quinta-feira, 10 de março de 2016

Lula resiste à ideia de virar ministro de Dilma

A possibilidade de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virar ministro de Relações Exteriores está sendo negada pelo petista. Lula avalia que precisa enfrentar as acusações contra ele para recuperar a sua imagem e que a sua ida para um Ministério poderia desgastá-lo mais. A informação é de Kennedy Alencar.


Por Kennedy Alencar
Em seu blog

O ex-presidente Lula resiste à ideia de virar ministro das Relações Exteriores. Há uma articulação de ministros e de deputados do PT para tentar convencer Lula e a presidente Dilma a aceitar tal solução.

Lula tem dito não. Dilma não está convencida de que seja a melhor saída.

Os defensores da ida de Lula para o Itamaraty argumentam que seria uma forma de protegê-lo das investigações da força-tarefa de Curitiba e de uma eventual ordem de prisão determinada pelo juiz Sérgio Moro.

Também alegam que Lula, no ministério, poderia rearticular o governo e ajudar a presidente Dilma Rousseff a encontrar uma saída para as crises política e econômica.

Segundo um ministro, caiu a ficha da presidente em relação à Lava Jato. Traduzindo: a presidente estaria convencida de que a Operação Lava Jato coloca em risco o mandato dela e de que o governo será derrubado se não reagir com ousadia. Daí essa articulação para tentar trazer Lula para o governo.

Mas é bom registrar: Dilma ainda não foi persuadida de que seja a melhor solução. Ela está conversando sobre a possibilidade. Repetindo: é mais uma desejo de ministros petistas e de deputados do PT. Dilma teme ficar ainda menor no poder. Seria a confissão da incapacidade de governar.

No entanto, alguns petistas argumentam que ela já se enfraqueceu muito e que Lula seria importante para liderar uma reação do governo.

A cúpula do governo considera que a entrevista dada na sexta passada pelo procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima foi um indicativo de que a Lava Jato tentará condenar Lula e depois chegará a Dilma, tirando-a do poder. Esse é o diagnóstico daqueles que defendem Lula no ministério, mesmo que isso signifique uma diminuição ainda maior do poder da presidente.

A leitura de que aceitar um ministério possa ser vista como uma fuga das investigações de Curitiba é um dos motivos que levam Lula a resistir à ideia. O ex-presidente e seus advogados avaliam que têm como responder juridicamente à acusação de que ele recebeu vantagens com origem em propina da Petrobras.

Um dos advogados argumenta que, depois de 40 anos de vida pública, se Lula quisesse ter ficado rico com propina, se fosse realmente corrupto, poderia possuir muito mais do que um sítio em Atibaia e um apartamento no Guarujá, bens dos quais ele nega ser proprietário.

A linha de defesa deve ser admitir que houve presentes de empreiteiras e agrados de amigos, mas nada que poderia ser caracterizado como pagamento por ajuda em contratos da Petrobras. Os advogados sustentarão que as palestras foram realizadas de forma legítima e que os recursos doados ao Instituto Lula foram recebidos legalmente.

Lula avalia que precisa enfrentar as acusações que pesam contra ele para recuperar a sua imagem. A ida para um ministério poderia desgastá-lo ainda mais. Um complicador: estimularia a Procuradoria Geral da República a seguir com dureza as mesmas investigações de Curitiba. Os questionamentos continuariam a ser os mesmos, num clima de guerra política ainda maior.

E haveria risco de um percalço futuro: em caso de queda de Dilma do poder, caso seja aprovado o impeachment nos próximos meses, Lula perderia o ministério, ficaria sem o foro privilegiado e voltaria a responder perante Sérgio Moro.

Até agora, a tendência é Lula continuar recusando a ideia de virar ministro e continuar fazendo política fora do governo com maior liberdade. Na manhã desta quarta-feira, Lula se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

É uma conversa importante. Será uma surpresa se Lula mudar de opinião e aceitar virar ministro de Dilma.

Por último, uma eventual ordem de prisão contra o ex-presidente teria de ter bases jurídicas muito fortes, sob pena de vitimizá-lo. Haveria uma parcela de seguidores a defendê-lo com mais vigor do que na sexta passada, dia em que foi deflagrada a Aletheia, a fase da Lava Jato com foco no ex-presidente e seus familiares. Não é tão simples assim destruir Lula. Mesmo sob bombardeio, ele é uma figura política forte. Não é carta fora do baralho.

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