segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

HISTÓRIAS DO NOROESTE - Pioneiros perderam terras por falta de recursos

“Quando um sujeito ganhava um lote, era preciso dar um jeito de conseguir a escritura, senão mais tarde perdia a terra, já que não tinha como provar o direito de posse”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano.


Não foram poucos os pioneiros de Paranavaí, no Noroeste do Paraná, que no decorrer dos anos perderam terras por não terem condições financeiras para legalizarem as propriedades. Um exemplo é o pioneiro pernambucano Frutuoso Joaquim de Salles que fixou residência na Vila Montoya, em 1929.

Salles foi um dos primeiros migrantes nordestinos a conseguir em Paranavaí uma chácara situada em área de terras devolutas do Estado do Paraná, no entanto, como não tinha dinheiro para requerer o título de terras em Curitiba, mais tarde o pioneiro perdeu a propriedade.

“Ele não foi o único, muita gente passou por isso. Quando um sujeito ganhava um lote, era preciso dar um jeito de conseguir a escritura, senão mais tarde perdia a terra, já que não tinha como provar o direito de posse”, afirmou o pioneiro cearense João Mariano, acrescentando que a terra não era de graça, pois era necessário gastar com a documentação.

Frutuoso Joaquim admitiu que o futuro da Família Salles poderia ter sido bem diferente se não tivesse desperdiçado tantas oportunidades de conseguir terras e também legalizá-las. “Era pra eu ter ficado rico. A gente ganhou, mas não aproveitou, tem que se conformar”, disse Salles em entrevista ao jornalista Saul Bogoni.

Apesar das perdas, o pioneiro pernambucano viveu em Paranavaí até os últimos dias de vida. “Frutuoso tinha fibra de verdadeiro bandeirante. Venceu todas as intempéries e sobreviveu inclusive as pestes e doenças que tomavam conta da região”, afirmou o pioneiro sul-mato-grossense Alcides Loureiro de Almeida em entrevista à Prefeitura de Paranavaí.

Porém, nem todos resistiram a tantas dificuldades.

Muitos migrantes que ganharam terras do Governo do Paraná abandonaram Paranavaí, já que desempenhavam atividades que não permitiam lucrar o suficiente para investir na aquisição da escritura.

“Muitos ficavam com medo, pois não tinham garantia nenhuma de que não seriam expulsos de suas terras. O peão não aguentava e partia pra outro canto. Só que isso foi ruim pra nós também. Apareceram muitos grileiros por causa das terras abandonadas”, comentou o pioneiro gaúcho João Alegrino de Souza.

A qualidade de vida naquele tempo era péssima, tanto que muitos morriam antes mesmo de terem a chance de explorar as próprias terras. João Mariano citou como exemplo um conterrâneo que contraiu malária e faleceu um mês depois.

“Ele tinha acabado de conseguir um pedaço de chão. A família ficou tão desiludida com o lugar que partiram pra Londrina [no Norte Central Paranaense]”, relatou.

À época, alguns migrantes, mesmo sem condições financeiras para custear despesas com a escritura de uma propriedade, conseguiam resolver a situação, pois contavam com a amizade de algumas autoridades locais, como é o caso do pioneiro paulista Salatiel Loureiro. “Eu pedi pro Capitão Telmo Ribeiro requerer meu título de terras e ele não me cobrou nada. Foi até Curitiba e me fez o favor”, declarou.

Curiosidade
O pioneiro Frutuoso Joaquim de Salles, que foi vaqueiro e boiadeiro, tinha a maior tropa de burros de Paranavaí.

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