domingo, 27 de maio de 2018

É a periferia na academia: para passar na Unicamp agora tem que ouvir Racionais

A universidade pública colocou o quinto álbum do grupo, Sobrevivendo no Inferno, na lista de obras obrigatórias para o vestibular 2020.


“É a periferia na academia”. Assim o grupo de rap Racionais MCs reagiu no instagram à notícia de que a Unicamp, uma das universidades mais conceituadas do país, colocou seu quinto álbum, Sobrevivendo no Inferno, na lista de obras obrigatórias para o vestibular 2020. Lançado de forma independente em 1997, o álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias.

A cada ano, a Unicamp renova parcialmente as 12 obras em língua portuguesa cuja leitura é obrigatória para os candidatos ao vestibular, para possibilitar o planejamento do professor e, ao mesmo tempo, acompanhar a renovação dos jovens que querem entrar para a universidade. A lista para o Vestibular 2020 apresenta três obras novas em relação à anterior: além do álbum dos Racionais, entraram na seleção A Falência, de Júlia Lopes de Almeida, e A Cabra Vadia, de Nelson Rodrigues.

Os Racionais estarão na boa companhia de nomes consagrados da literatura, como Guimarães Rosa (Sagarana), Machado de Assis (O Espelho), Dias Gomes (O Bem Amado), Carolina Maria de Jesus (Quarto de Despejo), José Saramago (História do Cerco de Lisboa) e Ana Cristina César (A Teus Pés). É importante destacar que essa lista não é a mesma para o Vestibular Unicamp 2019, que ocorre ainda este ano, e cujas obras já foram divulgadas anteriormente. Ambas as listas podem ser consultadas aqui.

O álbum Sobrevivendo no Inferno, que pode ser escutado no spotify ou no youtube, traz sucessos como o Diário de Um Detento, sobre o massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 presidiários foram assassinados pela polícia paulista, sob o comando do governador Luiz Antônio Fleury. Após ser condenado em 2001 a 623 anos pelo massacre, o comandante da ação, coronel Ubiratan Guimarães, foi absolvido em 2006 e em seguida assassinado em circunstâncias até hoje não esclarecidas.

Em abril do ano passado, o TJ de São Paulo determinou que o julgamento dos 74 policiais que atuaram no massacre e condenados em 2014 terá que ser refeito, acatando a alegação da defesa de que foi “legítima defesa”, embora os únicos com armas de fogo fossem os PMs.


Saca só estes trechos se não é pura literatura:

“O ser humano é descartável no Brasil
Como modess usado ou bombril
Cadeia? Guarda o que o sistema não quis
Esconde o que a novela não diz”

“O Robocop do governo é frio, não sente pena
Só ódio e ri como a hiena
Ratatatá, Fleury e sua gangue
vão nadar numa piscina de sangue
Mas quem vai acreditar no meu depoimento?”

Com informações da assessoria da Unicamp

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