quarta-feira, 23 de março de 2016

Portanto, não se trata de defender Dilma ou Lula, mas de defender nossa frágil e incipiente democracia...

"No Brasil nunca houve governo de esquerda! E quem diz o contrário desconhece ou distorce a história deste país"

Foto de:(Claudinei Chitolina) Arquivo Pessoal - Via Editora Santuário

Por *Claudinei Chitolina

Embora o PT tenha suas raízes históricas na ideologia marxista (leninista e gramsciana), no movimento sindical, na Teologia da Libertação e nas CEBs, o governo petista (de Lula e Dilma) resultou de um amplo consenso de classes. Por isso dizer que os governos Lula e Dilma não foram propriamente de esquerda, porque ser de esquerda significa instaurar do ponto de vista político um outro projeto de sociedade (nos termos de Marx) e não apenas um novo projeto de governo. 

A mudança de partido político no comando de um país ou no exercício do poder não é o mesmo que mudança de projeto político. O neoliberalismo tem diferentes matizes. Não se pode confundir projeto político com programa de partido político. O governo Dilma também não foi e não é de esquerda como poderíamos supor, porque está claro o seu compromisso com os banqueiros e latifundiários (com o setor do agronegócio). 

Aliás, no Brasil, a burguesia que se instalou historicamente no poder é da pior espécie; é da espécie reacionária, porque nunca precisou fazer revolução (lutar para derrubar um regime político e econômico ou para transformar as estruturas da sociedade) tal como ocorreu na Europa. Não é a esquerda que implodiu, mas a direita que sempre esteve no comando e nos desmandos deste país. 

A falta de perspectiva política que ora se apresenta para a sociedade brasileira tem suas raízes mais profundas tanto nos partidos políticos brasileiros quanto no sistema econômico capitalista que rege e determina o jogo político segundo seus interesses. Os políticos são os porta-vozes ou representantes do poder econômico que subjuga o poder político. Somos obrigados a concordar com Marx, que o Estado nas sociedades capitalistas tornou-se um balcão de negócios da burguesia. 

Negar este fato, é desconhecer as entranhas ou a lógica de funcionamento do sistema econômico capitalista que explora, expropria e exclui os trabalhadores dos bens do progresso e degrada os recursos naturais. Democracia e capitalismo são termos incompatíveis, porque a igualdade política e jurídica pressupõe a igualdade econômica. Daí poder-se dizer que o analfabeto político não é necessariamente aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não sabe porque muitos não sabem ler e escrever. A opressão ou dominação mais eficaz é aquela que o indivíduo se autoimpõe. 

E a este fenômeno denominamos em filosofia de ideologia (ver o mundo de ponta cabeça). E neste turbulento momento político em que vivemos, vê-se com clareza meridiana exemplos disso, inclusive de onde menos se deveria esperar. 

Portanto, não se trata de defender Dilma ou Lula, mas de defender nossa frágil e incipiente democracia contra seus detratores (sobretudo a grande mídia - o quarto poder) que deseja impor seus interesses espúrios manipulando a opinião política do povo como se fosse massa de manobra. É preciso ainda questionar a submissão (a falta de autonomia) do Poder Judiciário que julga segundo critérios políticos e não segundo critérios jurídicos ou legais.

*Claudinei Chitolina é professor de Filosofia na UNESPAR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ - PARANAVAÍ E DA PUCPR- MARINGÁ.

Um comentário:

  1. Texto inteligente e de fácil compreensão, expõe os fatos de forma didática, muito bom.

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