A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
virar ministro de Relações Exteriores está sendo negada pelo petista. Lula
avalia que precisa enfrentar as acusações contra ele para recuperar a sua
imagem e que a sua ida para um Ministério poderia desgastá-lo mais. A
informação é de Kennedy Alencar.
Por Kennedy Alencar
Em seu blog
O ex-presidente Lula resiste à ideia de virar ministro das
Relações Exteriores. Há uma articulação de ministros e de deputados do PT para
tentar convencer Lula e a presidente Dilma a aceitar tal solução.
Lula tem dito não. Dilma não está convencida de que seja a
melhor saída.
Os defensores da ida de Lula para o Itamaraty argumentam que
seria uma forma de protegê-lo das investigações da força-tarefa de Curitiba e
de uma eventual ordem de prisão determinada pelo juiz Sérgio Moro.
Também alegam que Lula, no ministério, poderia rearticular o
governo e ajudar a presidente Dilma Rousseff a encontrar uma saída para as
crises política e econômica.
Segundo um ministro, caiu a ficha da presidente em relação à
Lava Jato. Traduzindo: a presidente estaria convencida de que a Operação Lava Jato
coloca em risco o mandato dela e de que o governo será derrubado se não reagir
com ousadia. Daí essa articulação para tentar trazer Lula para o governo.
Mas é bom registrar: Dilma ainda não foi persuadida de que
seja a melhor solução. Ela está conversando sobre a possibilidade. Repetindo: é
mais uma desejo de ministros petistas e de deputados do PT. Dilma teme ficar
ainda menor no poder. Seria a confissão da incapacidade de governar.
No entanto, alguns petistas argumentam que ela já se
enfraqueceu muito e que Lula seria importante para liderar uma reação do
governo.
A cúpula do governo considera que a entrevista dada na sexta
passada pelo procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima foi um
indicativo de que a Lava Jato tentará condenar Lula e depois chegará a Dilma,
tirando-a do poder. Esse é o diagnóstico daqueles que defendem Lula no
ministério, mesmo que isso signifique uma diminuição ainda maior do poder da
presidente.
A leitura de que aceitar um ministério possa ser vista como
uma fuga das investigações de Curitiba é um dos motivos que levam Lula a
resistir à ideia. O ex-presidente e seus advogados avaliam que têm como
responder juridicamente à acusação de que ele recebeu vantagens com origem em
propina da Petrobras.
Um dos advogados argumenta que, depois de 40 anos de vida
pública, se Lula quisesse ter ficado rico com propina, se fosse realmente
corrupto, poderia possuir muito mais do que um sítio em Atibaia e um
apartamento no Guarujá, bens dos quais ele nega ser proprietário.
A linha de defesa deve ser admitir que houve presentes de
empreiteiras e agrados de amigos, mas nada que poderia ser caracterizado como
pagamento por ajuda em contratos da Petrobras. Os advogados sustentarão que as
palestras foram realizadas de forma legítima e que os recursos doados ao
Instituto Lula foram recebidos legalmente.
Lula avalia que precisa enfrentar as acusações que pesam
contra ele para recuperar a sua imagem. A ida para um ministério poderia
desgastá-lo ainda mais. Um complicador: estimularia a Procuradoria Geral da
República a seguir com dureza as mesmas investigações de Curitiba. Os
questionamentos continuariam a ser os mesmos, num clima de guerra política
ainda maior.
E haveria risco de um percalço futuro: em caso de queda de
Dilma do poder, caso seja aprovado o impeachment nos próximos meses, Lula
perderia o ministério, ficaria sem o foro privilegiado e voltaria a responder
perante Sérgio Moro.
Até agora, a tendência é Lula continuar recusando a ideia de
virar ministro e continuar fazendo política fora do governo com maior
liberdade. Na manhã desta quarta-feira, Lula se reuniu com o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
É uma conversa importante. Será uma surpresa se Lula mudar
de opinião e aceitar virar ministro de Dilma.
Por último, uma eventual ordem de prisão contra o
ex-presidente teria de ter bases jurídicas muito fortes, sob pena de
vitimizá-lo. Haveria uma parcela de seguidores a defendê-lo com mais vigor do
que na sexta passada, dia em que foi deflagrada a Aletheia, a fase da Lava Jato
com foco no ex-presidente e seus familiares. Não é tão simples assim destruir
Lula. Mesmo sob bombardeio, ele é uma figura política forte. Não é carta fora
do baralho.
Via Jornal GGN
Nenhum comentário:
Postar um comentário