Segundo o Ministério da Saúde, o número de casos de
microcefalia saltou de 147, em 2014, para 739 neste ano, a maioria (487) em
Pernambuco. Há indícios de possível relação entre as ocorrências e a presença
do vírus Zika nas gestantes.
Para enfrentar o surto da doença, o ministério
criou uma força-tarefa e monitora e investiga os casos, além de estar
orientando a população sobre o tema. Já o governo de Pernambuco elabora
protocolos de atenção à saúde específicos.
Diante dos números, o governador do Estado, Paulo Câmara
(PSB), enviou, na manhã desta quarta (25), um ofício à presidenta Dilma
Rousseff (PT) solicitando uma audiência para discuir um plano de combate a
doenças transmitidas por mosquitos.
O governo de Pernambuco identifica o aumento significativo
das notificações de dengue este ano. Em comparação ao mesmo período de 2014, o
crescimento foi de 580%, resultando em 117.250 notificações em 2015, com 61
municípios pernambucanos em situação de risco de epidemia de dengue e 78 em
situação de alerta para a epidemia.
Além da dengue, o mosquito Aedes Aegypti também é
transmissor da febre chikungunya e do zika vírus, principal suspeito de causar
microcefalia em bebês, segundo o Ministério da Saúde.
Técnicos da Secretaria de Estado da Saúde estão nesta quarta
(25) em Brasília finalizando o protocolo para orientar os profissionais do
setor no estado sobre a atenção às gestantes e indicações sobre os atendimentos
médico e psicológico. Pernambuco trabalha atualmente com nove hospitais de
referência para atender mães e bebês nas macrorregiões de Recife e de Caruaru,
Petrolina e Serra Talhada.
Setenta e duas unidades de saúde estão notificando os casos
em 108 municípios. A notificação passou a ser compulsória e imediata no estado
desde 27 de outubro. Entre as ações, a secretaria determinou que grávidas que
apresentam manchas vermelhas na pele façam coleta de sangue para diagnóstico
laboratorial e sejam submetidas a ultrassom quando estiverem entre a 32ª e a
35ª semana de gestação.
As grávidas que chegam aos hospitais com resultados de
ultrassom indicando que o bebê tem microcefalia também passam por exames de
sangue e são encaminhadas para iniciar atendimento psicológico. Para a
secretária executiva de Vigilância em Saúde, Luciana Albuquerque, o grande
número de casos de microcefalia em Pernambuco é resultado da notificação em
tempo real estabelecida em outubro.
“Na medida em que temos notificação imediata, é de se
esperar que os números aumentem. Todo o estado está notificando, então, os
números podem subir”, disse Luciana.
O Ministério da Saúde, que já criou um grupo de trabalho
para tratar do assunto, elaborou um tira-dúvidas, que pode ser acessado aqui, e
uma série de orientações para as gestantes, que publicamos no pé desta matéria.
Nova enferminadade?
Sem estudos ainda que atestem a relação da infecção de
gestantes pelo vírus Zika com o nascimento de crianças com microcefalia, a
neuropediatra Vanessa Van der Linden defende que os novos casos dessa
deformidade no cérebro revelam uma nova doença, já que fogem do padrão
conhecido.
“Se é provocada pelo Zika ou por outro vírus, ou outro
agente, não sabemos. O que posso dizer é que os casos não seguem o padrão que a
gente vê nas outras pacientes que têm infecção congênita e filhos com
microcefalia”, explicou Vanessa, do Hospital Barão de Lucena e presidente da
Associação de Assistência à Criança Deficiente do Recife.
Ela foi a primeira médica a buscar a Secretaria de Saúde de
Pernambuco para alertar sobre o aumento do número de casos de crianças com o
crânio menor que o normal. “Um dia, cheguei à UTI [Unidade de Terapia
Intensiva] e tinha três casos de crianças com a cabecinha assim, isso me deixou
intrigada, normalmente a gente via uma a cada mês ou a cada dois meses”,
relatou.
A microcefalia é uma malformação congênita, em que o cérebro
não se desenvolve de maneira adequada. A neuropediatra esclarece que essa
condição pode ter diversas causas, como agentes químicos e infecções por
toxoplasmose ou pelo citomegalovírus. Cada causador provoca um quadro típico,
como alteração na visão, na audição ou em outros órgãos. Segundo a médica, em
muitos desses novos casos os recém-nascidos têm comprometimento do coração,
“mas a amostra ainda é muito pequena para dizer que está relacionado à nova
doença”.
À medida que os casos foram chegando, a neuropediatra pedia
exames para toxoplasmose e para citomegalovírus, e todos deram negativo. A
especialista diz que recebeu informações de casos parecidos fora do Nordeste e
que tudo deve ser bem investigado.
Segundo ela, há casos de crianças com microcefalia que se
desenvolvem, têm filhos, mas que em outros casos o bebê tem muitas convulsões e
por isso pode não ter o desenvolvimento adequado.
A relação entre o aumento de casos de microcefalia e a
presença do vírus Zika em gestantes foi cogitada mais fortemente há pouco mais
de uma semana, quando o Laboratório de Flavivírus, do Instituto Oswaldo Cruz
(Fiocruz), no Rio, constatou a presença do vírus em amostras de duas gestantes
da Paraíba, cujos fetos foram confirmados com microcefalia.
Segundo o Ministério da Saúde, apesar de ser um resultado
importante, os dados atuais não permitem confirmar a relação da infecção pelo
Zika com a microcefalia. Essa correlação está sendo investigada em parceria
pelo governo federal e os estaduais.Os primeiros casos de Zica no Brasil foram
registrados em maio de 2015.
Via Portal Vermelho
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