Presidenta do STF ressuscita mandado de 1997 para votar
possibilidade de congresso instaurar o sistema rejeitado pelo povo há 25 anos.
Um mandado de segurança do ex-ministro Jaques Wagner de
quando era deputado, em 1997, foi ressuscitado pela presidenta do Supremo
Tribunal Federal, ministra Carmen Lúcia, e pode abrir caminho para que o
parlamentarismo seja instaurado no Brasil sem ouvir o povo, ou seja, sem fazer
um plebiscito.
Na época, Wagner questionava a decisão da Câmara de liberar
a tramitação de uma PEC que permitia a adoção do sistema parlamentarista sem
fazer consulta popular, tendo apenas que ser aprovada pelo Congresso. Após
tanto tempo, o mandado será analisado pelo STF no próximo dia 20 de junho. Se a
maioria dos ministros decidir que o sistema pode ser mudado por uma emenda, não
será mais preciso ouvir a população.
Em 1993, quatro anos antes da ação do petista no Supremo, o
parlamentarismo havia sido rejeitado pela maioria dos brasileiros em um
plebiscito: apenas 24,6% dos brasileiros votaram em favor do sistema, contra
55,4% que optaram pelo presidencialismo.
O mais estranho é que, nas notícias que circularam sobre a
ação, Jaques Wagner aparece como autor da proposta para que mude o sistema e
não de um mandado de segurança contra a implantação do parlamentarismo sem
referendo. No twitter, o pré-candidato ao Senado pela Bahia protestou e
reafirmou ser favorável ao presidencialismo.
Mudar o sistema para impedir um presidente de esquerda de
governar é um truque que tem antecedente histórico. Em 1961, o sistema
parlamentarista foi imposto pelos militares para tirar o poder das mãos de João
Goulart, após assumir o cargo de presidente, com a renúncia de Jânio Quadros.
Em 1963, porém, foi feito um plebiscito e o presidencialismo venceu por uma
margem folgadíssima: 82% a 18%. No ano seguinte, viria o golpe militar.
Colocar em pauta a possibilidade de mudar o sistema de
governo neste momento causa estranheza, mas o tema já vem sendo cogitado há
tempos pelos golpistas. O próprio Michel Temer afirmou repetidas vezes ser
favorável ao parlamentarismo. Em agosto do ano passado disse inclusive estar
disposto a “testar” um sistema “semipresidencial” em seu último ano de mandato,
que é justamente agora. “Eu tenho muita simpatia pelo parlamentarismo. Se
pudesse, em 2018 seria ótimo”, afirmou.
Mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deu sinal oposto e
defendeu que o povo fosse ouvido novamente, se for o caso. “Muitos políticos
defendem que o parlamentarismo já foi derrotado. Nós tivemos uma Constituinte
que gerou um plebiscito. Acho que se tiver que ter maioria no Congresso para
voltar a discutir esse tema a gente deveria ouvir a sociedade”, disse Maia em
agosto de 2017.
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