Presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores fala sobre
os atos violentos durante caravana de Lula pelo sul do país.
Presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores, a senadora
Gleisi Hoffmann / Wilson Pedrosa/Fotos Públicas.
|
Leonardo Fernandes
Desde o começo da Caravana Lula pelo Brasil – etapa sul – na
segunda-feira (19), na cidade gaúcha de Bagé, grupos de extrema-direita têm
provocado violência durante a passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
Na sexta-feira, algumas dezenas de pessoas bloquearam a
entrada da cidade de Passo Fundo (RS), armadas com paus, pedras e correntes,
dispostos a atacar os ônibus da comitiva do ex-presidente. Lula e a
ex-presidenta Dilma Rousseff tiveram que mudar a rota e ir direto a São
Leopoldo (RS), último destino da caravana no Rio Grande do Sul, depois da
Secretaria Estadual da Segurança Pública do Estado ter afirmado que não poderia
garantir a segurança do ex-presidente.
Relatos de pessoas que estiveram na entrada de Passo Fundo,
deram conta da postura condescendente da Polícia Militar do Estado em relação
às manifestações violentas da direita.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Gleisi Hoffmann,
presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), lamentou a ausência de
autoridade do Estado em relação à segurança dos ex-presidentes e sua comitiva.
Hoffmann afirmou que o PT está investigando quem está por trás das
manifestações e anunciou que fará uma denúncia internacional sobre a presença
de milícias armadas no sul do Brasil. Leia a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: Senadora, qual a leitura que o Partido dos
Trabalhadores faz sobre a postura das autoridades estaduais e da Polícia
Militar em relação à segurança da caravana?
Gleisi Hoffmann: A gente lamenta muito que o Estado não
tenha tido força suficiente e autoridade para garantir a presença do
ex-presidente Lula em Passo Fundo. O Estado foi avisado das manifestações
violentas, porque não se tratavam de manifestações pacíficas de oposição;
quanto a isso nós não temos problema nenhum e sabemos enfrentar; e não tivemos,
por parte do policiamento, a efetiva correspondência a esse nosso pedido.
Lamentamos muito isso, que demonstra que o Estado não consegue impor a ordem
que necessita. Estávamos com dois ex-presidentes da República, já havíamos
oficiado ao governo do Estado sobre isso e também às forças de segurança
nacionais. Então a gente lamenta.
Foram divulgadas imagens de pessoas armadas entre esses
manifestantes da direita. O que vocês pretendem fazer em relação a isso?
Estamos fazendo uma denúncia internacional sobre a
existência de milícias organizadas no Brasil, que se mostraram agora de forma
clara no sul do país e que tem a clara intenção, não de fazer o embate, a
disputa política, mas de impedir que o presidente Lula, que o PT, que as forças
populares possam ter trânsito, falar com a população, inclusive ameaçando a
integridade física de militantes e dos próprios ex-presidentes.
Vocês já conseguiram identificar se existe algum grupo ou
força política por trás dessas manifestações?
Nós estamos levantando isso. Ainda não temos isso definido.
Temos indícios, que ainda precisam de provas. Mas temos indícios de que forças
da extrema-direita, sobretudo grupos que necessariamente não são da política,
mas são de movimentos de extrema-direita atuando. Inclusive grupos de skinheads
foram detectados. Então, nós nos preocupamos muito com isso, porque vemos que
se trata de uma ação organizada de grupos de extrema-direita, de ideologia
fascista, nazista.
Qual a diferença entre o bloqueio de rodovia realizado pela
direita durante a caravana e os bloqueios realizados por movimentos de esquerda
na luta por direitos?
Eu desconheço qualquer manifestação da esquerda que envolva
o bloqueio de vias ou de locais que tenham o objetivo impedir pessoas de
falarem. Nós defendemos radicalmente a democracia e o direito de todos falarem,
ainda que falem contra nós. Fomos governo neste país e jamais tivemos qualquer
atitude de limitar o direito de ir e vir das pessoas. Muito pelo contrário,
achamos que isso é fundamental para a democracia. Todas as vezes que movimentos
sociais de esquerda fecharam rodovias ou fizeram manifestações foram sempre em
razão de uma causa: em defesa dos seus direitos, em defesa da conquista de terra,
em defesa das águas, em defesa da liberdade de expressão, em defesa dos
direitos trabalhistas. Jamais foi para agredir, para impedir alguém de se
manifestar. Jamais foi no intuito de querer agredir quem quer que seja. Então
acho que tem uma diferença muito grande, muito relevante com o que está
acontecendo. O que estamos vivendo hoje é algo de ideologia fascista, de grupos
que pregam a violência como modus operandi da vida.
A postura das forças de segurança em relação a estas
manifestações também difere da maneira como lidam com as manifestações de
esquerda?
Eu nunca tinha visto a polícia agir sem força, sem firmeza
contra movimentos, principalmente os violentos. Muito pelo contrário. Lembro da
passeata que houve aqui em frente ao Congresso Nacional contra as reformas
trabalhista e da Previdência: era uma manifestação pacífica, quando alguns
infiltrados dentro do movimento começaram a jogar pedras dentro dos
ministérios, a polícia não separou eles, veio para cima da multidão. Então há
sim uma diferença de tratamento. Mas nós estamos identificando os movimentos
que estão por trás, para que a gente possa fazer a denúncia.
Em razão desses episódios, há previsão de novas alterações
no trajeto da caravana?
Não pretendemos fazer outras alterações na programação da
caravana. Hoje nós conversamos novamente com as forças de segurança nacionais,
conversei pessoalmente com o ministro Jungmann [Segurança Pública], conversei
com o ministro [interino] da Defesa [Joaquim Silva e Luna], relatei o ocorrido,
solicitei que nos estados de Santa Catarina e Paraná nós tivéssemos a segurança
nos aeroportos, nas estradas, para que possamos nos locomover, e também nas
cidades. E falamos com as autoridades estaduais para que deem respaldo e
guarida à caravana. Estamos fazendo uma caravana pacífica, uma caravana de
debates políticos, não estamos afrontando ninguém. Temos o direito de andar
pelo Brasil. E o governo, as forças de segurança não podem permitir que o
Brasil fique refém de milícias, de grupos de extrema-direita que acham que
podem definir quem pode entrar ou não numa cidade, passar ou não por uma
determinada rodovia. Isso é uma coisa absurda. Precisamos ter as garantias
constitucionais asseguradas.
Edição: Mauro Ramos
Nenhum comentário:
Postar um comentário