POR FERNANDO BRITO
Ilimar Franco, um dos raros colunistas de política que não
pratica a vaidade como componente principal de seu trabalho é, por isso, um dos
mais competentes e equilibrados analistas do cenário político, até porque se
desobriga de, como outros, ter um script determinado e dar atenção a este
detalhe tão fora de moda chamado fato.
E é com fatos que ele traduz uma situação que precisa ser
compreendida para que tanto o Governo quanto a oposição definam suas ações: o
“impeachment” de Dilma, ao menos no curto prazo, está descartado como
perspectiva política e não é mais bandeira senão para grupos isolados, sem
representatividade que, aliás, acabarão engendrando uma candidatura e uma
organização de extrema-direita, de características de classe média urbana.
coisa que não se pôde, até agora, dizer de seus histriônicos representantes
eleitorais.
A política real, de disputa pela representação se dará em
torno de outras questões, não mais em torno do golpismo.
A questão urgente – e mais que isso, decisiva em 2018 – é a
de como e quem pode se apresentar à
população como capaz de resgatar o crescimento econômico, não o discurso
moralista mais histérico.
A maré da histeria passou e os tucanos se viram na praia, ao
lado de Eduardo Cunha. Recuaram, como caranguejos.
E Ilimar Franco lhes narra, com precisão, o seu atabalhoado
recuo.
O PSDB perdeu a batalha do impeachment
Ilimar Franco, em O Globo
Passaram-se 11 meses desde a posse da presidente reeleita,
Dilma Rousseff. A crise econômica entrou o ano de 2015 galopando. O PSDB, que
perdeu as eleições com 48% dos votos, pegou carona nesse galope. Desde o
segundo dia de mandato adotou, como sua principal proposta programática para o
país, o impeachment da presidente Dilma.
Estamos no fim de 2015. Por isso, o núcleo estratégico do
PSDB debate uma reviravolta na sua linha de ação. Avalia-se que agora se
deveria dar prioridade à crise econômica. Em busca de um projeto alternativo, o
vice-presidente da Executiva, Alberto Goldman, está coordenando um grupo de
trabalho. Na falta dessa linha programática, alguns tucanos constatam, com
desconforto, que até o PMDB já tem uma proposta para o Brasil.
— Não podemos adotar a mesma agenda em 2016. Devemos dar
prioridade à crise. O PMDB tem uma proposta para o país. O PSDB não tem um
projeto definido — alerta o secretário-geral do PSDB, deputado Sílvio Torres
(SP).
Sobre as razões pelas quais a destituição da presidente
Dilma não saiu, ele analisa:
— Não saiu por dois motivos. Primeiro: o governo se
recompôs. Não temos os votos necessários para recorrer de uma decisão do
presidente da Câmara e muito menos os 342 para aprovar o impeachment.
A situação enfrentada pelo presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, que recebeu o apoio dos tucanos até a última terça-feira, é o segundo
fundamento que explica por que fracassou a campanha pelo impeachment.
— O Eduardo Cunha foi se enfraquecendo muito. A saída de
Eduardo Cunha é uma exigência. Como ele pode decidir o encaminhamento da
votação dos projetos mais importantes para a economia do país? — completa
Torres.
Dito isso, não é o caso de debater quem tem razão. Ou do que
cada um merece. Se as decisões do TCU ou do TSE são suficientes ou não. Se é
necessário, ou não, uma ligação direta da presidente Dilma com a Lava-Jato. Ou
se ela sabia ou não do que acontecia na Petrobras. Nem se a derrota da luta
pelo impeachment é definitiva ou temporária. Mas cabe analisar friamente o
retrato do momento e por que a palavra de ordem da oposição não foi adiante.
1. O PSDB não tem apoio social suficiente para empunhar essa
bandeira sozinho. Especialistas dizem que o partido tem o respaldo (direto)
entre 15% a 20% dos eleitores nacionais. Sendo assim, o restante de seus votos
(como o de qualquer outro partido) é de quem é “anti” alguma coisa.
2. Para o PSDB levar adiante o impeachment, é preciso muito
mais que as ruas. O partido deveria estar unido internamente em torno dessa
bandeira. Até hoje não está. A legenda deveria reconhecer suas limitações e
buscar o apoio de outras forças políticas. Não foi o que os tucanos fizeram.
Aliás, a história recente ensina que a unidade das forças foi decisiva no
impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
3. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, apostou na
divisão. Adotou como sua palavra de ordem “Eleições Já”. Seria o caso de
perguntar: ela contribuiu para unir ou dividir as forças políticas? Vamos nos
ater ao PMDB. O partido que elegeu o vice-presidente da República.
Um experiente consultor político faz as seguintes perguntas:
“Será que o PMDB toparia novas eleições e ser excluído do poder? O partido tem
o vice-presidente. Será que ele se conformaria em mendigar a vice na chapa dos
tucanos? O partido tem sete ministérios. Será que ele derrubaria a presidente
Dilma para depois implorar ao PSDB para que tenha seus sete ministérios?
Enfim, ao defender novas eleições, o PSDB mandou o recado
que também queria a cabeça do vice Michel Temer.
4. O alvo do impeachment, a presidente Dilma, não pode ser
comparada ao ex-presidente Fernando Collor, que era um outsider. Collor recebeu
aquele voto de quem é contra tudo que está aí. Serviu para ganhar, mas não para
governar. Por isso, venceu as eleições sem ter base social ou partidária. Mais
uma vez, não se trata de debater quem tem ou não razão. O fato é que o PRN não
é o PT. Collor e o PRN não tinham no seu entorno um cinturão de políticos e
partidos aliados. Ele também não tinha apoio na sociedade, devido às suas
medidas econômicas iniciais. Nem mesmo tinha ao seu lado organizações, por mais
débeis que sejam, que saíriam em sua defesa, como a CUT, o MST, a UNE, a
Contag, a UBES, a CTB etc
5. Por fim, a presidente Dilma e seu governo, têm na
retaguarda um líder político como Lula. Por mais quebrada que esteja sua asa,
ele não pode ser desprezado. Para muitos, trata-se da maior liderança popular do
país desde Getúlio Vargas. Não cabe discutir se é ou não é. As pesquisas
públicas mais recentes, neste momento de maré baixa, dão ao ex-presidente a
liderança, com 23%, nas pesquisas espontâneas de intenções de voto.
Um dos políticos mais antigos, em atividade, adverte que não
se deve subestimar, com o aprofundamento da crise econômica, uma personalidade
política que encarna um período de bem-estar. Ele pergunta: “Será que os
eleitores não verão em Lula a encarnação de quem seria capaz de trazer de volta
a bonança e a prosperidade?”. Se essa imagem se criará, ou não, ninguém sabe.
Via - Tijolaço
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