quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Globo vai perder a exclusividade já na Copa de 2022

"O que diabos você está fazendo? Não vai votar no Catar?"


O Conversa Afiada acompanha com atenção os desdobramentos do escândalo da MaFifa, no qual a Globo está enterrada dos pés à cabeça.

Na última sexta-feira, 22XII, a Justiça dos EUA condenou o ex-presidente da CBF José Maria Marin em seis das sete acusações movidas contra ele.

Marin é aquele que a Globo subornou com a inestimável ajuda de Marcelo Campos Pinto.

Como contou Jamil Chade no Estadão, ao ser surpreendido pela polícia em seu quarto de hotel em Zurique, na Suíça, em maio de 2015, Marin ouviu dos agentes que a mala que ele estava preparando seria pequena demais. "Faça uma maior. Existe o risco de que isso não termine muito cedo".

É certo entre os investigadores que a condenação de Marin anuncia um inferno para Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.

Mas, e a Globo?

Neste domingo, 24/XII, David Conn traz no Guardian novos detalhes sobre como os dirigentes sulamericanos fizeram lobby para escolher o Catar como sede da Copa do Mundo de 2022, em esquema regado a propina paga por emissoras de TV (quais emissoras, amigo navegante? Ó, dúvida cruel...):

As revelações mais surpreendentes e tentadoras do julgamento da Fifa no Brooklyn, em Nova York, não têm nada a ver com a condenação de dois dos três réus na última sexta-feira. Eles eram peixes pequenos diante dos tubarões dos negócios envolvendo o futebol.

Com muitas evidências vivas de suborno endêmico na venda de direitos de televisão para campeonatos da América do Sul, essa realidade miserável já havia sido admitida por 23 executivos do futebol nas Américas.

Ainda assim, quase ao mesmo tempo, um dos réus revelou que importantes barões do futebol sulamericano ligados à Fifa receberam propinas para votar a favor do Catar como sede da Copa do Mundo de 2022. As alegações foram deixadas de lado, levando apenas a mais perguntas, no momento em que os réus José Maria Marin e Juan Ángel Napout, condenados por terem recebido propina por acordos com TVs da América do Sul, aguardavam para receber suas sentenças e o juri continuava a deliberar sobre o terceiro réu, Manuel Burga.

As denúncias sobre o Catar foram feitas anteriormente a partir de evidências mostradas por Alejandro Burzaco, um dos executivos envolvidos na negociação dos direitos de transmissão, preso pelas autoridades dos Estados Unidos após se declarar culpado pelo pagamento de propina a dirigentes de futebol. As revelações de Burzaco foram fundamentais para condenar Marin, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Napout, paraguaio e ex-presidente da Confederação Sulamericana de Futebol, a Conmebol. Eles foram considerados culpados por receber propina pela negociação dos direitos de transmissão da Copa América e da Copa Libertadores - além disso, no caso de Marin, a Copa do Brasil.

Mas Burzaco também declarou que um dos mais importantes executivos da Fifa, Julio Grondona, presidente da Federação Argentina de 1979 até a sua morte, ainda no cargo, em 2014, era especialmente corrupto. Burzaco disse que enquanto ele estava distribuindo propinas em 2011 para a Copa América, Grondona disse que ele deveria ter mais R$ 1 milhão, que deveriam ir para a o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

(...) Burzaco disse ter viajado para a votação (de escolha da sede da Copa-2022) em dezembro de 2010 com Grondona, Teixeira e o paraguaio Nicolás Leoz, presidente da Conmebol por 27 anos, e não era "nenhum segredo" que todos eles votariam no Catar. Ele afirmou no depoimento que durante os primeiros momentos da votação Grondona e Teixeira repreenderam Leoz, dizendo: "O que diabos você está fazendo? Não vai votar pelo Catar?" Leoz, então, votou pelo Catar, de acordo com Burzaco. Ele também disse que Grondona estava irritado com reportagens adversas e que ele [Burzaco] tinha visto seu compatriota exigir que executivos do Catar pagassem $80 milhões ou escrevessem uma carta atestando que nunca pagaram propina a ele.

(...) Marin foi presidente da CBF por três anos, tendo assumido o controle em março de 2012 no lugar de Teixeira, que pode ser condenado com muito mais rigor por montanhosos recebimentos de propina. Genro de João Havelange, um corrupto brasileiro que foi presidente da Fifa de 1974 a 1998, Teixeira, que se agarrou ao comando da CBF por 23 anos, sempre negou ter cometido qualquer crime e continua em seu país sem qualquer intenção de encarar a justiça dos EUA.

(...) Outro peixe grande que ainda está fora de alcance, mas tem seu nome nas acusações, é Jack Warner, que por 21 anos foi presidente da Concacaf, responsável pelo futebol nas Américas do Norte e Central e no Caribe.

O resultado dessas denúncias terríveis segue desconhecido, assim como as novas acusações de que Leoz, Teixeira e Grodona receberam propinas para votar a favor do Catar.

A questão-chave é se essas evidências, oferecidas quase de passagem em uma corte do Brooklyn, têm bases sólidas ou são apenas uma anedota de segunda mão sobre um barão da Fifa que não está vivo para responder. E se o FBI, que agora acrescentou duas condenações à lista de 23 culpados, continuará a investigação.

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