“Quando um sujeito ganhava um lote, era preciso dar um jeito
de conseguir a escritura, senão mais tarde perdia a terra, já que não tinha
como provar o direito de posse”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano.
Salles foi um dos primeiros migrantes nordestinos a
conseguir em Paranavaí uma chácara situada em área de terras devolutas do
Estado do Paraná, no entanto, como não tinha dinheiro para requerer o título de
terras em Curitiba, mais tarde o pioneiro perdeu a propriedade.
“Ele não foi o único, muita gente passou por isso. Quando um
sujeito ganhava um lote, era preciso dar um jeito de conseguir a escritura,
senão mais tarde perdia a terra, já que não tinha como provar o direito de
posse”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que a terra não
era de graça, pois era necessário gastar com a documentação.
Frutuoso Joaquim admitiu que o futuro da Família Salles
poderia ter sido bem diferente se não tivesse desperdiçado tantas oportunidades
de conseguir terras e também legalizá-las. “Era pra eu ter ficado rico. A gente
ganhou, mas não aproveitou, tem que se conformar”, disse Salles em entrevista
ao jornalista Saul Bogoni.
Apesar das perdas, o pioneiro pernambucano viveu em
Paranavaí até os últimos dias de vida. “Frutuoso tinha fibra de verdadeiro
bandeirante. Venceu todas as intempéries e sobreviveu inclusive as pestes e
doenças que tomavam conta da região”, afirmou o pioneiro sul-mato-grossense
Alcides Loureiro de Almeida em entrevista à Prefeitura de Paranavaí.
Porém, nem todos resistiram a tantas dificuldades.
Muitos migrantes que ganharam terras do Governo do Paraná
abandonaram Paranavaí, já que desempenhavam atividades que não permitiam lucrar
o suficiente para investir na aquisição da escritura.
“Muitos ficavam com medo, pois não tinham garantia nenhuma
de que não seriam expulsos de suas terras. O peão não aguentava e partia pra
outro canto. Só que isso foi ruim pra nós também. Apareceram muitos grileiros
por causa das terras abandonadas”, comentou o pioneiro gaúcho João Alegrino de
Souza.
A qualidade de vida naquele tempo era péssima, tanto que
muitos morriam antes mesmo de terem a chance de explorar as próprias terras.
João Mariano citou como exemplo um conterrâneo que contraiu malária e faleceu
um mês depois.
“Ele tinha acabado de conseguir um pedaço de chão. A família
ficou tão desiludida com o lugar que partiram pra Londrina [no Norte Central
Paranaense]”, relatou.
À época, alguns migrantes, mesmo sem condições financeiras
para custear despesas com a escritura de uma propriedade, conseguiam resolver a
situação, pois contavam com a amizade de algumas autoridades locais, como é o
caso do pioneiro paulista Salatiel Loureiro. “Eu pedi pro Capitão Telmo Ribeiro
requerer meu título de terras e ele não me cobrou nada. Foi até Curitiba e me
fez o favor”, declarou.
Curiosidade
O pioneiro Frutuoso Joaquim de Salles, que foi vaqueiro e
boiadeiro, tinha a maior tropa de burros de Paranavaí.
Via – Diário do noroeste
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