segunda-feira, 9 de abril de 2018

São Bernardo, 1978-2018

Lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico, mas terá que se reinventar.


No dia 12 de maio de 1978 começava a greve da Scania-Vabis em São Bernardo do Campo. Era a primeira paralisação operária desde 1968 e o sucesso dos trabalhadores do setor automobilístico mudaria a história do país. A presença de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder sindical que emergiu daquele movimento, por 24 horas no Sindicato dos Metalúrgicos depois de decretada a sua prisão na última quinta (5), fecha simbolicamente o longo ciclo iniciado então.

O lulismo não morre com a condenação do ex-torneiro mecânico. Mas terá que se reinventar para sobreviver sem a liberdade daquele em torno do qual o movimento cresceu ao ponto de chegar à Presidência da República. A despeito de quaisquer outras considerações, Lula demonstrou, durante esses 40 anos, a inegável capacidade de aglutinar o campo popular da política brasileira em torno de si.

A Operação Lava Jato, que alcança seu ápice com a ordem de aprisionamento do ex-mandatário, conseguiu o efeito objetivo de afetar o coração da alternativa popular.

O juiz Sergio Moro, mais uma vez mostrando que age olhando para a política, apressou-se a executar a sentença antes que pudesse haver algum recuo superior.

A profunda divisão do STF (Supremo Tribunal Federal) a respeito, demonstrada na votação do habeas corpus, indicava a instabilidade da decisão anti-Lula tomada quarta (4).

Mas a Lava Jato, independentemente das intenções de cada um de seus membros, é apenas a ponta de um iceberg.

Quando, na véspera da sessão do STF, o comandante Eduardo Villas Bôas divulgou duas postagens no Twitter e em uma delas escreveu que “o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”, ficou claro que a prisão de Lula tinha se tornado, para determinados setores da sociedade, um assunto de “segurança nacional”.

As “intervenções pretorianas”, conforme as qualificou o ministro Celso de Mello, aproximaram um pouco a situação atual daquela vivida depois de 1964.

Trata-se, mais uma vez, de impedir, no tapetão, que haja verdadeira alternância no poder. Uma disputa sem Lula candidato, e com dificuldade para explicar ao seu eleitorado quem o representa, esvaziará o pleito de outubro. A possível vitória de um candidato de “centro”, na realidade do campo da classe média, nessas circunstâncias, terá a sua legitimidade diminuída.

Por outro lado, a evolução dos acontecimentos poderá transformar a condenação de Lula no principal assunto da própria eleição. Dependerá, então, da capacidade dos dirigentes forjados neste ciclo, que permanecem em liberdade, reconstruir o polo que representa os pobres. Sobre o seu sucesso, o futuro dirá.

André Singer
No fAlha

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