terça-feira, 19 de julho de 2016

Heróis da América: a única chance de Cláudio, o Gerente, na seleção brasileira

Este texto faz parte da série Heróis da América, que aborda jogadores, treinadores e dirigentes que fizeram história nos países latino-americanos, mas que nem sempre são bem conhecidos por aqui.


Por *EDUARDO CARNEIRO

Cláudio Christóvam de Pinho.

O corintiano sabe que ele é o maior artilheiro da história do clube. Foram 306 gols em 554 partidas, entre 1945 e 1957. No Parque São Jorge, conquistou três Campeonatos Paulistas (1951, 1952 e 1954), três Torneios Rio-São Paulo (1950, 1953 e 1954) e a Pequena Taça do Mundo (1953).

O palmeirense também deve saber que este ídolo do maior rival defendeu as cores alviverdes. Mais que isso: foi campeão paulista em 1942 e marcou o primeiro gol da história do clube com o nome Palmeiras.

O santista e o são-paulino também encontram este nome nos livros de história. Cláudio passou duas vezes pela Vila Belmiro (no início da carreira, em 1940-1941 e em 1943-1944). E foi com a camisa tricolor que ele encerrou definitivamente a carreira entre 1958-1960 – definitivamente, porque ele havia pendurado as chuteiras e assumido como técnico do Corinthians em 1957, mas, demitido após pouco mais de um ano, decidiu calçá-las novamente.

Habilidoso, rápido e exímio cobrador de faltas. Um líder dentro de campo que ganhou o apelido de ‘Gerente’. Goleador por onde passou e um dos poucos a defender os quatro grandes de São Paulo.

Mas quando o assunto é Seleção Brasileira… Cláudio foi um daqueles jogadores que, por um motivo ou outro, não teve chance de repetir pelo time canarinho a grande história que escreveu nos clubes.

A sua ausência na Copa do Mundo de 1950, quando não se cansava de fazer gols no Corinthians, é até hoje considerada uma injustiça. O técnico Flávio Costa não o chamou mesmo quando perdeu Tesourinha, cortado – o escolhido foi o lateral Alfredo, com quem o treinador havia trabalhado no Vasco.

Como não houve Mundiais na década de 1940 e Zezé Moreira também não quis contar com Cláudio em 1954, este artilheiro só teve a chance de defender o país em um torneio oficial. E é aqui que entra a Copa América.

Brasil (1949), contra a Bolívia: Ruy, Augusto, Mauro,
 Barbosa, Bauer e Noronha (em pé); Mário Américo (massagista), 
Cláudio, Zizinho, Nininho, jair Rosa Pinto e Simão (agachados)
Copa América que, em 1949, ainda era chamada de Campeonato Sul-Americano de Futebol. Flávio Costa chamou o artilheiro corintiano para defender o país anfitrião daquela edição. Foram oito participantes (Brasil, Equador, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai) disputando o troféu na fórmula de pontos corridos em turno único.

Em casa, o Brasil fez a festa e levou o tri. Foram 39 gols em sete jogos na fase inicial. E mais sete na final contra o Paraguai. Final? Sim. Os dois países terminaram o torneio com 12 pontos e fizeram jogo-desempate num Estádio de São Januário lotado com 55 mil torcedores.

Jair Rosa Pinto foi o artilheiro do Brasil, com nove gols. Ademir Menezes e Tesourinha fizeram sete. Simão e Zizinho mais cinco.

E Cláudio? O Gerente teve que se contentar em ser coadjuvante. Mas deixou sua marca três vezes, todas na fase inicial e todas no Pacaembu que ele conhecia tão bem. Foram dele o quinto e o nono gol do Brasil nos 10 a 1 (!) contra a Bolívia. Além disso, ele cobrou o pênalti que garantiu o apertado triunfo por 2 a 1 diante do Chile.

Parece pouco se olharmos a campanha do Brasil no torneio. Mas, depois de ler toda a trajetória do Gerente no futebol, você é capaz de não considerá-lo um herói da Copa América?

Cláudio, agachado, o primeiro da esquerda para direita


* Eduardo Carneiro - Jornalista, ex-Gazeta Esportiva e Terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário