sexta-feira, 1 de abril de 2016

31 de março em São Paulo renova espírito de resistência da Sé

A praça da Sé voltou a ser lugar de resistência democrática em São Paulo. Nesta quinta-feira (31) um ato político e musical reuniu, no marco zero da capital paulista, cerca de 50 mil pessoas para denunciar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. A Sé foi tomada pelo movimento social, coletivos culturais e diversas manifestações que indicaram que o espírito de atos, como o do movimento Diretas Já, se mantêm vivo e renovado. A organização foi da Frente Brasil Popular.

Sé tomada durante comício das Diretas Já nos anos 80 e à direita o ato desta quinta-feira (31)

Por Railídia Carvalho
Izabel Donatti Bracco participou da manifestação com a Batucada da Resistência, grupo de sambistas que desde dezembro do ano passado participa das manifestações contra o impeachment. A memória dos comícios pelas Diretas Já, que aconteceram na Sé, e foram vivenciados por ela, agora com 68 anos, ainda a emocionam.

“Isso aqui tava entupido. E dói muito ver que aquilo tudo que a gente batalhou tá correndo risco. Nós batalhamos para votar pra presidente, batalhamos pela constituição, que está sendo vilipendiada. Eu não quero nada mais do que o combate a corrupção, à toda a corrupção e uma justiça imparcial. E é isso que eu não vejo e é por isso que eu estou aqui”, explicou.

Na opinião de Raimundo Bonfim, presidente da Central de Movimentos Populares, que integra a Frente Brasil Popular, núcleo organizador do ato, a Sé voltou a ser palco de resistência.
“É uma onda ocorrendo no Brasil. E a praça da Sé tem muito peso na luta democrática e estar aqui hoje, 31 de março, resistindo, quando se comemora o aniversário do golpe é muito simbólico”, afirmou.

O subprefeito da praça da Sé, Alcides Amazonas, que participou do ato, lembrou que a manifestação é um recado ao congresso nacional. “A mobilização do povo nas ruas vai barrar o impeachment”, afirmou. Amazonas ressaltou que esse ato só poderia acontecer na praça. “A Sé recebeu eventos memoráveis de resistência. O ato de hoje só vai fortalecer o estado democrático”, declarou.

Povo na rua é pressão no congresso

A vice-prefeita de São Paulo, Nádia Campeão, lembrou que a mobilização nas ruas é fundamental para ecoar entre os deputados do congresso nacional que vão votar o impeachment. Nádia chamou a comissão de fraudulenta e disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), deveria ter sido cassado.

“Os nossos deputados estão lutando para mostrar a fraude que é essa comissão e o processo do impeachment. Vamos lutar nas ruas para mostrar ao congresso, aos parlamentares, para mídia que nós nas ruas não vamos deixar passar o golpe”, discursou Nádia.

Na opinião da presidenta do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, a população acordou. “E está dizendo não aceitamos o golpe e quer avançar rumo à democracia com direitos sociais garantidos”, ressaltou. “Este ato é a demonstração daqueles que querem paz contra os que estão fomentando o ódio. Queremos paz mas não fugimos da luta”, completou Socorro.

Governo para todos os brasileiros

O grupo do qual ele faz parte atua dentro de uma concepção política de esquerda. Segundo ele nem todos os evangélicos estão contra Dilma.

“Eu voto Dilma, voto Lula, sou a favor do governo, a favor da justiça, da igualdade e da liberdade”, declarou. Luciano disse ainda que em temas como homofobia, direito ao aborto, o grupo defende que é preciso respeitar e garantir o direito daqueles que pensam diferente.

A trabalhadora ambulante Eliade Ribeiro, que estava no ato vendendo bebidas, elogiou a manifestação. Segundo ela “estava muito lindo e que torce pela Dilma e que é uma injustiça o que estão fazendo com a presidente”.

Eliade trabalhava como doméstica até ser demitida quando o patrão se recusou a assinar a carteira e pagar os direitos assegurados por lei sancionada por Dilma em 2014. “O patrão falava na minha cara, enquanto eu cozinhava pra ele, que empregada doméstica não tem direito a ganhar nada. O que ela (Dilma) fez foi muito legal dando direito para as empregadas domésticos”, elogiou Eliade.

Em todo o Brasil as universidades públicas se tornaram símbolos de resistência ao golpe. Um grupo de alunos e professores da Universidade de São Paulo levaram uma faixa “USP contra o golpe”.

Jader Muniz, estudante do doutorado em letras da USP, afirmou que a disputa nas ruas pode influenciar a decisão dos parlamentares que vão votar o impeachment. “Acho que existe uma disputa que se dá nas ruas e influencia no congresso porque os parlamentares tem que dar satisfação as bases deles”, avaliou.

Ele defendeu que o ato deve ser popular mas ressaltou a importância da presença da universidade.“A universidade identificada dentro deste ato serve para legitimar as ideias contra o impeachment diante da opinião pública”.

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