quarta-feira, 20 de julho de 2016

Heróis da América: Arsenio Erico, o paraguaio de ouro (que recusou uma Copa do Mundo)

Este texto faz parte da série Heróis da América, que aborda jogadores, treinadores e dirigentes que fizeram história nos países latino-americanos, mas que nem sempre são bem conhecidos por aqui.


Por  *EMANUEL COLOMBARI

Quem foi o maior jogador da história do futebol paraguaio? Romerito? Pense outra vez. Gamarra? Não. Chilavert? Arce? Não, nenhum deles.

Talvez você nunca tenha ouvido falar em Arsenio Erico, mas deveria. Trata-se do mais respeitado jogador da história do Paraguai. Mesmo na Argentina, o nome de Erico é bastante respeitado até hoje, mesmo quase 40 anos após sua morte.

1934 (Crédito: Wikipedia)
Nascido em Asunción, em 30 de março de 1915, Arsenio Pastor Erico Martínez mostrou talento desde muito jovem. Aos 11 anos, passou a integrar as fileiras inferiores do Nacional, estreando no time principal quatro anos mais tarde, em 1930.

No entanto, em 1932, o Paraguai entrou em guerra com a Bolívia, paralisando as atividades esportivas no país. Então, para arrecadar fundos, a Cruz Vermelha paraguaia decidiu reunir alguns dos melhores atletas do país para excursionar por outros países. Arsenio Erico, aos 17 anos, já estava entre eles.

Durante a passagem do time da Cruz Vermelha pela Argentina, Erico impressionou os dirigentes de Independiente e River Plate. Assinou então pelo primeiro, estreando sem gols em uma partida contra o Boca Juniors no dia 6 de maio de 1934.

Não demorou, porém, para que Erico fizesse história no clube de Avellaneda. Entre 1933 e 1946, conquistou três vezes o título da primeira divisão argentina (1938, 1939 e 1942), além de ter sido o artilheiro da competição por três anos seguidos (1937, 1938 e 1939). Pelo Independiente, foram 295 gols, o que o colocam até hoje como o maior artilheiro da história da Primera División – à frente de nomes históricos como Angel Labruna (293), Martín Palermo (227) e José Sanfilippo (226).

Ao longo de seus 13 anos no Independiente, Erico ficou conhecido como El Saltarín Rojo, ou “Saltador Vermelho”, graças a sua habilidade de “permanecer” no ar para cabecear cruzamentos. Na Argentina, causou furor ainda com sua habilidade, demonstrada com frequência com lambretas e chutes de longa distância.

Arsenio Erico ficou famoso por sua cabeçadas (Crédito: Wikipedia)
Curiosamente, Arsenio Erico jamais disputou uma partida oficial pela seleção do Paraguai – apenas extra-oficiais. Em 1937, o jogador era nome certo na Albiroja que disputou o Campeonato Sul-Americano de Seleções (antigo nome da Copa América) na própria Argentina. No entanto, não foi liberado pelo Independiente e acabou virando desfalque. Fora da seleção, marcou 47 gols naquele ano pelo clube e levou o CAI ao vice-campeonato.

Arsenio Erico em1938 
(Crédito: Reprodução/El Gráfico)
O troco viria no ano seguinte. Com o Paraguai fora da Copa do Mundo de 1938, a Argentina tentou convencer Arsenio Erico a defender o país nos gramados da França. Erico recusou, e afirmou que jogaria apenas pelo Paraguai. A resposta, surpreendentemente, valeu-lhe respeito entre os argentinos, graças a sua lealdade.

Em 1941, Arsenio Erico se desentendeu com a diretoria do Independiente por questões salariais. Irritado, voltou para o Paraguai, onde jogou um torneio amistoso pela seleção local. Clubes como San Lorenzo e River Plate demonstraram interesse pelo atacante, o que fez o Independiente ceder e aumentar os vencimentos de seu astro.

O aumento, porém, não melhorou as relações entre o Saltador Vermelho e a diretoria. No ano seguinte, Erico deixou o clube e voltou para o Paraguai, disputando jogos pelo Nacional na reta final do Campeonato Paraguaio – que o Nacional conquistou, depois de 16 anos de hiato.

Em 1946, já sem a mesma boa forma física, Arsenio Erico deixou o Independiente e reforçou o Huracán. Sem o mesmo brilho, com sete jogos e nenhum gol, foi embora do Globo no ano seguinte, retornando ao Nacional. Ali, dividindo-se nas funções de jogador e treinador, aposentou-se em 1949 com o vice-campeonato nacional.


Após o fim de sua carreira nos gramados, Arsenio Erico continuou a viver na Argentina, embora passando longos períodos no Paraguai. Nestes intervalos, teve raras experiências como treinador em clubes como o próprio Nacional e o Sol de América – neste, conquistou o vice-campeonato paraguaio em 1957.

Em 1977, sofrendo com problemas de saúde, Erico teve sua perna amputada. No dia 23 de julho daquele mesmo ano, em Bueno Aires, morreu em decorrência de uma parada cardíaca. Tinha 62 anos. Foi enterrado na própria capital argentina, com parte dos custos da cerimônia paga pelo próprio Independiente.

A decisão, no entanto, descontentou os paraguaios, que esperavam que Arsenio Erico fosse enterrado em Asunción. Em 2009, as autoridades paraguaias conquistaram o direito de enterrar os restos mortais do ex-jogador em seu país-natal. Em 2010, o corpo de Erico foi transferido para o Paraguai, sendo enterrado em um mausoléu no Estádio Defensores del Chaco.

O mausoléu de Arsenio Erico em Asunción (Crédito: APF)
Como homenagem, o estádio do Nacional ganhou o nome de Estádio Arsenio Erico. A modesta arena se localiza no Barrio Obrero, próximo aos estádio de Cerro Porteño e Sol de América.

Fotos e informações: World Football Legends, El Gráfico, APF e Wikipedia.

*Emanuel Colombari - Ex-Gazeta Esportiva.Net, Agora São Paulo e Terra, escreve atualmente para o UOL. Já trabalhou com estatística esportiva e torce para cerca de 15 times.

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