sexta-feira, 15 de abril de 2016

Frentes organizam ato domingo em São Paulo e já esperam nova política

Representantes de movimentos sociais acreditam que tese do impeachment cairá neste domingo, dia de "festa da democracia". Mas reafirmam que rejeitarão um governo não eleito nas urnas


Por Vitor Nuzzi
As entidades que organizam o ato contra o impeachment em São Paulo esperam que o próximo domingo (17) represente o fim desse movimento da oposição e o início de uma "repactuação" entre Executivo e Legislativo em torno da retomada do crescimento. Organizadas pela frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, a manifestação está prevista para começar às 10h, no Vale do Anhangabaú, na região central, e só termina depois da votação no plenário da Câmara, o que deve ocorrer apenas à noite. Ao mesmo tempo em que esperam derrotar o impeachment, as frentes pedem uma nova postura do governo.

"Vamos enterrar essa tese do impeachment. Mas vamos continuar na rua para a presidenta Dilma implementar outra política", afirmou o coordenador estadual, em São Paulo, da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim. "Também não estamos satisfeitos (com o governo), mas isso não justifica o impeachment." Ele espera a presença de até 200 mil pessoas no Anhangabaú, onde serão instalados três telões para que os manifestantes possam acompanhar a votação na Câmara.

"Encerrado esse processo, o governo tem de buscar uma repactuação com o Congresso, chamar os movimentos populares", acrescentou o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, afirmando que, passado quase um ano e meio, a presidenta não conseguiu governar efetivamente, devido ao clima político. "Não há governança. Precisamos retomar o crescimento. Isso só será possível chamando as forças políticas." Ele também destacou pesquisa CUT/Vox Populi, divulgada ontem (14), mostrando que a maioria das pessoas não acredita que o impeachment resolverá os problemas do país.

Os representantes dos movimentos mostraram otimismo quanto ao resultado da votação, mas afirmam que estão preparados para um cenário desfavorável, com aprovação do impeachment e estabelecimento de um novo governo. "Não vamos reconhecer um governo não eleito democraticamente pelo povo", disse o presidente da CTB São Paulo, Onofre Gonçalves. "Esperamos que a democracia derrote o retrocesso."

Golpe

O coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Josué Rocha, observou que as manifestações contra o impeachment cresceram nas últimas semanas. "Isso porque está mais claro o caráter de um golpe, com um processo conduzido por um presidente da Câmara envolvido em inúmeras denúncias", afirmou. Ele lembrou que a mobilização envolve inclusive pessoas que não necessariamente apoiam o governo, "mas enxergam nesse processo de impeachment um golpe claro". Vencido o golpe, acrescentou Josué, a expectativa é de derrotar também o ajuste fiscal e suas consequências para os trabalhadores.

Ele lembrou ainda que os movimentos vão acompanhar atentamente a posição de cada deputado no domingo. "O povo se lembrará deles. A atuação deles não será esquecida tão cedo", afirmou, identificando no programa oposicionista, simbolizado pela Ponte para o Futuro, do PMDB, ataques a direitos trabalhistas, à Petrobras e a programas sociais.

Organizadores do ato no Anhangabaú se reuniram ontem (13) com o comando da Polícia Militar para pedir segurança, especialmente no transporte coletivo, como estações de trens metropolitanos e de metrô. Existe preocupação com confrontos entre manifestantes contrários e favoráveis ao impeachment, que também se reunirão no domingo. "Queremos cuidado redobrado, principalmente na chegada e na saída", disse Raimundo. "O Metrô nos informou que vai dobrar o efetivo para controlar a segurança", emendou Onofre, que já presidiu o Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

Diversas movimentos sairão de pontos diferentes rumo ao Anhangabaú, onde haverá intervenções políticas e apresentações artísticas. Do centro, são esperadas marchas vindas das praças da República e da Sé, da estação da Luz e da Praça Roosevelt. Os movimentos têm acampamentos fixos instalados na Praça do Patriarca, na região central, e no Largo da Batata, na zona oeste, além do Mapa da Democracia na internet, que já teve 12 milhões de acessos.

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