quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Conta outra, abestado!

Quem acredita que pior do que tá não fica, é porque não conhece o Tiririca. O humorista - um dos melhores do país, diga-se de passagem - que estava cumprindo o seu segundo mandato como deputado federal, surpreendeu a todos ao subir a tribuna da câmara dos deputados - algo que ele nunca havia feito - e apresentar a sua denúncia, diante dos olhares pouco interessados de mais ou menos vinte deputados. Mas espera um pouco! Não deveria ser 513? Plenário vazio em plena quarta-feira? Ninguém trabalha no congresso, não? Mas a gente não paga o salário dos caras para isso?


Por Nêggo Tom
No Brasil 247

Tiririca discursou por aproximadamente oito minutos e externou a sua decepção com a classe política, principalmente com a maioria de seus colegas de câmara federal, os quais, segundo ele, só estão preocupados em satisfazerem os próprios egos e não estão nada preocupados em melhorar o país e promover o bem estar do povo. Pelo visto, agora ele já sabe para que serve um deputado. O que me causa estranheza, é o fato do nobre deputado ter demorado sete anos para perceber as reais intenções de seus pares. Ô, menino lento! Ainda assim, tratou de tranquilizar os parlamentares, prometendo que não vai contar - nem para a Florentina - nada do que sabe sobre eles e nem a respeito do que presenciou durante o convívio que tiveram.

Mas, como assim não vai falar nada? Depois de ter tentado - sem muito sucesso é verdade - provocar uma comoção na sociedade, chamando a atenção para as carências que afetam a população mais pobre e de certa forma ter responsabilizado os representantes do povo no congresso, pela situação que o país se encontra, ele diz que não vai denunciar nada e nem ninguém? Se isso foi uma piada, eu já o vi contando outras bem melhores. Que tipo de mudança Tiririca deseja para o país, se omitindo e acobertando os mal feitos de quem deveria estar lá trabalhando para o povo? Estaria ele parafraseando, de forma subliminar, o verso de uma das suas músicas de maior sucesso? Eles são ladrões, mas são meus amigos.

Tiririca tentou um ato heroico que escrevesse o seu nome na história da política nacional. Um ato, o qual, anos mais tarde, o fizesse ser lembrado como o deputado que renunciou a favor do povo. Mas a leitura que eu faço de sua atitude, só me permite enxergá-lo como um golpista arrependido. Se tanto. E ele não é o único. A diferença é que os outros não querem largar o osso. Tiririca votou a favor do impeachment de Dilma Roussef - foi um dos votos mais festejados até - e consequentemente, deu o seu apoio ao governo escravocrata e predador de pobres que assumiu o poder. Se realmente tivesse toda essa preocupação com o povo, não teria dado o seu voto contra um governo, que bem ou mal, foi o que mais criou projetos de inclusão social na história do país, na tentativa de diminuir o abismo que separa as classes sociais no país.

No governo que Tiririca ajudou a derrubar, os trabalhadores ainda tinham direitos. Direitos esses que estão sendo retirados, gradativamente, pelo governo que ele apoiou. Graças ao apoio de Tiririca, a fome voltou a ser um fantasma, o desemprego aumentou ainda mais, investimentos em saúde e educação foram congelados por vinte anos, a justiça do trabalho foi praticamente extinta e a aposentadoria do trabalhador está seriamente ameaçada por uma reforma nefasta, que visa aliviar os cofres públicos e encher as malas de seus articuladores, apoiadores e demais interessados. Eu imagino que ele deva estar sofrendo muito mesmo. Principalmente por saber que colaborou com todo esse retrocesso e tentativa de extermínio dos mais pobres.

Ao tentar falar sério, Tiririca - que é palhaço de circo por formação - quis colocar uma bolinha vermelha na ponta do nariz de cada cidadão que o ouvia, graduando a todos nós com a sua mesma formação. Não que ele esteja de todo enganado. Somos palhaços mesmo. Palhaços por elegermos representantes, cujos interesses são exclusivamente pessoais e com o perdão da expressão, estão defecando e caminhando para os interesses coletivos. Palhaços só por pensarmos em acreditar que alguém, que durante sete anos mamou nas tetas públicas, assim como todos os outros 512, desfrutando de todas as mordomias que o cargo lhe confere e que até já pode se aposentar por estar em seu segundo mandato, agora está do nosso lado. É consolador saber que um político que vai se aposentar, após oito anos de "contribuição" a vida pública, está prestando a sua solidariedade a milhões de pessoas, que só irão se aposentar após quarenta anos de trabalho duro e sem direito a mordomias.

Mas de tudo que foi dito pelo deputado renunciante, o que mais me surpreendeu foi ele ter dito que a sua mãe esteve hospitalizada em uma unidade pública, por ela não ter um plano de saúde. Ora! Se com a grana que ele já tinha - ganha honestamente em seu trabalho como artista - somada a grana que ele ganhou durante sete anos de mandato, ele não se preocupou em oferecer um maior conforto e bem estar à própria mãe, alguém acredita que ele renunciou por estar realmente preocupado com o bem estar do povo?

Conta outra, abestado!

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