terça-feira, 16 de maio de 2017

Os embates da ex-consulesa da França com o preconceito no Brasil

Ex-consulesa da França conta seus embates com preconceito no Brasil.


Por Alexandra Loras

Sempre ouvi falar que Salvador era a cidade com a população mais negra do Brasil, com 80% de negros. Porém, São Paulo, com seus 40% de negros em uma população de 12 milhões, se torna a cidade mais negra do mundo. São 4,8 milhões de negros em São Paulo contra 2,14 milhões em Salvador. (Segundo o IBGE 54% da população brasileira é negra)

Quando debato sobre isso junto à elite paulistana as pessoas se chocam, pois no Jardim Europa a população parece monocromática branca. Mas os ônibus e o metrô da avenida Faria Lima estão cheios de negros indo ou vindo trabalhar.

Ao chegar ao Brasil, há quatro anos, eu estava ansiosa pensando que ia encontrar aqui a delícia da democracia racial tão falada no exterior. Mas a realidade que vi foi bem diferente. Primeiro, fui barrada no Convento do Carmo, hotel cinco estrelas de Salvador. Felizmente meu sotaque francês liberou-me a entrada.

Quando recebia seis mil pessoas por ano na residência consular da França, o protocolo francês pedia que eu ficasse na entrada para dar as boas vindas aos convidados do consulado. Por inúmeras vezes pessoas passaram na frente de meu lindo vestido Gloria Coelho achando que eu era uma das empregadas. Alguns perguntavam: "moça, onde posso guardar meu casaco?".

Quando a revista 'Casa Vogue' fez uma matéria sobre minha nova casa vários leitores perguntaram por que só havia fotos da babá na matéria. O racismo no Brasil é presente em cada esquina.

Apenas para relatar, essa semana ao entrar na fila de prioridade da Gol, já que possuo o cartão Platinum da Air France, passaporte diplomático, criança no colo e viajo na classe executiva, fui questionada porque estava naquela fila. Respondi que tinha prioridade, mas a atendente duvidou de minha veracidade e pediu para verificar meu cartão. Será que se eu fosse branca e loira teria passado por essa pequena humilhação?

Outro dia no Clube Pinheiros, havia esquecido minha carteira de sócia e a atendente perguntou se eu era a babá de meu filho. Procurou meu nome na lista das babás, mesmo eu tendo dito que era sócia do clube e apresentando meu passaporte diplomático.
Acredito que por meio da inteligência emocional, os brasileiros, com muito mais empatia que os europeus, conseguirão reequilibrar nossa sociedade de uma forma mais justa.

Na linha do líder de movimentos pacíficos, Martin Luther King, meu sonho continua sendo ver 52% de mulheres no Congresso, no Senado, nos boards executivos, como também 54% de negros na liderança e no protagonismo brasileiro.

Isso seria uma verdadeira democracia.

A solução vem primeiro com enxergar o racismo no próprio espelho. Enquanto isso, continuo me perguntando onde está a Beyoncé brasileira, a Oprah Winfrey brasileira e o Spike Lee brasileiro.

Via - Carcará

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