Em semana decisiva no Senado para o processo de impeachment
contra a presidente Dilma Rousseff, jornais noticiaram que a chefe do Executivo
teria voltado atrás nas declarações enfáticas de que não vai renunciar do
cargo. O que teria ocorrido para uma suposta mudança de planos? Seria vantajosa
a renúncia à presidente? Qual o cenário hoje e o que seria necessário para uma
decisão arriscada atingir o efeito esperado?
No Jornal GGN
Existem duas possibilidades para que a renúncia de Dilma
provoque a convocação de eleições presidenciais antecipadas: caso o vice Michel
Temer também renuncie ou caso o Congresso aprove uma Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) ou um plebiscito para eleições. A ideia seria "uma
cartada final" do governo motivada por senadores que apoiam a medida.
Por outro lado, se não foi concluída pela presidente, é
estudada, considerando a sequência de medidas tomadas por Dilma nessas últimas
semanas, preparando o terreno para uma possibilidade real de afastamento do
governo já na próxima semana.
Cenário atual
O relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) será
apresentado nesta quarta-feira (04) e votado dois dias depois. Admitindo que
tem apoio de apenas 5 dos 21 senadores da Comissão Especial do Impeachment, o
governo já não tem expectativa de reverter estes números que indicam seu
afastamento da cadeira, por até 180 dias, ou seis meses. Nesse tempo,
independentemente do resultado da votação final, quem assume temporariamente é
o vice Michel Temer.
Do total de 21 senadores da Comissão, apenas o presidente do
colegiado, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB), afirmou estar indeciso. Outros 15
mostraram já estarem decididos e aceitaram o processo por crime de responsabilidade
contra a presidente. E uma minoria de 5 são contrários.
Se aprovado nesta sexta (29), o relatório seguirá para o
Senador, que deverá decidir por maioria simples se Dilma estará afastada pelos
180 dias. Ou seja, 41 dos 81 senadores devem aprovar para que a presidente
seja, então, julgada pelo Senado.
Diante dessa possibilidade cada vez mais real, a equipe do
governo analisa como chegar a novas eleições presidenciais, sem que a renúncia
de Dilma convalide, ainda mais, um possível governo de Michel Temer. Há dois
caminhos para os planos: por meio de uma PEC ou de plebiscito.
Isso porque a terceira opção, de renúncia coletiva, que
automaticamente geraria a convocação de novas eleições, é a que possui menos
chances dentro do cenário atual. Temer já afirmou diversas vezes que eleições
antecipadas é "golpe".
Chances para novas eleições
O governo teria que trabalhar, então, em cima das outras
duas possibilidades.
Na última semana, com apoio do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, um grupo de senadores entregou à Dilma uma carta pedindo que ela
aceite renunciar seu mandato e apoie uma proposta de emenda constitucional que
busca convocar novas eleições para um mandato tampão de dois anos em outubro,
ou que mande ao Congresso uma proposta de plebiscito sobre o fim do governo,
viabilizando novas eleições de forma constitucional.
A carta foi escrita depois que o senador Randolfe Rodrigues
(REDE-AP), Telmário Mota (PDT-RR) e Angela Portela (PT-RR) se reuniram no
Palácio do Planalto com Jaques Wagner (Gabinete Pessoal), na última
quinta-feira (28).
Wagner é também um dos defensores da estratégia, após
dialogar com o próprio ex-presidente Lula. Foi a assinatura, inclusive, de
partidos que apoiariam Michel Temer, que trouxe materialidade à alternativa.
Entre as assinaturas, parlamentares do próprio PMDB, do PSB que durante a
votação na Câmara declarou apoio ao impeachment, e do PSD, que também
oficializou o apoio à saída de Dilma.
O que poderia reverter a decisão anterior da presidente Dilma
de não renunciar é, justamente, o fato de que o cálculo para os apoiadores de
novas eleições é diferente daquele estimado para os que apoiam o seu
impeachment. Nesse último grupo, senadores da Rede, do PCdoB e do PT, que
votariam não ao impedimento, votariam sim às eleições antecipadas.
"Eu tenho certeza que o clamor para novas eleições não
virá somente do Congresso. Assim como teve um clamor das ruas pelo impeachment,
haverá um clamor das ruas para que neste ano o povo resolva a crise",
disse, de forma otimista o senador Randolfe Rodrigues.
A ideia do grupo é que as eleições ocorram paralelamente aos
pleitos municipais, em outubro. As vias seriam uma PEC proposta pelos próprios
senadores e, também, um Projeto de Decreto Legislativo (PDC) sugerindo um
plebiscito. Ambas medidas serias votadas pelo Congresso.
Apesar de contar com o apoio de parte do Senado, as
propostas têm que vencer também na Câmara, onde a dificuldade seria maior de
aprovação. Nesse sentido, juntamente com o envio dos dois projetos para o
Congresso, a presidente Dilma falaria à população, em pronunciamento em rádio e
TV, anunciando a sua renúncia do cargo e pedindo ao vice Michel Temer que faça
o mesmo.
Apesar de poucas as chances de renúncia de Temer, o apelo
seria para as ruas, de forma a pressionar, seja via movimentos sociais, como
também por aqueles que defendem a saída de Dilma, mas não concordam com um
governo do peemedebista, para a aprovação da PEC ou do PDC na Câmara.
Mas a oposição também será um forte obstáculo a ser
articulado pela equipe de Dilma. Visando os cargos garantidos por Temer em
Ministérios, o próprio PSDB rechaça a possibilidade de eleições presidenciais
neste ano. Nessa mesma linha irá se posicionar o DEM e grande parte do PMDB,
aliado de Eduardo Cunha (RJ).
"A entrega da carta em nada tem a ver com qualquer
estratégia do governo ou do PT e faz parte de uma movimentação autônoma dos
autores da proposta que compreendem que a convocação de novas eleições unifica
o país, podendo ser defendida tanto pela oposição quanto pela situação e por partidos
e parlamentares independentes", resumiu Randolfe, na última semana, com o
objetivo de fazer alcançar o eleitorado que prega impeachment, mas não defende
Temer.
Independentemente se concretizada ou não, a decisão de Dilma
deve ser tomada nesta semana, quando ainda dispõe de poderes de presidente e,
caso aceite renunciar, deve enviar nos próximos dias as propostas. Isso porque
o prazo para cartadas finais é esta semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário