba tem uma pequena população (11,2 milhões de habitantes)
e um dos melhores sistemas de saúde do mundo, com estatísticas que rivalizam
com aquelas de muitos países desenvolvidos. Mais importante ainda: Cuba tem uma
impressionante história de internacionalismo médico - e sua contribuição no
Oeste da África é apenas o capítulo mais recente de uma história que remonta a
1960, quando médicos cubanos responderam ao apelo por ajuda após o terremoto no
Chile. Desde então, 325 mil profissionais cubanos da saúde prestaram
assistência em 158 países e muitos deles participaram de duas ou três missões.
A grande mídia do mundo industrializado tem praticamente
ignorado este fato. A história de cooperação médica de Cuba é algo
extraordinário. O estudo dessa humilde história tem sido o foco de minhas
pesquisas nos últimos dez anos. Entre os pontos-chaves que podem ser do
interesse de vosso Comitê estão os seguintes:
a) Em janeiro de 2015, havia 51.847 profissionais da saúde
cubanos (50,1% dos quais médicos) trabalhando em 67 países - principalmente nos
países em desenvolvimento. Na Venezuela, há quase 30 mil profissionais médicos
cubanos, no Brasil há 11.400 doutores cubanos e na África mais de 4 mil profissionais
médicos cubanos estão trabalhando em 32 países. Para contextualizar, cerca de
20% dos médicos cubanos estão trabalhando no estrangeiro como
internacionalistas. Comparativamente, isso equivaleria a 223 mil médicos
estadunidenses servindo em países estrangeiros.
b) O pessoal médico cubano no Oeste da África é parte da
Brigada Henry Reeve, formada em 2005, a qual tem prestado apoio médico
emergencial do Paquistão ao Chile, da China à Bolívia. No total, 41 brigadas de
emergência foram enviadas a 22 países. Nos últimos anos, grandes contingentes
têm sido enviados para enfrentar desastres naturais em países como Guatemala,
Paquistão, Indonésia, Bolívia, Peru, México, China, El Salvador, Chile, Haiti e
nos três países mais afetados pelo Ebola.
c) Numa contribuição para garantir um sistema de saúde
sustentável em muitos países em desenvolvimento, Cuba criou a Escola
Latino-americana de Medicina (Elam) em 1999. Até o presente momento, 24.486
estudantes de 123 países se formaram médicos sem arcar com nenhum custo. Os
professores-doutores cubanos formaram mais de 20 mil médicos graduados na
Venezuela e formam atualmente o pessoal médico de 13 escolas de medicina em
países como Timor Leste ou Gâmbia. Eles criaram faculdades de medicina em 15
países, a começar pelo Iêmen do Sul em 1975. Desde então, faculdades de
medicina foram criadas na Guiana, Etiópia, Guiné Bissau, Uganda, Gana, Angola,
Gâmbia, Guiné Equatorial, Haiti, Eritreia, Venezuela, Timor Leste, Bolívia e
Tanzânia. 38.940 médicos (de 121 países da Ásia, das Américas e da África)
receberam formação de professores-doutores cubanos. Atualmente, eles estão
dando formação a estudantes de países como África do Sul, Gana, Djibuti,
Moçambique, Congo, Uganda, Nicarágua e Equador, e médicos residentes estão sendo
formados na Guatemala e no Haiti. Além disso, o pessoal médico cubano deu
formação a mais de 80 mil parteiras, 3 mil enfermeiras e 65 mil promotores de
saúde.
d) Desde 2004, a "Operação Milagre" devolveu a
visão a 3,4 milhões de pacientes de mais de 30 países da América Latina e do
Caribe, chegando a operar 2.667.000 pacientes. Todas as cirurgias foram
realizadas sem custo para os pacientes em mais de 30 centros oftalmológicos.
e) Após o acidente com o reator nuclear de Chernobyl, Cuba
aceitou tratar em Havana 25 mil pacientes (quase 100% de crianças) de 1989 a
2011. Todos os cuidados médicos e as acomodações foram fornecidos sem custos
para os pacientes e membros da família.
f) A pedido dos governos da Venezuela, da Bolívia, do
Equador e da Nicarágua, centenas de profissionais médicos cubanos,
especialistas em doenças físicas e mentais, realizaram pesquisas nacionais,
fazendo porta a porta para avaliar as necessidades médicas das comunidades e
para indicar terapias de apoio individualizadas para cada paciente entre 2001 e
2003. Mais de 1,2 milhão de pessoas foram identificadas como portadores de
necessidades especiais e foi implementado um programa de apoio a essas pessoas
concebido em Cuba.
g) Cuba implementou o Programa Inclusivo de Saúde em dezenas
de países pobres, principalmente em áreas remotas onde não há pessoal médico.
Cuba está ajudando a criar o programa nacional de saúde do Haiti.
h) Esta longa tradição significa que ao longo dos anos o
pessoal médico cubano realizou 10,8 milhões de operações cirúrgicas, 2,3
milhões de partos, 12,4 milhões de vacinações e salvou 5,5 milhões de vidas nos
países em desenvolvimento.
Em suma, por mais de cinco décadas, Cuba forneceu cooperação
médica a dezenas de países em todo o mundo - frequentemente dirigidos por governos
que não têm nem tinham relações diplomáticas com Cuba. Inspirada na máxima do
escritor e revolucionário do século 19 José Martí - "Pátria é
humanidade" -, a contribuição de Cuba ao mundo em desenvolvimento tem sido
exemplar. O importante papel que Cuba desempenha na África do Oeste na campanha
contra o ebola é apenas o mais recente exemplo deste altruísmo.
Contextualizando, Cuba - um país pobre, um país em desenvolvimento - tem mais
pessoal médico trabalhando nos países do Hemisfério Sul do que todos os
poderosos países do G7 juntos.
Senhores membros do Comitê Norueguês do Nobel, sou grato por
vossa atenção. Espero que concordem comigo quanto ao fato de que este
excepcional histórico de apoio médico dado por Cuba a diversos países em todo o
globo merece o Prêmio Nobel da Paz. A doutora Margaret Chan, diretora-geral da
Organização Mundial de Saúde, assim resumiu o papel de Cuba em 2014: "Cuba
tem reconhecimento mundial por sua capacidade em formar excelentes médicos e
pessoal de enfermagem, e também por sua generosidade para com os países em
desenvolvimento".
Tenho assim o prazer de indicar o Programa Internacionalista
Médicos Cubanos para o Nobel da Paz, e creio de todo coração que aqueles e
aquelas que a ele se dedicam seriam dignos recipiendários. Se puder ser de
alguma ajuda para fornecer dados suplementares, sintam-se à vontade para me
contatar: kirk@dal.ca.
Desejando-lhes o melhor em vossas deliberações,
John W
Kirk, Ph.D.
Catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos
Segue à vossa atenção um breve resumo biográfico.
John M. Kirk, Biographical Sketch
Kirk é catedrático e professor de Estudos Latino-Americanos
na Universidade Dalhousie, no Canadá, onde ele ensinou durante 37 anos.
Graduado pela Universidade de Sheffield, Kirk fez seu mestrado na Universidade
da Rainha, e seu doutorado na Universidade da Colúmbia Britânica. Dedicou sua
carreira acadêmica ao estudo da Cuba contemporânea, sendo autor/coeditor de 16
livros e de inúmeros artigos em publicações acadêmicas. Ao longo da última
década, suas pesquisas lançaram luzes sobre a cooperação médica cubana. Ele
acompanhou missões de pessoal médico cubano em El Salvador após o furacão e foi
observador do trabalho dos médicos cubanos na Guatemala.
Ele entrevistou 270 profissionais médicos cubanos, bem como
estudantes da Elam. Kirk é
coautor de Cuban Medical Internationalism: Origins, Evolution and Goals (New
York: Palgrave Macmillan, 2009) e autor de Healthcare Without Borders:
Understanding Cuban Medical Internationalism (Gainesville: University Press of
Florida, a ser publicado em junho de 2015). Ele também publicou artigos sobre a
cooperação médica cubana em International Journal of Cuban Studies, New
Internationalist, Temas, Counterpunch, Journal of Iberian and Latin American
Studies, The Latin Americanist, Diplomacy and Statecraft, Bulletin of Latin
American Research, Latin American Perspectives, e Canadian Journal of
Infectious Diseases and Medical Microbiology.
Via –
Pravda.ru
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at: http://port.pravda.ru/news/mundo/09-08-2015/39224-medicos_cubanos-0/#sthash.WaFnE6Ww.8K8zJHqv.dpuf
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