“Estamos em igualdade de condições? (Não!) Temos igualdade
de oportunidades? (Não!) Usufruímos de todos os direitos da mesma forma
igualitária e democrática? (Não!) E é por isso que nós estamos aqui. E é por
isso que as mulheres negras marcham”, anunciou a ministra Nilma Lino Gomes, do
Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, na comissão geral
que a Câmara dos Deputados realizou, nesta terça-feira (17), para saudar a
Marcha das Mulheres Negras.
A Marcha das Mulheres Negras é importante para enfrentar a pauta conservadora do Congresso, enfatizaram a ministra Nilma Lino e as diversas oradoras na comissão geral |
Por Márcia Xavier
Os discursos que seguiram ao da ministra confirmaram a
disposição de luta de vencer o racismo e o sexismo que, juntos, atingem de
forma perversa mais as mulheres negras. Para reforçar essa luta, a deputada
Alice Portugal (PCdoB-BA), que falou em nome do PCdoB, declarou que “estamos
completamente alinhadas nessa batalha contra o racismo e contra todas as ordens
de preconceito, que precisam ser enfrentadas com a dignidade que a mulher negra
emprestou à construção histórica deste nosso país, com sua força, com sua
garra, com sua ginga, com sua coragem para lutar e de se rebelar contra toda
injustiça”.
A líder do PCdoB na Câmara, deputada Jandira Feghali (RJ),
ao discursar, afirmou que é inaceitável que no Brasil, de maioria negra, que é
um país miscigenado, haja racismo. “Nós precisamos valorizar, respeitar e fazer
disso algo que nos traga paz, harmonia, integração e convivência. Não é o termo
tolerar que se adequa. O termo aqui é valorizar e fazer com que essas
diferenças sejam algo positivo para este país”.
Pauta conservadora
E destacou que a Marcha das Mulheres Negras é importante
para enfrentar a pauta conservadora do Congresso, que se manifesta na tentativa
da redução da maioridade penal, no fim do Estatuto do Desarmamento, nas
relações de trabalho, etc. Feghali convocou para que todos “juntos e misturados”
façam parte da luta contra o racismo, contra o preconceito e pela defesa da
igualdade.
Alice Portugal também falou sobre a necessidade de combater
a pauta regressiva do Congresso: “Nós temos que soerguer num discurso uníssono
do movimento negro, do movimento de mulheres, da política progressista
nacional, a luta contra a pauta regressiva que neste Congresso Nacional se
tenta dia a dia afirmar como elemento da política atual”.
E citou o projeto de lei de autoria do presidente da Câmara,
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que quer dificultar o atendimento médico às
vítimas de estupro. “Temos que devolver com repúdio profundo o impedimento de
assistência a mulheres que chegam sangrando aos hospitais brasileiros”,
acrescentando outras investidas contra as mulheres trabalhadoras, como o
projeto de terceirização e o ônus da crise, “quando, na verdade, queremos que
se taxem as grandes fortunas, que se cumpra o desiderato de que paga mais
imposto quem tem mais dinheiro”, discursou Alice Portugal.
A ministra Nilma Lino Gomes também falou sobre as ameaças
que pesam sobre a sociedade brasileira. “Nós estamos em momento em que sabemos
que alguns dos nossos direitos sociais começam a ser ameaçados. A Marcha das
Mulheres Negras vai ser um farol, uma luz em Brasília, que vai iluminar a todos
nós e o Brasil sobre o que significa essa luta histórica das mulheres negras, o
que significam esses dados de desigualdade racial e de gênero que nós vemos, o
que significa a perversidade do racismo quando vai se alinhando com as questões
de gênero, de orientação sexual, de classe econômica”, alertou a ministra.
Muitos motivos
A secretária da Mulher da Bahia, Olívia Santana, que está em
Brasília para participar da Marcha das Mulheres Negras, destacou que são muitos
os motivos que fazem com que as mulheres negras cheguem a Brasília, citando a
necessidade de que os negros e negras deixem de ser apenas objetos de políticas
públicas e dos programas sociais. “Os negros e negras precisam ter a caneta na
mão para decidir sobre as suas vidas, porque são sujeitos, existem, apesar da
realidade dura e de morte.”
A deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), presidenta nacional do
Partido, foi outra voz que se levantou em defesa do empoderamento da mulher
negra, enfatizando a importância e necessidade de que elas ocupem os espaços
públicos para denunciar a realidade de desigualdade que vivem e manifestar a
disposição de lutar pela construção de uma sociedade efetivamente igualitária.
Via – Portal Vermelho
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