terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Presa política de Macri, Milagro Sala completa um ano no cárcere

A líder indígena Milagro Sala completa, nesta segunda-feira (16), exatamente 365 atrás das grades. Ela foi presa há um ano em sua casa, na província de Jujuy, Argentina, acusada de “obstruir vias” e “perturbar a ordem pública”. Mulher, parlamentar do Parlasul e presidenta da organização de bairro Tupac Amaru, Milagro é a primeira presa política do governo de Maurício Macri, que se elegeu com a promessa de “Argentina para todos”.


Por Mariana Serafini

À época, Milagro liderava uma manifestação em frente ao palácio do governo de Jujuy para exigir uma audiência com o governador Gerardo Morales, aliado de Macri. A organização Tupac Amaru dedica-se à luta pela construção de moradias populares. Enquanto estava em casa, para tomar banho, trocar de roupa e voltar à praça, mais de 40 oficias invadiram a residência e a levaram detida. Antes de sair, ela publicou uma última mensagem em sua conta oficinal no Twitter onde afirmava que o regime democrático estava sendo violado.

Desde então, milhares de ativistas dos direitos humanos promoveram manifestações na Argentina e em diversos países do mundo para exigir a liberdade de Milagro. Além disso, o papa Francisco intercedeu em defesa da dirigente junto ao presidente Maurício Macri e a ONU exigiu a “imediata libertação” da parlamentar do Parlasul.

Na Argentina, diferente do Brasil, os parlamentares do Parlamento do Mercosul são eleitos através do voto direto, este é o caso de Milagro. Seus colegas deputados, e o presidente da Casa, o brasileiro Florisvaldo Fier (Dr. Rosinha), também emitiram documentos oficiais em defensa da libertação da dirigente e não foram atendidos.

Durante a última década os governos de Néstor e Cristina Kirchner optaram pelo diálogo com os movimentos sociais. Este, porém, não é o método escolhido pelo neoliberal Maurício Macri que em menos de 30 dias de governo já tinha sua primeira presa política. Depois de Milagro outros militantes da organização Tupac Amaru foram detidos e dezenas de manifestações reprimidas com extrema truculência policial.

Macri se elegeu com promessas de aumento dos postos de trabalho e “Argentina para todos”. Mas o balanço deste primeiro ano mostra exatamente o contrário: inflação descontrolada (considerada a mais alta em mais de duas décadas), maior quadro de desemprego dos últimos anos (no início do governo chegaram a ser demitidas mais de mil pessoas por dia) e reajustes constantes nas tarifas de serviços básicos (gás, por exemplo, já teve aumentos de mais de 300%).

Diante do cenário catastrófico, é natural que a população saia às ruas para exigir um posicionamento do governo, o que recebe em resposta, no entanto, é bala de borracha e cassetete da polícia. A repressão policial usa de uma violência que não havia sido registrada durante a última década.

Em meio a isso, Milagro Sala permanece presa, sem perspectiva de recorrer em liberdade. No cárcere, a dirigente já fez uma greve de fome, que precisou ser interrompida devido à complicações de saúde, escreveu cartas e apelos a autoridades locais e recebeu o apoio de ativistas do mundo inteiro.

Depois de detida, Milagro foi acusada de estar envolvida em “mau uso” dos recursos destinados à construção de moradias populares através da gestão da organização Tupac Amaru, porém nada foi provado contra ela. A ONU considera a prisão abusiva e o papa falou sobre o caso mais de uma vez ao longo destes 12 meses. Macri segue irredutível, sem dar ouvidos aos pedidos de justiça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário