terça-feira, 17 de maio de 2016

Canto a liberdade



Passei 21 anos da vida sem conhecer meu cabelo por causa do racismo. Desde pequeno tinha vontade de fazer tranças e dreads, mas nunca conseguia deixar crescer porque ''cabelo ruim'' tem que ser raspado ou alisado. Isso levou a rotina de cortar o cabelo a cada 15 dias, pois a partir desse período de crescimentos as piadas racistas vinham a tona (cabelo de Bombril, pixaim, bla bla bla).

Lembro-me de uma fase na escola que era moda ter topete, e só eu não tinha, mas pra resolver isso, deixei um pouco de cabelo na frente e todo dia antes de ir pra escola passava a chapinha da minha mãe pra poder alisa-lo e me enturmar com os colegas da sala. Queimei muito a testa fazendo isso.

A decisão de deixar crescer veio quando resolvi entrar na UEM e queria participar da tradição de raspar o cabelo quando passasse no vestibular. Foi só depois disso, quando ele começou a ganhar tamanho, que realmente abri meus olhos para o racismo, porque o racismo se manifestou de forma severa, chegando a, através de um dos diretores do colégio Nobel, me expulsar achando que era um morador de rua que havia entrado no colégio (um negro de cabelo e barba grande vai ser aluno desse colégio? Onde já se viu uma coisa dessas).

Mas foi onde eu me peguei pensando: como eu posso ter sofrido racismo se eu nem sou negro? Eu sou moreno, mulato. Pera... O que é ser moreno/mulato?

E foi aí que comecei a construir minha identidade negra, aceitando meu cabelo e minhas características fenotípicas.

Sobre o meu cabelo, nem sei mais o que dizer, só sentir. 

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