quarta-feira, 6 de julho de 2016

Moda no Facebook, questionário para crianças é alvo de alertas

Lista de questões ganhou adeptos, e promove interação entre pais e filhos. Mas excesso na exposição levou promotor a pedir cautela para amigos.

Forumdigital

Por Laura Lewer e Luiza Tenente

Uma lista com pouco mais de 20 perguntas que deveria ser feita pelos pais aos seus filhos virou moda no Facebook ( veja lista abaixo ). A prática é avaliada por especialistas como capaz de ajudar na relação familiar, mas também por trazer risco de eventual excesso de exposição de dados e rotinas.

Especialistas em educação defendem a importância da conversa entre pais e filhos. Para Alejandra Velasco, superintendente do Todos Pela Educação, o jogo pode enriquecer as relações e fazer pais se surpreenderem com as respostas.

“Fortalece o diálogo, principalmente quando não são perguntas cujas respostas são ‘sim’ e ‘não’”, diz. “Pode ser enriquecedor fazer esse jogo, porque gera aproximação entre a família. Os pais podem se surpreender com algumas respostas – é um exercício de conhecimento e autoconhecimento.”


Entretanto, Velasco diz que a atual forma de compartilhamento do questionário exige cuidados. A opinião da especialista faz coro ao primeiro pai (e especialista em direito) a ganhar notoriedade por fazer um post que vai contra a maré do compartilhamento irrestrito das respostas engraçadas dos filhos.

Ressalvas
O promotor de Justiça da Infância e Juventude de Criciúma, Mauro Canto da Silva, postou um alerta para os amigos e viu esse post ganhar relevância. Ele afirmou também ser um pai coruja, mas lembrou que, como as crianças "entrevistadas" pelos pais são menores e vulneráveis.

“Há pessoas que podem utilizar dados de ordem pessoal para se aproximar da criança e simular ter afinidade com ela. Já vão saber seu programa favorito e sua cor predileta, por exemplo”, diz. “A rede social é um ambiente vulnerável, mesmo que tenhamos filtros de privacidade. Não temos total controle do alcance de um post.”

Silva acredita que a maioria das pessoas entre na brincadeira por entretenimento. Alerta, no entanto, que estes dados compartilhados, como data de nascimento e gostos das crianças, podem também servir como munição até mesmo para falsos sequestros. “A exposição em redes sociais deve ser cautelosa. Os pais devem evitar colocar gostos pessoais, afinidades, locais que o filho frequenta, horário de rotina. A gente compartilha foto de Dia das Mães, mas acaba mostrando o uniforme da criança e, logo, onde ela estuda”, afirma. “E claro, nunca se deve publicar foto de criança nua, pela questão da pedofilia.”

Mãe avalia riscos
A blogueira Angi Simon, do site ‘Mãe de Guri’ tem dois filhos de 2 e 6 anos e não vê grandes problemas na brincadeira. “Não acho uma exposição perigosa, até porque as crianças mudam de opinião muito rápido. Se hoje eu perguntasse para qualquer um dos dois qual é o desenho animado preferido deles, a resposta já seria outra do que a que eu publiquei”, diz.

Ela evita expôr informações mais reveladoras sobre os filhos em seu blog e página no Facebook, que tem mais de 580 mil curtidas. “Nunca tiro fotos deles com o uniforme das escolas, não faço ‘check-in’ nos lugares em que estou com eles. Tenho bastante cuidado com a exposição, até porque publicar essas coisas é uma escolha minha, não deles”, afirma.

Segundo Angi, a brincadeira faz parte da internet e os tempos são outros. “Não tem como criar seu filho numa bolha sendo que a realidade dele vai ser diferente. Nossos filhos vão crescer com essa exposição. Claro que vou educá-los para que não exponham tudo, mas uma brincadeira assim é válida”.

Alternativa ao questionário público
Uma alternativa ao questionário que circula no Facebook é o material produzido pelo movimento Todos Pela Educação. Em 2015 o Todos produziu o livro "100 perguntas que vão dar o que falar" que reúne perguntas que os pais podem fazer aos filhos em três épocas diferentes do seu desenvolvimento.

O livro pode ser baixado em PDF ( clique aqui para baixar ). Entre as vantagens do livro está o fato de ele ser organizado em quatro áreas (sentimentos, educação, a criança e o mundo, e cultura e esporte). Além disso, para cada pergunta há comentários dos educadores sobre qual o sentido da pergunta e dicas sobre como lidar com as respostas.

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