sábado, 5 de maio de 2018

Frida Kahlo vira Barbie, mas a Mattel esconde que ela era comunista

Fabricante de bonecas incluiu a artista mexicana como "modelo a seguir" para criancinhas, mas fez questão de omitir seu ativismo político.


Por Cynara Menezes

A boneca Barbie, sucesso entre as crianças há 58 anos e odiada pelas feministas por ser fútil e ter um corpo bulímico, inatingível, vem mudando nos últimos anos. Agora tem Barbie para todos os gostos: negra, oriental, muçulmana, morena, com cabelos cacheados, crespos… Até uma Barbie baixinha e gordinha (ou melhor, “curvilínea”) já inventaram. O que o mercado não faz em busca de novos consumidores?

A novidade agora são as Barbies “inspiradoras”, modelos para as meninas do século 21. Aproveitando o gancho do Dia Internacional da Mulher, a Mattel acaba de lançar a campanha #MoreRoleModels, com bonecas criadas à imagem e semelhança de mulheres que fizeram história, ontem e hoje. Tem a campeã de snowboard norte-americana de origem coreana Chloe Kim, tem a diretora de Mulher Maravilha, Patty Jenkins, a boxeadora britânica Nicola Adams Obe, a aviadora Amelia Earhart, a chef francesa Hélène Darroze e a matemática afro-americana Katherine Johnson, que trabalhou na NASA durante os primeiros anos da “corrida espacial”.

E tem… Frida Kahlo. A artista mexicana está vestida com seu traje tradicional de Oaxaca, o arranjo de flores no cabelo e o xale no ombro. As sobrancelhas cerradas também estão lá. Só não há sinal do buço característico da pintora. A Mattel também fez questão de omitir o histórico político de Frida, que não só foi comunista a vida toda como morreu admirando o líder soviético Josef Stalin, quando muita gente boa na esquerda já o tinha abandonado.


“Artista, ativista e ícone feminista, Frida Kahlo continua a ser um símbolo de força, originalidade e paixão. Ultrapassando obstáculos para seguir seu sonho de ser pintora, Frida perseverou e ganhou reconhecimento por seu estilo único. Com sua paleta vibrante e uma mistura de realismo e fantasia, ela abordou importantes temas como identidade, classe e raça, fazendo sua voz ser ouvida. Sua extraordinária vida e arte continua a influenciar e inspirar outros a seguir seus sonhos e pintar suas próprias realidades”, diz o texto de divulgação, em inglês. Nem uma palavrinha sobre o ativismo político que norteou a vida da pintora.

Não deixa de ser bacana que Frida Kahlo, uma mulher admirável sob todos os aspectos, vire modelo para criancinhas no lugar de loiras aguadas, sem personalidade. O lado ruim é ver um ícone comunista mais uma vez sendo explorado pelo capitalismo para ganhar dinheiro. Frida odiaria.

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