sábado, 23 de abril de 2016

Fecularias batem recorde de processamento

As sucessivas altas dos preços do amido de milho e a necessidade de reposição de estoques por parte de consumidores de fécula têm mantido aquecidas as negociações desse produto, que também segue se valorizando.


O volume de mandioca processado pela indústria de fécula no primeiro trimestre deste ano foi o maior já registrado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, que acompanha semanalmente a atividade de fecularias desde 2006.

No trimestre, a indústria de fécula processou 666,5 mil toneladas, aumento de 29% frente ao mesmo período de 2015.

No primeiro trimestre, a colheita da raiz também se intensificou, mas a maior demanda da indústria de fécula e também de farinheiras acirrou a disputa pela mandioca e elevou o preço da matéria-prima.

Em março, o valor médio a prazo da tonelada de mandioca posta em fecularia foi de R$ 324,06, alta de 49,8% frente à média de dezembro, conforme dados do Cepea. No comparativo com março do ano passado, a valorização é de 69% em termos reais (valores atualizados pelo IGP-DI de março/16).

A situação atual, mais uma vez, reflete o movimento “pendular” que o mercado de mandioca nacional tem apresentado, explicam pesquisadores do Cepea. Numa temporada, a produção aumenta, os preços caem e os produtores se desestimulam para o ano seguinte, quando a oferta diminui e a matéria-prima volta a se valorizar, servindo novamente de estímulo para a cultura.

Conforme dados mais recentes do IBGE, a baixa rentabilidade da mandioca levou a área plantada a ter inexpressivo crescimento de 2% entre 2013 e 2014. Os investimentos nas lavouras, no entanto, foram pequenos e a produtividade média das áreas que estão sendo colhidas neste ano está baixa.

Levantamentos primários do Cepea mostram que os custos totais da produção agrícola na safra 2014/2015 estiveram entre R$ 203,00/t (regiões de Mato Grosso do Sul) e R$ 328,00/t (regiões paranaenses), em áreas arrendadas.

Como em nenhuma das regiões os preços médios chegaram a R$ 170,00/t em 2015, o prejuízo sobre o custo total chegou a ser de 50% na última safra, o que reduziu a área plantada e investimentos na temporada corrente (2015/16).

Agora, os preços voltam a ser atrativos. Porém, ainda há casos de endividamento e de dificuldades de acesso ao crédito, fatores que poderão limitar avanços expressivos na área a ser cultivada na temporada 2016/17.

As sucessivas altas dos preços do amido de milho - concorrente direto da fécula de mandioca - e a necessidade de reposição de estoques por parte de consumidores de fécula têm mantido aquecidas as negociações desse produto, que também segue se valorizando.

Conforme o Cepea, nos primeiros três meses deste ano, a fécula teve alta de 43,5%, passando de R$ 1.449,54/t em dezembro para R$ 2.080,11/t em março. Quando se compara a média de março à de um ano atrás, constata-se avanço de 60% em termos reais.

Na expectativa de que os preços tenham altas ainda mais expressivas nos próximos períodos - especialmente no segundo semestre -, parte das fecularias e até mesmo consumidores de fécula passaram a formar estoques. Além disso, intensificou-se a comercialização entre as próprias fecularias.

O mercado de fécula tem sido influenciado também pela estiagem que reduziu a produção de farinha nas regiões Norte e Nordeste entre janeiro e março, aponta a equipe Cepea. Com isso, agentes daquelas regiões passaram a se abastecer com farinha e até mesmo com mandioca do Centro-Sul, especialmente do Paraná e do estado de São Paulo, o que elevou também os preços das farinhas nos últimos meses.

Em março, o valor médio a prazo da saca de 50 kg da farinha de mandioca branca fina/crua tipo 1 foi de R$ 93,35, com alta de 16% na comparação com dezembro e de 61,4% em 12 meses, aponta o Cepea. A farinha grossa/crua, também tipo 1, teve média a prazo de R$ 69,01 por saca de 40 kg em março, alta trimestral de 15% e de 62% sobre março/15 - série atualizada pelo IGP-DI mar/16.

Conforme pesquisadores do Cepea, a oferta de mandioca pode diminuir no segundo semestre, o que tenderia a sustentar as cotações. A definição dos próximos investimentos, no entanto, leva em conta não só os preços atuais. Em sentido contrário, pesam o endividamento de parte dos produtores, condições não muito atraentes para a obtenção de crédito, menor oferta de áreas para arrendamento e também de material de plantio, especialmente de variedades mais precoces.

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