terça-feira, 22 de agosto de 2017

O mercado de trabalho capitalista descarta as mães


Publicada pela BBC Brasil, na reportagem “Por que ter filhos prejudica mulheres e favorece pais no mercado de trabalho”, na quinta-feira (17), a pesquisa “Como famílias de baixa renda em São Paulo conciliam trabalho e família?”, feita pelo Insper (uma instituição de ensino superior e pesquisa), na periferia da capital paulista comprova o dado cruel: o mercado de trabalho não contrata mulheres que têm filhos.

O levantamento feito em 2012, foi publicado recentemente em uma revista científica e mostra “a discriminação sofrida pelas mães num mercado de trabalho machista e perverso”, afirma Ivânia Pereira, secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

A pesquisa foi feita com 700 moradores de 30 bairros da periferia paulistana, com pelo menos um filho de até 6 anos. Constatou-se que 38% das mulheres casadas que não trabalhavam gostariam de estar empregadas. Pior ainda, praticamente a metade delas reclamou de não ter onde deixar os filhos e por isso serem rejeitadas nos empregos que procuravam.

Além de serem discriminadas pelo mercado de trabalho, “a falta de creche para que as mães possam deixar seus filhos e filhas em locais de confiança é um dos maiores problemas enfrentado pelas mulheres trabalhadoras”, diz Kátia Branco, secretária da Mulher da CTB-RJ.

Entre as mulheres separadas, 43%, estava sem emprego na época da pesquisa, 24% disseram não encontrar trabalho e 23% reclamaram não ter acesso a creche ou escola para os filhos. A maioira relata falta de vontade de contratação dos empregadores.

A maquiadora Thaa Rodrigues, que tem dois filhos, conta à repórter Camilla Veras Mota, da BBC que recebeu um sonoro não em uma entrevista de emprego em uma loja no bairro do Brás, quando disse que tinha dois filhos e era separada. "Em geral, depois do 'Quantos filhos você tem?', eles perguntam, 'mas você é pelo menos casada, não é?'", diz Rodrigues às BBC.

Para Pereira, essa questão é mais comum do que se imagina porque “o capital quer a reprodução da força do trabalho para manter um exército de reserva e dessa forma deixar a mão de obra com custo baixo, mas a reprodução humana é altamente castigada”.

Madalozzo revela também que boa parte dos homens entrevistados percebe uma certa valorização no trabalho com a chegada do primeiro filho. “De forma geral, eles afirmam que a paternidade os fez mais responsáveis e que os patrões perceberam e os recompensam por isso", explica a pesquisadora.

A especialista em planejamento financeiro Sonia Tomiyoshi, conta à revista Crescer que foi recusada em um processo seletivo de uma empresa por ser mãe. Ela conta que depois de dois meses e aprovada em todas as etapas do processo recebeu uma ligação lhe agradecendo.

Segundo ela, a pessoa disse não ter “dúvidas de que eu era a melhor candidata e faria um bom trabalho, mas que infelizmente a diretoria não me contrataria por ter dois filhos pequenos”.

O fato acontece porque “a cultura patriarcal reforça a ideia de que homens com filhos não fazem greve, não defendem seus direitos, devido às maiores responsabilidades”, argumenta Branco.

Além do mais, complementa ela, “de uma maneira geral é responsabilidade da mãe que cuida das crias, é a mãe que falta ao trabalho quando o filho fica doente, enquanto o pai fica mais firme no trabalho para prover o lar”.

A pressão sobre as mulheres é tamanha que “existem fábricas que exigem que mostrem o absorvente menstruado para comprovar que não estão grávidas”, conta Pereira. “Exigem que não seja casada, que não tenha namorado”.

A secretária da Mulher Trabalhadora da CTB nacional, Pereira, diz que o preconceito é tão incutido, inclusive nas mulheres, que os homens participantes do Curso de Paternidade Responsável do Sindicato dos Bancários de Sergipe reclamaram no sindicato que suas companheiras não confiavam neles para cuidar de seus bebês. A solução encontrada foi “fazer o curso para os casais e acabar com essa desconfiança”, conta ela.

Branco lembra ainda que “as mulheres recebem quase 30% a menos que os homens e são as primeiras a serem demitidas e as últimas a conseguir recolocação no mercado de trabalho. Além de existirem pouquíssimas mulheres em cargos de chefia tanto o setor público quanto no privado”.

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