O IBGE divulgou nesta quinta-feira (17) que existem no
Brasil 27,7 milhões de trabalhadores subutilizados. São desempregados, aqueles
que a contragosto trabalham menos de 40 horas e os que desistiram de procurar emprego.
Clemente Ganz, diretor do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos
(Dieese) afirma que o dado é alarmante porque mostra que a precarização do
trabalho tende a avançar. Sindicalistas afirmam que a política de Temer agravou
cenário.
César Itiberê/ Fotos Públicas
Por Railídia Carvalho
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) se referem ao primeiro trimestre de 2018 e a divulgação coincidiu com os
dois anos de governo de Michel Temer e a propaganda de que o Brasil avançou na
criação de empregos. Segundo Clemente, os empregos “criados” são, na verdade,
os “bicos” e os informais. “Com a reforma trabalhista passaram a ser legais. As
pessoas estão legalizadas em ocupações precárias e sem proteção”, explicou o
diretor do Dieese.
É o caso dos 6,2 milhões de subocupados apontados pelo IBGE.
Clemente lembrou que esses números apontam que modalidades de trabalho
formalizadas pela lei trabalhista como o contrato em tempo parcial, trabalho
intermitente e teletrabalho devem aumentar. “São todas formas de contratação
precárias que levam à subutilização da força de trabalho gerando condições de
trabalho precárias”, explicou Clemente.
Mercado de trabalho desprotegido
A estatística mostra que a taxa de subutilização vem
crescendo desde o primeiro trimestre de 2016, que registrou 20,7 milhões,
passou para 26,5 milhões no primeiro trimestre do ano passado, e neste mesmo
período de 2018, atingiu 27,7 milhões. Este último número é a maior taxa de
subutilização desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio,
iniciada em 2012.
“Do ponto de vista do desemprego essas pessoas que fazem
bico, que agora é legal pela reforma, não estão mais desempregadas. Porém, o
resultado desse trabalho de quem está subocupado está aquém da sua necessidade
econômica. Se o cara trabalha quatro horas por dia e está tudo bem é uma
situação. Mas trabalhar menos porque não tem emprego mesmo ele precisando é
outra. Esse é o problema. Indica um mercado de trabalho inseguro e frágil que
tende a crescer.”
Segundo ele, um cenário de desemprego baixo e subocupação às
custas da precarização não vai gerar postos de trabalho em quantidade e na
qualidade que o trabalhador precisa. “Isso passa a ser uma das grandes lutas
que o movimento sindical vai precisar enfrentar”, ressaltou.
Golpe interrompeu avanço civilizatório
“O Brasil voltou para que lugar? Para o mapa da fome, do
desalento, do desemprego. Ou seja, voltou para um tempo sombrio, obscuro onde o
conservadorismo reinante vai colocando o povo à margem de toda e qualquer
expectativa de melhoria de vida”, declarou Adilson Araújo, presidente da
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
De acordo com Adilson, o governo Temer não está preocupado
em equacionar o problema do desemprego. “A agenda dele é comprometida com o
rentismo, o capital estrangeiro e o capital privado. É uma agenda vocacionada
para reduzir o custo do país, congelando os investimentos sociais e promovendo
o desmonte do Estado nacional e desconstruir tudo o que melhorou a vida do
povo. Os números do IBGE comprovam isso. O Brasil caminha para um colapso.”
O presidente da CTB criticou a reforma trabalhista: “A
reforma é um fracasso porque se era para modernizar o que criou foi a
precarização do trabalho, o que dificulta a produtividade. Por tabela dificulta
a retomada do crescimento. A insegurança jurídica que motivou a reforma
penalizou mais ainda o trabalhador que perdeu o direito de acessar a Justiça do
Trabalho porque se perder a ação tem que pagar as custas. É uma catástrofe”.
O dirigente lembrou que os mais frágeis tem sido os mais
penalizados pelo golpe de 2016. “Aumentam as desigualdades regionais porque o
ônus dessa política afeta os trabalhadores dos estados que mais precisam como
os da região norte e nordeste (a pesquisa mostra que a maioria que desistiu de
procurar emprego é do nordeste). Penaliza a expectativa de um futuro melhor para
o povo em geral e mais ainda para a população negra, a juventude e as mulheres.
As estatísticas mostram que o golpe mudou a rota de ascensão social do
trabalhador, do povo brasileiro que se iniciou no governo Lula e se viu por
mais de uma década.”
De acordo com o IBGE, o desemprego entre a população que se
declara branca ficou em 10,5% no 1º trimestre. Esse número é abaixo da média
nacional (13,1%). Por outro lado, entre os negros a taxa é de 16,0% e a dos
pardos 15,1%, ambas acima da média nacional. O desemprego também atinge mais as
mulheres do que os homens. A taxa de desocupação no 1º trimestre foi de 11,6%
para homens e de 15% para mulheres. Quando se fala em taxa de ocupação os
números se invertem: o nível da ocupação dos homens no 1º trimestre foi de
63,6% e o das mulheres, em 44,5%.
Política de desenvolvimento
“É um absurdo prometeram um paraíso e a ponte para o futuro
se tornou a ponte para o atraso. O Brasil está retrocedendo nos índices sociais
e o emprego que é o principal motivo para ter esperança fica cada vez mais
longe. Todas as políticas implementadas pelo atual governo vieram trazer
desemprego, recessão e uma falsa propaganda que o Brasil iria melhorar mas o
dia a dia está mostrando pra gente que não”, afirmou Miguel Torres, presidente
do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e vice-presidente
da Força Sindical.
Na opinião dele o Brasil precisa de um plano que respeite as
particularidades regionais e priorize o desenvolvimento, a qualificação e a
busca de tecnologia. “Todo e qualquer país que é desenvolvido aplica isso na
política. O que estamos fazendo é diminuindo o peso da indústria na economia e
aumentando o desemprego e importando produtos que poderiam ser produzidos
aqui”, criticou.
Segundo Miguel, o país precisa de uma política emergencial
para fortalecer a indústria, que promova a qualificação do trabalhador e
fortaleça o mercado interno. “E pensando de forma mais pragmática, a reforma
trabalhista tem que ser revogada porque não fez nada do que prometeu. Ao
contrário, gerou precarização, insegurança jurídica e promoveu desemprego”,
finalizou.
Via – Portal Vermelho
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