Uma educação para ser comparada ao nosso obsoleto sistema de ensino, principalmente em nosso estado onde
nossos governantes planejam fechar postos públicos de ensino no ano de 2016.
Ensino finlandês é uma das referências mundiais em qualidade
da educação
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Por Paula Adamo Idoeta - Da BBC Brasil
Dona de um dos sistemas de ensino mais elogiados do mundo, a
Finlândia recebeu, de fevereiro a julho deste ano, 35 professores de institutos
federais brasileiros para treinamento e capacitação.
Embora em 2012 o país nórdico tenha caído do topo para a 12ª
posição do Pisa, o principal exame internacional de educação (o Brasil ficou na
58ª posição do ranking, entre 65 países), ele ainda é apontado pela OCDE – a
entidade que aplica o Pisa – como "um dos líderes mundiais em performance
acadêmica" e se destaca pela igualdade na educação, alta qualificação de
professores e por constantemente repensar seu currículo escolar.
Os docentes brasileiros foram selecionados pelo programa
Professores para o Futuro, do CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico do Ministério da Educação), para passar cinco meses
estudando a educação finlandesa.
A BBC Brasil conversou com quatro desses professores, para
conhecer o que viram na Finlândia e saber se lições trazidas de lá podem
facilitar seu trabalho em sala de aula e melhorar o aprendizado nas
instituições públicas de ensino onde atuam.
Apesar das diferenças com o sistema brasileiro, os
professores disseram ver como "pequenas revoluções" o que podem
agregar do ensino finlandês em suas rotinas.
"Vou começar com um trabalho de formiguinha, mostrando
aos meus colegas o que aprendi, gravando minhas aulas e adaptando (as
metodologias) à nossa realidade e aos nossos estudantes", diz a professora
Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.
Os 25 institutos federais que enviaram professores ao país
nórdico reúnem cursos de ensino médio, profissional e superior com ênfase em
ciência e tecnologia.
Veja o que os professores aprenderam na Finlândia:
1. Usar mais projetos nas aulas
Os professores entrevistados pela BBC Brasil dizem que
projetos elaborados por alunos e a resolução de problemas estão ganhando
protagonismo no ensino finlandês, em detrimento da aula tradicional.
São as metodologias chamadas de "problem-based
learning" e "project-based learning" (ensino baseado em
problemas ou projetos). Neles, problemas – fictícios ou reais da comunidade –
são o ponto de partida do aprendizado. Os alunos aprendem na prática e buscam
eles mesmos as soluções.
"Os projetos são desenvolvidos sem o envolvimento tão
direto do professor, em que os alunos aprendem não só o conteúdo, mas a gerir
um plano e lidar com erros", diz Bruno Garcês, professor de Química do
Instituto Federal do Mato Grosso, que pretende aplicar o método em aulas de
experimentos práticos.
"Um curso de Administração tem disciplinas tradicionais
no primeiro ano. Mas, nos dois anos e meio seguintes, os alunos deixam de ter
professores, passam a ter tutores, formam empresas reais e aprendem enquanto
desenvolvem o negócio", diz Francisco Fechine, coordenador do Instituto
Federal de Tecnologia da Paraíba.
Não é uma estrutura que sirva para qualquer tipo de curso,
mas funciona nos voltados, por exemplo, a empreendedorismo, explica Joelma
Kremer, do Instituto Federal de Santa Catarina.
"E os alunos têm uma carga de leitura, para buscar (nos
livros) as ferramentas que precisam para resolver os problemas."
2. Foco na produção de conteúdo pelos alunos
A resolução de problemas e projetos é parte de um ensino
mais centrado na produção do próprio aluno. Ao professor cabe mediar a
interação na sala de aula e saber quais metas têm de ser alcançadas em cada
projeto.
"Nós (no Brasil) somos mais centrados em o professor
preparar a aula, dar e corrigir exercícios. O aluno faz pouco. Podemos dar mais
espaço para o aluno avaliar o que ele vai desenvolvendo", diz a professora
Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.
"No modelo tradicional de ensino, quem mais aprende é o
professor. Lá (na Finlândia) é o aluno quem tem de buscar conteúdo, e o
professor tem que saber qual o objetivo da aula. Para isso você não precisa de
muita tecnologia, mas sim de capacitação (dos docentes)", agrega Joelma
Kremer.
3. Repensar o papel da avaliação
Professores Fechine, Bruno Garcês e Kelly Santos em sala de
aula finlandesa: mais projetos práticos e autonomia dos alunos
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Nesse contexto, a avaliação tem utilidade diferente, diz
Kremer: "A avaliação está presente, mas os alunos se autoavaliam, avaliam
uns aos outros, e o professor avalia os resultados dos projetos".
"Ao reduzir o número de testes (formais) e avaliar mais
trabalhos em grupo e atividades diferentes, os professores têm um filme do
desempenho do aluno, e não apenas a foto (do momento da prova)", diz
Fechine.
"Conhecemos um professor de física finlandês que
avaliava seus alunos pelos vídeos que eles gravavam dos experimentos feitos em
casa e mandavam por e-mail ou Dropbox."
4. Usar tecnologia e até a mobília para ajudar o professor
A tecnologia não é parte central desse processo, mas auxilia
o trabalho do professor em estimular a participação dos alunos finlandeses.
"Em vez de proibir o celular, os professores os usam em
sala de aula para estimular a participação dos alunos – por exemplo,
respondendo (via aplicativos especiais) enquetes que tivessem a ver com as
aulas", conta Kremer.
"Isso torna a aula mais interessante para eles. E é
complicado para a gente ficar dizendo, 'desliga o celular', algo que já começa
estabelecendo uma relação de antipatia com o aluno."
Algumas salas têm mobília especialmente projetada para que
os alunos possam ser agrupados ou separados
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Salas especialmente projetadas e tecnologia amparam o
trabalho do professor
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Os professores brasileiros também conheceram algumas salas
de aula com mobília especialmente projetada, diferente do modelo tradicional de
cadeiras individuais voltadas à lousa.
"Muitas salas têm sofás, poltronas, mesas ajustáveis
para trabalhos individuais ou em grupo e vários projetores", agrega
Kremer. "É um mobiliário pensado para essa metodologia diferente de
ensino."
Fechine vai reproduzir parcialmente a ideia no Instituto Federal
da Paraíba, trocando as carteiras de braço por mesas que possam ser agrupadas
para trabalhos.
5. Desenvolvimento de habilidades do século 21
A professora Giani Barwald Bohm conta que o ensino
fundamental finlandês continua dividido em disciplinas tradicionais, mas focado
cada vez mais no desenvolvimento de habilidades dos alunos, e não apenas na
assimilação de conteúdo tradicional.
"(São desenvolvidas) competências do século 21, como
comunicação, pensamento crítico e empreendedorismo", diz ela.
6. Intervalos mais frequentes entre as aulas
A Finlândia adota aulas de 45 minutos seguidas de 15 minutos
de intervalo na educação básica – prática que Bruno Garcês acha que poderia ser
disseminada por aqui. "Tira a tensão de ficar tantas horas sentado",
diz.
Fechine também considera a ideia interessante, mas aponta
que a grande carga horária no ensino médio brasileiro dificulta sua aplicação e
lembra que na Finlândia ela é acompanhada de uma forte cultura de pontualidade.
"As aulas começam no horário e aluno rapidamente entra na (rotina de) resolução
de problemas."
7. Cultivar elos com a vida real e empresas
Muitos dos projetos dos estudantes finlandeses são tocados
em parcerias com empresas, para aumentar sua conexão com a vida real e o
mercado de trabalho, algo que Garcês acha que poderia ser mais frequente no
Brasil.
"Aqui na área rural do Mato Grosso podemos ter uma
interação maior com as fazendas locais, ministrando aulas a partir do que os
produtores rurais precisam."
A vantagem disso é que o aluno vê sentido prático e
profissional no que está aprendendo, explica Giani Barwald Bohm. "Ele
desenvolve algo diretamente para o mercado de trabalho, que vai ter relevância
para o próprio estudante e é contextualizado com as empresas locais."
Ela destaca também as competições de habilidades práticas desenvolvidas
por escolas locais (um preparativo para a competição internacional WorldSkills,
que neste ano será realizada em São Paulo, pelo Senai, entre quarta e sábado
desta semana).
A formação dos professores é apontada como a principal chave
do sucesso do ensino finlandês. Os brasileiros observaram lá uma capacitação
mais prática, voltada ao dia a dia da sala de aula, e mais interação entre o
corpo docente.
"Algumas salas têm dois professores - um como ouvinte
do outro caso seja menos experiente", relata Fechine.
"Há uma relação mais direta (entre os professores), com
muita conversa entre quem dirige o ensino e quem dá aula", agrega Barwald
Bohm.
"Além disso, há uma valorização cultural do professor
lá, semelhante à de outras profissões. O salário é equivalente e as condições
de trabalho dão bastante tempo para o planejamento das aulas", diz Bruno
Garcês.
Via – Dag Vulpi
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